EDITORIAL
Insulina não é chiclete
Confira o Editorial do Jornal A TARDE
Por Editorial
Não se pode submeter à lógica de mercado a aquisição de medicamentos sem os quais o doente morre. O exemplo de hoje é o da insulina, sabendo-se a necessidade dos portadores de diabetes de injetarem o hormônio produzido artificialmente como única forma de equilibrar as taxas de glicemia. Tomando como certas estas proposições, age bem o Sistema Único de Saúde quando provê suas geladeiras do “santo remédio” para o doente crônico e invariavelmente à beira do desespero.
O investimento de R$ 1 bilhão, ampliando os lotes de 55 milhões de unidades em 2024, não combina com trâmites burocráticos, saudáveis de um ponto de vista da moralidade contábil, mas o organismo de um pâncreas falido cumpre sentença de morte, em caso de demora. A saída de tentar adaptar-se às marcas oferecidas no serviço público é a última chance em um país onde 65 entre 100 habitantes desenvolveram tipo 2.
Por outro viés, o Estado pode contribuir verificando se há alguma razão para formar crença na mecânica de lucro, permitindo protagonismo aos fabricantes. Ocorre, por evidência, a distinção das mercadorias: insulina não é chiclete de bola, no entanto, a poção inventada há 100 anos é regulada como um produto qualquer. Some a mercadoria, se o preço não traz beneficio para o investidor.
Busca ativa de portadores; conscientização de populações e gestores de municípios do interior nos quais o açúcar branco adoça previamente todo e qualquer bule de café; mutirões ou rotinas visando diagnósticos; são muitas as possibilidades de tentar reduzir dor e sofrimento. Todos os dias circulam histórias de quem vai a óbito ou sofre sequelas de amputação, cegueira, infarto, acrescidos de resmungos, dando conta da temida “disfunção”.
Tanto é insuficiente a “feira livre dos remédios”, como instância autorreguladora, a ponto de arcarem pacientes com a desistência súbita de fornecedora ao qual o corpo está acostumado, ao partir para a substituição emergencial, resultando em ameaça de graves danos até a extinção do insulinodependente.
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