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OPINIÃO

Vitória dos ancestrais

Confira o Editorial do Jornal A TARDE

Por Editorial

22/10/2024 - 0:00 h
Festa do Rosários dos Pretos é registrada como Patrimônio Cultural Imaterial da Bahia
Festa do Rosários dos Pretos é registrada como Patrimônio Cultural Imaterial da Bahia -

Toda iniciativa visando reduzir a dívida dos invasores das terras comunais brasileiras precisa ser louvada, pois aproxima um pouco mais do ajuste necessário, embora o acúmulo de quatro séculos não seja fácil de ser enfrentado, em desafio aceito também em âmbito simbólico, motivando comemorações pelo reconhecimento da reparação.

A mais nova vitória da justiça proporcional é a outorga do título de Patrimônio Cultural Imaterial da Bahia para a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em mais uma manifestação de sabedorias estratégicas do povo diaspórico, ao misturar suas crenças com as dos católicos europeus, favorecendo a sobrevivência diante da violência extrema dos corsários.

A Irmandade do Rosário, criada para acudir escravizados diante de condições adversas para a sobrevivência, chegando até o fim da vida, quando os corpos expostos ao martírio não tinham como serem sepultados, resultando na união dos pretos a fim de dar um funeral digno aos seus, pois se dependesse dos senhores poderiam virar pasto para animais selvagens.

O decreto foi assinado pelo governador Jerônimo Rodrigues, entregando o mandatário tupinambá o certificado aos representantes da ordem religiosa, cabendo a proposta da fé, como última saída possível para evitar o desespero humano, como efeito da consciência de finitude, e sua imediata sombra, a angústia por causa do vácuo, cujo desdobramento é atenuado pela religião.

A concessão fortalece os valores da solidariedade e resiliência, tendo sido a igreja construída no século XVIII, com a força dos afrobaianos, uma edificação admirável, joia rara do Centro Histórico de Salvador, na Ladeira do Pelourinho, patrimônio mundial referendado pelas Nações Unidas.

Representa ainda a iniciativa governamental, a reverência do Estado – principal instituição de poder – ao esforço dos cativos, ao erguerem a bela estrutura, em tempos nos quais, devido às dificuldades de material de construção e equipamentos, pode-se considerar uma façanha a ereção da hermida.

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