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OPINIÃO

Iemanjá negra

Por Gildeci de Oliveira Leite | Escritor e professor da Uneb, doutorando em Difusão do Conhecimento/Ufba | [email protected]

02/02/2015 - 7:00 h | Atualizada em 19/11/2021 - 6:37

Iemanjá é a orixá mais popular do Brasil. Em Copacabana e em praias de todo o país ela é lembrada ao menos uma vez ao ano, quem sabe mais por conta dos festejos do Réveillon. No Rio Vermelho, em sua festa, diversos arquétipos da mãe dos homens, das mulheres e dos peixes são exibidos e incorporados. A incorporação da qual falo refere-se a representações artísticas e/ou litúrgicas respeitosas à maneira de cada um. Mentalizem a imagem de Iemanjá que é vendida, digo trocada, nas barracas da Feira de São Joaquim, que é a mesma, aproximadamente, exibida em frente à casa da mãe no Rio Vermelho, às vezes como sereia, outras como mulher. Encontrei diversas daquelas no 2 de fevereiro de 2013. Algumas mulheres me impressionaram com a semelhança à Iemanjá branca. Vestidas de azul, longos cabelos lisos ou alisados desfilavam no Rio Vermelho como a dizer "eu sou a filha legítima de Iemanjá, rainha das águas e mãe dos peixes e dos homens".

Vi muitas homenagens como estas, acredito que bem recebidas pela mãe, cabe a ela julgar. Em uma delas, uma mulher jovem era ladeada por duas crianças, igualmente vestidas e desfilando pela festa. Havia também as Iemanjás transgêneros: travestis perfeitamente trajados como as demais Iemanjás. Não vou discutir a cor da pele de Iemanjá, acho que todo mundo já sabe qual é. Mas preciso registrar minha lembrança de dois anos atrás, quando eu andava olhando as barracas dos caboclos à beira-mar, passeando na orla da fila dos presentes e vi carregada pelo professor e historiador Juvenal e sua família uma Iemanjá negra. Que Iemanjá linda! Tive que tirar fotos. Para aquela estatueta, abriam-se alas em pétalas de rosas. Eu ficaria triste se saísse da festa e não visse uma representação negra da orixá.

A verdade é que nós não conhecemos o rosto da deusa. Aos súditos e meros mortais não é dado o direito de ver o rosto da realeza sagrada, as deidades podem abrir exceções, entretanto a cor da pele todo mundo sabe qual é: negra. Não quero polemizar com quem tão bem-intencionadamente pinta Iemanjá branca. Seria um exagero imaginar que parte de sua grande popularidade deve-se ao arquétipo branco exibido aos olhos de quem prefere achar o mundo somente branco mais bonito? O fato é que Iemanjá é mais poderosa do que as armadilhas do estereótipo. Se a atração pela estética branca é o portal de entrada ao mundo dos orixás, o fiel e a fiel que rende homenagens aos espíritos negros devem perceber que o abraço, o cheiro, o sentimento e todo axé são negros. Já vi em outras oportunidades representações negras de Iemanjá, também de Oxum, por vezes pintada como uma sereia loura, provavelmente alusão ao seu metal, o ouro e à sua cor o amarelo. Contudo, as imagens negras aparecem em espaços de crítica à imposições de estéticas somente brancas, como galerias de arte, e pouco habitam os comércios populares da Cidade da Baía de Todos-os-Santos.

É passada a hora de enegrecer o nosso pensamento, respeitando toda diversidade. A minha Iemanjá é preta, preta como a cor da noite. Toda Iemanjá é assim, algumas são pintadas de formas diversas. No fundamento de suas aparições e no awò (segredo) de sua liturgia ela é negra e não nega sua cor a ninguém. Odoiá!

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