OPINIÃO
Editorial: Internação de drogados
Por Da Redação
Há hoje no Brasil, afirma o médico Drauzio Varella, "uma quantidade inaceitável" de drogados, muitos em estágios extremos e risco de vida, atirados às sarjetas, escorados em paredes, a brotar quais sombrios cogumelos em áreas degradadas.
O que é melhor? Ignorá-los, apressando-lhes a finitude, ou interná-los mesmo à força, para tratamento? Estas perguntas sinalizam uma polêmica inútil, e quiçá "ridícula", conforme a definiu o médico. Armas políticas e ideológicas são terçadas na controvérsia oriunda da luta partidária.
O confronto acentuou-se quando o governo de São Paulo adotou a internação forçada. Se não é medida ideal, tem a vantagem de prover terapias, de ser atitude mais humana do que o abandono a título de respeitar direitos humanos. Varella indaga que dignidade uma grávida viciada em drogas pode ter na cracolândia.
Vai mais longe: tivesse ele uma filha em tais condições e a tiraria das ruas, ainda que em camisa de força. Assim pensam muitos médicos que tratam de viciados. Há ocasiões em que faltam às vítimas condições de decidir sobre a própria vida. Fechar os olhos atestaria a tirania de preconceitos, se não de hipocrisia.
Salvador ainda não se dispôs a debater e instituir políticas de saúde nesta área, apesar do aumento de viciados iniciais e crônicos, em geral jovens. O flagelo reboa e os opositores da internação citam o livre arbítrio e propósitos violentos de "limpeza".
Perde-se tempo precioso quando se faz imperiosa uma política nacional de saúde, a partir de políticas locais com as suas peculiaridades. Cada cidade requer estruturas próprias de atendimento, assegura Varella, do alto de sua experiência de cancerologista e grande conhecedor de dependência química.
O tempo perdido abrange outros campos dessa batalha. São poucas as campanhas educacionais, crianças são expostas cedo ao vício, excluídas da informação de ser o crack uma forma reincidente de obter recompensa fugaz e traiçoeira.
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