Entidades e movimentos negros unem forças contra prefeito Bruno Reis | A TARDE
Atarde > Política

Entidades e movimentos negros unem forças contra prefeito Bruno Reis

Gestor da capital baiana não sancionou lei que proíbe denominação 'Elevador de Serviço' e 'Elevador Social'

Publicado terça-feira, 20 de setembro de 2022 às 16:40 h | Atualizado em 20/09/2022, 16:45 | Autor: Da Redação
A publicação da decisão do prefeito foi divulgada no Diário Oficial da última sexta-feira, 16. O PL havia sido aprovado em 23 de março, pela Câmara Municipal de Salvador.
A publicação da decisão do prefeito foi divulgada no Diário Oficial da última sexta-feira, 16. O PL havia sido aprovado em 23 de março, pela Câmara Municipal de Salvador. -

Diversos representantes de entidades e movimentos negros de Salvador manifestaram insatisfação após o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil) , não aprovar o projeto de lei (PL) 27/2021, que proíbe o uso das denominações 'Elevador social' e 'Elevador de serviço', na capital baiana.

A publicação da decisão do prefeito foi divulgada no Diário Oficial da última sexta-feira, 16. O PL havia sido aprovado em 23 de março, pela Câmara Municipal de Salvador, durante a 7ª Sessão Ordinária.

De autoria do vereador Henrique Carballal (PDT), o projeto pretendia evitar qualquer forma de discriminação no acesso aos elevadores de todos os edifícios, em virtude de raça, sexo, cor, origem, condição social, idade, relação empregatícia, presença de deficiência ou doença não contagiosa.

Com a nova legislação, todas as pessoas entrariam nos elevadores existentes e disponíveis. Apenas em casos de transporte de grandes cargas ou materiais de obras, um elevador específico seria utilizado para essa finalidade, sendo identificado como “Elevador de Cargas”.

Para o vereador a ação do prefeito não atende a população, representando apenas uma reação partidária, em virtude do momento político atual. “O neguinho da Graça e o pivete do Calabar são racistas. Eles fazem esse discurso para enganar os pobres. Neto diz que é neguinho da Graça para receber mais recurso do fundo eleitoral, ou seja, uma demonstração inequívoca de fraude, provando que ele faz qualquer coisa para ficar bem.

Mas que na hora da luta para garantir uma sociedade igual, na hora de defender efetivamente medidas que o Estado, através dos instrumentos legais, pode fazer para reparar as injustiças que diariamente o povo negro vem sendo submetido, eles agem desta forma. A negação da sanção por parte de Bruno Reis, por mando de ACM Neto, é uma demonstração do racismo institucional, o qual eles comandam. Então o neguinho da Graça e o pivete do Calabar mostraram na prática quem são”, disparou Carballal.

 O que dizem as entidades

O fundador e presidente do maior bloco afro do carnaval de Salvador, Vovô do Ilê, ressaltou que “a expressão ‘elevador de serviço’ é discriminatória, que as pessoas passam vexame por não terem acesso ao elevador social”. Ele ainda lembrou que isso é algo que “só existe no Brasil”. “Não vejo nada igual fora do território brasileiro. Eu já assisti um episódio terrível no Rio de Janeiro ligado a esse fato, pois tinham dois negros no elevador denominado como social e uma senhora branca entrou e ficou nitidamente assusta com eles, ficou encolhida no canto, algo lamentável, as pessoas passam vergonha constantemente, são ofendidas, humilhadas, até os negros que não estão prestando serviço não são aprovados neste elevador”, pontuou Vovô do Ilê. 

Ao tomar conhecimento do veto por parte do prefeito de Salvador, o ex-vereador de Salvador e ativista do Movimento Negro Unificado – MNU, Moisés Rocha também manifestou indignação, “pensei que esse seria o fim do malfadado termo `elevador de serviço´, palco de tantas cenas de racismo discriminação e preconceito. Lamentável decisão do prefeito. Veio à memória uma música do grande sambista Jorge Aragão, chamada Identidade, `elevador é quase um templo, exemplo pra minar teu sono, sai desse compromisso, não vá no de serviço, se o social tem dono ´. O nome da música não é algo do acaso, já que estamos em tempo de burgueses brancos que se declaram pardos para auferir vantagens políticas e financeiras, que deveriam ser destinadas às ações reparatórias em benefício das vítimas das mazelas deixadas pelo escravismo, colonialismo e racismo que perduram até hoje no nosso País. Enfim, veto do prefeito Bruno ´ pivete do Calabar ´ Reis, que administra a cidade de  maior população negra do mundo fora da África”, desabafou Moisés Rocha. 

Já o líder estadual da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conden), Cristiano lima, considerou que “esse veto do prefeito Bruno Reis ao Projeto de Lei é uma defesa do seu privilégio de homem branco e rico, que não quer dividir o espaço do elevador com as pessoas que prestam serviços”.

O presidente do Fórum de Entidades Negras, Raimundo Bujão que também é bacharel em Filosofia e ativista do MNU, não pensa diferente e não poupou palavras, deixando um recado para a população da capital baiana.

“Quero dizer ao povo soteropolitano,  em especial a população negra desta cidade, que ao tomar conhecimento do veto do prefeito Bruno Reis ao PL aprovado pela Câmara Municipal de Salvador, que sepultaria a utilização do termo `elevador de serviço ´, fiquei bastante desapontado. Ficou explícita a não compreensão de Bruno em relação à discriminação reinante nesta cidade. Essa atitude, no mínimo, compactua com o sofrimento da maioria dos habitantes desta cidade que é considerada a Roma Negra da Diáspora Africana”, revelou Raimundo. 

Caso o PL fosse aprovado, os infratores poderiam pagar uma multa administrativa no valor de dez salários mínimos. “Eu espero que os vereadores da cidade mais negra do Brasil derrubem o veto, assim como fizeram com o veto do projeto de reajuste salarial dos agentes comunitários de saúde e de combate às endemias. Os vereadores que não decidirem impor essa derrota aos racistas, pagarão o preço pelo racismo, pois serão denunciados, assim como está acontecendo com os autodeclarados, neguinho da Graça e pivete do Calabar”, concluiu o vereador Henrique Carballal.

Publicações relacionadas