CIDADANIA
Batalhão especializado promove integração entre escolas e comunidades
Criado em maio, BPEsc realiza ações preventivas nos colégios e em seus entornos de todo o Estado
No pátio do Colégio Estadual Rotary, localizado no bairro de Itapuã, em Salvador, entre saudações e apertos de mão, centenas de alunos recepcionam guarnições do Batalhão de Policiamento Escolar (BPEsc), da Polícia Militar (PM). A presença da unidade na instituição de ensino é tão rotineira que os estudantes já veem como algo natural – e necessário.
Até abril, as ações da PM nas escolas e arredores, apesar de constantes, eram tratadas como operações, dentro do programa de “rondas escolares”. Foi a partir da criação do BPEsc, em maio, que elas viraram parte da rotina, com a missão de prevenir possíveis situações violentas nas escolas e, sobretudo, orientar os jovens sobre a importância da educação para a construção de uma vida em sociedade.
A criação do batalhão integra uma ampla reestruturação das forças de segurança, deflagrada no início deste ano. Com planejamento estratégico, o governo promoveu a criação de uma série de novos batalhões, departamentos, delegacias e coordenações. O início das operações do batalhão especializado também derivou para a maior estruturação do setor, com a aquisição de novas viaturas, e para o aumento do efetivo, para atender, de forma gradativa, demandas do ambiente escolar em todo o território da Bahia.
“A ação do batalhão escolar tem capilaridade em todo o Estado e a intenção é que façamos acompanhamento de todos os eventos que acontecem nas escolas”, conta o comandante da unidade, tenente-coronel Edmilton Ricardo dos Reis. “Com a criação do batalhão, estamos migrando para uma estrutura mais robusta que tende a atender toda a Bahia.”
Muito mais do que policiamento ostensivo realizado nos entornos das escolas, o Batalhão atua, principalmente, com ações preventivas, por meio de palestras e diálogos com alunos, familiares, diretores e professores. Com um perfil voltado para uma atuação mais comunitária, o BPEsc também é atento às questões que podem apresentar riscos à segurança dos alunos, por isso, atua contribuindo na identificação e orientação sobre fatores de vulnerabilidade.
Entretanto, de acordo com Reis, de todas as atividades desenvolvidas pelo Batalhão Escolar, a prevenção é, sem dúvida, a mais trabalhada. “Nossa atuação é mais voltada para a orientação estratégica comunitária”, destaca. “Não entramos na questão de enfrentamento, mas na busca de alternativas que visem à proximidade da ronda com a população.”
Abrangência
Na capital, a unidade atende cerca de 50 instituições de ensino. Apenas em setembro, o batalhão realizou 832 acompanhamentos, incluindo ações preventivas como reuniões e fiscalizações, mas também atendimentos de casos de mediações de conflito.
No Colégio Rotary, no qual estudam cerca de 3 mil alunos, a ronda é vista como grande parceira do corpo docente na orientação da camonidade escolar. “Todas as vezes que a gente precisa de apoio para tratar sobre orientações de prevenção da violência, a ronda se faz presente”, relata a professora e vice-presidente do colegiado, Marcia Gramacho. “Com essa parceria, a gente consegue desenvolver um trabalho muito bom entre ronda, colégio e comunidade. Mas aqui, o papel do batalhão é muito mais ligado a aconselhamento e orientação.”
A presença efetiva da escola e a permanência dos alunos nesses ambientes são vistas como fundamentais para o combate à criminalidade, já que a escola exerce papel fundamental para a formação humana e cidadã de uma pessoa. Para o historiador Dudu Ribeiro, cofundador da
Iniciativa Negra e coordenador executivo da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, a educação é um elemento capaz de prevenir que jovens e crianças escolham caminhos ilícitos. "É importante investir em vínculos com a comunidade e familiares para que os jovens encontrem na escola um lugar de ampliação de potências, de possibilidades de novos horizontes.”
Educação abre novas perspectivas para detentos
A compreensão que a educação é, de fato, aliada no combate à criminalidade levou as Secretarias da Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) e da Educação (SEC) a promover uma parceria para proporcionar aos internos do sistema carcerário novas perspectivas para a vida fora da prisão.
No Colégio Estadual Doutor Berlindo Mamede de Oliveira, da Colônia Penal de Simões Filho, internos estão se preparando para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA), que será realizado nos próximos dias 17 e 18, e para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), em novembro.
“Os programas educacionais podem ser um caminho importante para preparar os detentos para um retorno bem-sucedido à sociedade”, avalia a coordenadora pedagógica da unidade escolar, Valuza Santana. Dos 78 matriculados na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), 58 internos estão se preparando para o ENCCEJA e 24 para o ENEM, com a realização de simulados e a correção das provas junto com os alunos.
Outra parceria, esta com as Universidades Estadual (Uneb) e Federal (Ufba) da Bahia, estimula os internos a viajar pelo universo dos livros, por meio de projetos, como o “Livros para Voar”. “Muitos internos têm o primeiro contato com uma biblioteca na Colônia Penal”, afirma Valuza. “O acesso à leitura passa a ser um diferencial em suas vidas, proporcionando uma transformação, inclusive na autoestima deles, que se enchem de esperança para se reintegrarem na sociedade.”
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