POLÍTICA
Invasão ao campus da Ufba resultou em multa de R$ 65
Por Valmar Hupsel Filho*
Os braços marcados por queimaduras e o tímpano estourado que lhe oferece apenas 20% de audição no ouvido esquerdo são lembranças de Henrique Baltazar do 16 de maio de 2001. Ele e pelo menos outras 18 pessoas ficaram feridas quando policiais militares, à revelia da lei, invadiram o prédio da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e agrediram estudantes e professores que protestavam pela cassação do então senador Antonio Carlos Magalhães.
O episódio, que completa 10 anos nesta segunda-feira, 16, virou símbolo da erosão de poder do carlismo na Bahia expressão cunhada pelo cientista político, Paulo Fábio Dantas. O processo judicial resultou em uma multa de R$ 65,15 aplicada ao coronel Walter Leite, comandante da operação.
Segundo Paulo Fábio, ACM já estava perdendo espaço político no País desde o início do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, mas, na Bahia, até então ele experimentava uma sensação de poder maior até que o poder efetivo que tinha. Aquele momento foi quando até os simpatizantes de ACM tomaram conhecimento das denúncias contra ele, disse.
Mas a queda do carlismo, selada antes mesmo da morte de ACM em 2007 e da eleição do petista Jaques Wagner ao governo do Estado em 2006, não significaram a inversão de uma polaridade vigente.
Ainda em 2001, as forças políticas na Bahia dividiam-se entre, de um lado, o grupo de Antonio Carlos que exercia influência também em outras instituições, como o Judiciário e nos tribunais de contas e, do outro, lideranças políticas de esquerda, capitaneadas pelo PT.
A geografia do poder no Estado se rearrumou de uma forma que hoje o vice-governador é Otto Alencar o mesmo que, há dez anos, era vice-governador do também ex-carlista César Borges. Cumpri meu ciclo no carlismo em 2004 disse, referindo-se à nomeação como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, indicado por ACM. Considero um erro de César Borges ter atendido ao senador ao dar a ordem de impedir o direito de ir e vir de estudantes em pleno regime democrático. Por meio de sua secretária, Borges mandou dizer que não iria comentar a invasão.
Tropa de Choque - Outra situação curiosa é o fato de o comandante-geral da Polícia Militar do governo Wagner ser o coronel Alfredo Castro. Em 16 de maio de 2001, ele, que era major, executou a ação do Batalhão de Choque do qual era comandante na Ufba e é flagrado, no documentário Choque, de Kau Rocha, agredindo um estudante. Procurada por A TARDE, a PM enviou nota na qual explica que o então major Alfredo Castro e sua tropa cumpriram as determinações do planejamento da ação policial.
Apenas o policial que comandou a invasão à Ufba, coronel Walter Leite, foi condenado pela Justiça Federal não pelas agressões, mas apenas por crime de menor poder ofensivo: cerceamento do poder de ir e vir. O valor da multa que foi obrigado a pagar ele nem lembra direito. Acho que foi de R$ 500, disse. A TARDE apurou que a multa foi de R$ 65,15, segundo o capitão Marcelo Pitta, chefe da comunicação social da PM.
Agenda - Os dez anos da invasão à Ufba serão lembrados durante todo o dia, amanhã, na Faculdade de Direito, com mesas-redondas, exposição de fotos e lançamento de livro. Para o cientista político e professor-doutor da Faculdade de Ciências Sociais da Ufba, Paulo Fábio Dantas, o episódio é exemplo prático da diferença de conceitos entre violência e poder. Os atos violentos daquele dia não revelam a consolidação do poder, mas uma manifestação de enfraquecimento dele.
* Colaborou Patrícia França
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