BAHIA
Eleitores pragmáticos
Eleição de 2024 deve ser acompanhada com atenção, considerando o comportamento pragmático do eleitorado de Salvador
Por *Cláudio André de Souza | [email protected]
A eleição de 2024 deve ser acompanhada com atenção, considerando o comportamento pragmático do eleitorado de Salvador (BA), um movimento consolidado nos últimos dez anos. A disputa ao governo baiano em 2014 resultou numa vitória apertada de Rui Costa (PT), que obteve 42,05% dos votos na capital, praticamente empatado com o ex-governador Paulo Souto (DEM), apoiado pelo então prefeito ACM Neto, que recebeu 41,20% dos votos válidos.
Na eleição seguinte, os votos em Rui migraram para ACM Neto, reeleito no primeiro turno com 73,99% dos votos válidos. Naquela ocasião, o PT abriu mão da cabeça de chapa para a deputada federal Alice Portugal (PCdoB), que obteve 14,55% dos votos. Ela foi apenas uma das candidatas apoiadas por Rui Costa, que fragmentou seu apoio para a deputada, o Pastor Sargento Isidório (PDT) e Claudio Silva (PP).
Dois anos depois, a lógica do “voto pragmático” dos soteropolitanos favoreceu a reeleição de Rui Costa na eleição de 2018, com 72,23% dos votos válidos, um percentual muito próximo ao que reelegeu ACM Neto. Nesse cenário, ACM Neto planejava se candidatar ao governo do estado, mas, na última hora, decidiu não renunciar à prefeitura. A candidatura foi então assumida pelo prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo (DEM), que teve um desempenho fraco em Salvador, com apenas 23,62% dos votos.
Ignorando a importância de antecipar sua estratégia política depois de uma vitória com larga vantagem, a base governista estadual se fragmentou de novo para a eleição de 2020, com quatro candidatos alinhados ao governador: Bacelar (Podemos), Major Denice (PT), Olívia Santana (PCdoB) e Pastor Sargento Isidório (Avante). Juntos, eles somaram 29,60% dos votos válidos. No entanto, a vitória de Bruno Reis (DEM) no primeiro turno, com 64,20% dos votos, reafirmou a força da liderança local. Dois anos depois, ACM Neto obteve uma votação similar na capital ao disputar o governo baiano.
Pesquisas indicam que a força de Bruno Reis está associada à boa avaliação de sua gestão e ao trabalho de base com vereadores e lideranças nos grandes bairros de Salvador, formando um “cinturão azul”. Vale destacar que, nas eleições de 2016 e 2020, a esquerda não venceu em nenhuma das 19 zonas eleitorais da capital.
Com um adversário bem avaliado que conquistou o eleitorado popular e lulista de Salvador, o campo governista estadual parece ter subestimado a necessidade de antecipar uma pré-campanha mais robusta e uma mobilização mais qualificada da sociedade civil. Em síntese, o favoritismo de Bruno Reis é a mais pura tradução de erros estratégicos e a falta de renovação das lideranças de oposição capazes de se concentrar em Salvador como sua principal base eleitoral. O que vai mudar após o resultado das urnas?
*Cláudio André de Souza é professor Adjunto de Ciência Política da Unilab e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB)
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