POLÍTICA
Denunciado pelo MPF, dono da Hypera não é citado em auditorias
Por Da redação

Apesar de ter sido formalmente denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF), em fevereiro deste ano, o fundador da Hypera Pharma (ex-Hypermarcas), João Alves de Queiroz Filho, não foi mencionado pelas duas auditorias independentes realizadas para identificar o tamanho do prejuízo causado pelo esquema de corrupção no qual a empresa foi envolvida. O resultado do trabalho foi divulgado na terça-feira, 26.
O documento produzido pelas auditorias informa que Queiroz Filho, no entanto, concordou em cobrir o prejuízo de R$ 110,5 milhões, “sem assunção de responsabilidade”. Ele fará o pagamento em quatro parcelas de R$ 27,5 milhões. Esse valor cobre os pagamentos realizados e que foram comprovadamente indevidos pela companhia, de acordo com o resultado das auditorias recém-concluídas.
João Alves de Queiroz Filho, conhecido como Júnior, foi denunciado com mais três executivos da empresa - Carlos Roberto Scorsi, Sílvio Tadeu Agostinho e Nelson José de Mello. Eles são suspeitos de integrar um esquema que favorecia os interesses do grupo, no Senado, entre os anos de 2013 e 2015.
Em delação premiada, Nelson Mello, ex-diretor de Relações Institucionais, contou que pagava propina a senadores do MDB por meio do lobista Milton Lyra. Entre outras coisas, Nelson Mello confessou ter repassado dinheiro ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), para a campanha eleitoral de 2014. Num dos depoimentos da delação, ele contou que fez vários pagamentos, via caixa dois, para a campanha de Eunício — que à época disputava as eleições para o governo do Ceará — a partir de contratos fictícios.

Os contratos teriam sido assinados com três empresas: Confirma Comunicação e Estratégia, Campos Centro de Estudos e Pesquisa de Opinião e Confederal Prestadora de Serviços de Vigilância e transporte de Valores. As negociações para os repasses teriam passado pelo lobista Milton Lyra, e por Ricardo Lopes, sobrinho do presidente do Senado.
Mello se comprometeu a ressarcir os cofres da empresa em R$ 33,1 milhões. Mas, após a delação do executivo, a Procuradoria Geral da República (PGR) descobriu que ele havia omitido outros pagamentos e nomes de participantes do esquema. Isso até que, num acordo realizado pelo comitê tripartite (formado por um membro independente do conselho de administração, membro do comitê de auditoria e do conselho fiscal), foi aprovado o pagamento pelo principal acionista e fundador da companhia.
João Alves de Queirós Filho tentou, ele mesmo, fazer um acordo de delação premiada e, para isso, contratou como advogado o ex-procurador-geral da República (PGR), Antônio Fernando de Souza. Apesar de sua tentativa, as conversas não avançaram. À época, o ex-procurador Fernando de Siuza também fez a defesa do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), condenado por receber propina do esquema investigado pela Operação Lava Jato.
Império bilionário
Júnior é goiano e dono de algumas das marcas mais consumidas no país - da lã de aço Assolan ao calmante Maracugina, passando pelo Merthiolate aos hidratantes Monange e ao adoçante Zero-Cal.
O império, avaliado em mais de R$ 2,5 bilhões, teve origem na Hypermarcas, empresa que começou com a distribuidora de Sal Cometa, fundada pelo pai dele, em 1969. Da distribuidora, nasceria a Arisco, cuja receita do tempero (à base de sal, pimenta-do-reino, alho e cebolinha) foi dada à família Queiroz em pagamento de uma dívida nos anos 1970.

A marca despertou o interesse da Best Foods - então dona das Refinações de Milho Brasil e incorporada à Unilever -, que a comprou em 2000 por US$ 490 milhões. Em 2002, o empresário recomprou a Prátika Industrial, dona da até então desconhecida Assolan, que pertencia à Arisco. Estima-se que a Assolan tenha 30% do segmento que já foi hegemonia da Bombril.
Em 2007, Junior comprou a DM Farmacêutica, por cerca de US$ 750 milhões, operação que resultou na atual expressiva atuação no segmento de medicamentos OTC (over the counter, ou "sobre a bancada", isentos de prescrição médica).
A carteira de negócios de Queiroz Filho inclui ainda o segmento de mídia - no qual detém o grupo de rádio e TV goiano Serra Dourada. Ele também é acionista do UOL e comprou quatro retransmissoras do SBT no Paraná - e de construção civil, por meio da incorporadora de imóveis Bramex.
Em 2010, a Hypermarcas adquiriu a empresa de fraldas de baixo custo Sapeka, ano em que a economia brasileira cresceu 7,5% e quando se esperava um forte crescimento do mercado nordestino. O negócio somou R$ 225 milhões. Em 2011, a empresa começou a se desfazer de marcas de limpeza, mas o maior movimento, porém, ocorreu entre 2015 e 2016, com as vendas das marcas de higiene e beleza e da própria Sapeka.
Último trimestre
Dados preocupantes, no entanto, rondam o império. No primeiro trimestre de 2020, a Hypera registrou um lucro líquido de R$ 238,2 milhões. Mas esse valor é equivalente a uma queda de 26% em comparação com o mesmo período no ano anterior, quando havia registrado lucro de R$ 321,2 milhões.
A receita da Hypera no trimestre ficou em R$ 815 milhões, alta de 112,5% em comparação com os primeiros três meses de 2019, quando havia totalizado R$ 383,6 milhões. Por sua vez, as “outras receitas operacionais” registraram recuo de 93,6%.
As despesas operacionais totalizaram R$ 324,7 milhões, destaque para despesas com vendas e com frete e logística devido ao aumento no volume investido para acelerar a produção de novos produtos. O Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) registrou queda de 39,2%, para R$ 235,3 milhões. O Ebtida ajustado da Hypera recuou 38%, para R$ 248,7 milhões.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes