“Muitas mulheres negras sentem que em suas vidas existe pouco ou nenhum amor” | A TARDE
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“Muitas mulheres negras sentem que em suas vidas existe pouco ou nenhum amor”

Publicado sexta-feira, 12 de junho de 2020 às 19:17 h | Atualizado em 21/01/2021, 00:00 | Autor: Ashley Malia*
bell hooks é autora do texto Vivendo de Amor | Foto: Divulgação
bell hooks é autora do texto Vivendo de Amor | Foto: Divulgação -

Na maioria das vezes, falar de amor entre a comunidade negra é sinônimo de dor, pensar sobre isso é revisitar sentimentos de solidão, preterimento e, em muitos momentos, culpa. Felizmente estamos dando alguns passos à frente em relação a essa temática tão complexa, é lindo ver que alguns de nós estamos sendo amados, mas são realidades tão caras que diversas são as vezes em que uma foto de casal preto viraliza com pessoas comentando que é um sonho inalcançável.

Já li Vivendo de Amor, de bell hooks, diversas vezes e a cada leitura é uma correlação diferente com a nossa realidade. Ontem me lancei o desafio de falar sobre o amor, pois mesmo sendo extremamente sentimental sempre foi um assunto que me deu calafrios. Quando questionei sobre como os meus seguidores do Twitter lidavam com o sentimento, as respostas vieram carregadas de dor, culpa (no caso das mulheres negras) e sensação de fraqueza (no caso dos homens negros).

Como bell hooks diz em seu texto, “essa realidade é tão dolorosa que as mulheres negras raramente falam abertamente sobre isso”. É preciso entender que preterir e ser preterido é uma experiência histórica para pessoas negras. Conforme a autora, as dores da opressão e exploração distorcem a nossa capacidade de amar, pois entre nós a negação do sentimento significou, por muito tempo, fortaleza, e é por isso que nos sentimos fracos e vulneráveis ao demonstrar sentimentos.

Muitas mulheres negras sentem que em suas vidas existe pouco ou nenhum amor. Essa é uma de nossas verdades privadas que raramente é discutida em público. Essa realidade é tão dolorosa que as mulheres negras raramente falam abertamente sobre isso”

Se entre os nossos amar significa sofrer, a negação do amor vem como forma de autoproteção. A repressão do amor torna-se, simplesmente, uma prática de sobrevivência. Mas precisamos romper com essa lógica, pois é notório o quanto a ausência de amor tem nos deixado cansados e solitários. Entre nós, o amor é um privilégio, mas admitir que também necessitamos vivenciar essa experiência é o primeiro passo para entender que é um sentimento que nos liberta. E liberta, inclusive, do auto-ódio, já que quando deixamos de machucar a imagem que vemos no espelho e nos abrimos para o autoamor, conseguimos assimilar a imagem do outro enquanto dignas de amor também.

Segundo bell hooks, “as mulheres negras que escolhem praticar a arte e o ato de amar, devem dedicar tempo e energia expressando seu amor para outras pessoas negras”. Quando nós desistimos do amor, passamos a duvidar da sua existência e é daí que surgem sentimentos de dúvida e insegurança sobre ser amada. Não foram poucos os relatos que recebi de mulheres negras que não se sentem merecedoras de amor e, por isso, duvidam daqueles que as amam, ou se culpam por não saber lidar com as próprias subjetividades.

Enquanto mulher negra extremamente sentimental e uma daquelas que amam demais, acredito que o amor cura quando passamos a aceita-lo e nos despimos do peso diário de ser aquela que está sempre pronta para se doar. Afinal, o amor é uma troca e ser amado, para nós pessoas negras, é também uma necessidade.

*Ashley Malia é jornalista, repórter de A TARDE e escreve sobre comportamento nas redes sociais

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