POLÍTICA
"Novo dicionário" aponta dissonância nas ruas e na rede
Por Davi Lemos

Nunca antes na história desse país a discussão entre direita e esquerda foi tão intensa e gerou tantos apelidos engraçadinhos ditos para ofender os oponentes ou "revelar quem realmente são". Mas, quase invariavelmente, os termos pensados para achincalhar terminam assumidos pelos alvos das ironias, das brincadeiras.
O caso clássico é a dicotomia "coxinha" e "petralha". Mas há outros termos usados pejorativamente, tais como "esquerdopata", "reaça", "militonto" e "olavete". Tem-se então o novo dicionário da disputa política e, em última instância, das manifestações que tomam as ruas em movimentos contra ou a favor da presidente Dilma Roussef (PT). É nas redes sociais que pululam "coxinhas" (identificados principalmente com os tucanos paulistas) e petralhas (termo surgido da união de petista com metralha, com referência aos Irmãos Metralha, da Disney).

Os petistas disseram as redes sociais, principalmente durante a campanha, que petralhas eram, dentre outras qualidades, pessoas críveis, justas e politizadas. Já os coxinhas, como visto nas manifestações do dia 15, são descritas como pessoas que gostam de trabalhar, pagam seus impostos e não querem ser roubados.
Analistas ouvidos por A TARDE ressaltam que as disputas atuais revelam uma quebra da hegemonia do pensamento de esquerda. "É uma situação nova no cenário político e cultural, pois havia uma unanimidade", disse o sociólogo e professor da Universidade Católica do Salvador (UCSal) Marcelo Couto Dias. "Embora houvesse diferença de tom nos discursos, não havia grandes divergências entre as várias vozes da esquerda", disse Couto Dias. Quanto aos apelidos, ele aponta que está é uma característica da política brasileira: "Em cidades do interior é comum ver apelidos jocosos criados contra adversários".

"O surgimento de apelidos como ´coxinha´ e ´petralha´ é um corolário desta divergência. Isto, na democracia, é muito saudável", disse o professor da UCSal. Couto Dias aponta ainda um desgaste das ideias de esquerda, que já não agrada a uma parcela da população que "quer ouvir coisas novas". O também sociólogo e professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS) José Rodorval Ramalho aponta também outro fator para o surgimento mais "corajoso" das direitas ou dos que defendem ideias de direita: a onda de indignação que toma conta do Brasil.

"O Brasil que trabalha, paga impostos, poupa, investe e cumpre a lei está descobrindo que não adianta cada um fazer a sua parte se no governo existe uma organização criminosa", aponta Ramalho. Na avaliação do professor, o PT segue uma linha ideológica que tem compromisso com a destruição dos pilares da civilização ocidental, que teria legado a "democracia participativa, o pluralismo cultural, a liberdade e mercado e que inventou o diálogo entre fé e razão".

Entretanto Ramalho não enxerga em partidos com PSDB e DEM - os preferidos os coxinhas - a alternativa buscada. Por isso, ele aponta uma tendência de os movimentos serem cada vez mais descolados das lideranças políticas tradicionais. Os especialistas apontam, entretanto, que a democracia pede a divergência. Daí ser normal ver mais e mais embates entre "reaças" e "militontos", entre a "elite branca" e a "esquerda caviar".
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