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SALVADOR

Especialistas discutem desafios da seca e água potável no país

Bahia é um dos estados mais afetados pela seca

Por Gabriel Vintina

22/11/2024 - 6:40 h
Seminário é realizado na Biblioteca Central do Estado da Bahia, em Salvador
Seminário é realizado na Biblioteca Central do Estado da Bahia, em Salvador -

A crise hídrica e os impactos das mudanças climáticas estão no centro das discussões do III Encontro dos Comitês de Bacias Hidrográficas Baianos (ECOBA) e do III Encontro de Comitês de Alagoas, Bahia e Sergipe (ALBASE), realizados na Biblioteca Central do Estado da Bahia, em Salvador. O evento busca promover debates sobre a gestão sustentável da água, considerando perspectivas técnicas, culturais e humanitárias, e é realizado em um momento em que secas ameaçam diversas regiões do país.

“Esse encontro é uma oportunidade para trocarmos experiências entre os comitês de bacias dos três estados e debatermos os desafios de gerir recursos hídricos em meio às mudanças climáticas. Precisamos fortalecer a implementação de políticas que respondam às novas realidades climáticas e sociais”, destacou Larissa Caires, coordenadora de Recursos Hídricos da Secretaria do Meio Ambiente da Bahia.

Com o tema "A Utilização Multifacetada da Água: Explorando Diferentes Dimensões", o evento também aborda a importância da água na vida cultural e espiritual de comunidades indígenas, quilombolas e de religiões de matriz africana.

A Bahia é um dos estados mais afetados pela seca, situação que ameaça não apenas o abastecimento humano, mas também a agricultura e a biodiversidade local. Larissa ressaltou que a escassez de água exige ações estratégicas e urgentes.

“Em diversas localidades da Bahia e do Brasil, não há água suficiente para atender a todas as demandas. A alocação negociada é uma alternativa para evitar que conflitos se transformem em confrontos. É essencial garantir o acesso à água em quantidade e qualidade para todas as atividades”, afirmou.

Os desafios são complexos. De um lado, há a necessidade de assegurar o abastecimento para o consumo humano; de outro, há pressões do setor agrícola e industrial. Além disso, a má gestão de bacias hidrográficas e o desperdício de água agravam o problema, como destacou Valdeci Teixeira, conhecida como Mãe Val, conselheira estadual da Área de Preservação Ambiental da Bacia do Cobre.

“É revoltante ver tanta água desperdiçada enquanto comunidades sofrem. A água é vida, é sagrada. Aqui em Salvador, tivemos uma bacia que por 40 anos sustentou a cidade, e hoje poderia ajudar o Subúrbio Ferroviário a superar suas dificuldades. Mas falta compromisso em gerir esses recursos”, afirmou Mãe Val.

Mãe Val também enfatizou o papel da água nas religiões de matriz africana e no equilíbrio ambiental: “Na minha religião, a água é essencial para tudo: precisamos da água para regar as terras, as matas e os nossos alimentos. Nós respeitamos e cuidamos da água porque sabemos que ela é fundamental para a vida, tanto material quanto espiritual. Não há humanidade sem água”.

Representantes de comunidades tradicionais também trouxeram contribuições importantes ao debate. Cláudio Pereira, membro da comunidade quilombola do Rio São Francisco e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, destacou a relevância desses encontros para dar voz às populações diretamente impactadas pela crise hídrica.

“Esses espaços nos permitem mostrar como as comunidades quilombolas e indígenas podem contribuir para minimizar os impactos ambientais. Temos práticas de preservação ambiental que podem ajudar na conservação e no uso sustentável da água, e precisamos ser ouvidos nas decisões que afetam nossos territórios”, afirmou Cláudio.

Ele também destacou o papel das comunidades na manutenção do equilíbrio ambiental e na preservação das bacias hidrográficas: “A preservação da água está ligada à preservação de nossas culturas. Sem isso, perdemos não só os recursos naturais, mas também nossas histórias e identidades”.

Edvalda Pereira, fundadora da Assessoria e Gestão em Estudos da Natureza, Desenvolvimento Humano e Agroecologia (AGENDHA), reforçou que a crise hídrica exige respostas imediatas e eficazes.

“O ECOBA, principalmente nessa conjuntura nacional, onde a gente discute a importância da resiliência climática, ela se torna fundamental por trazer vários temas que são técnicos, que são científicos, mas também são humanitários, todos esses importantes para construir propostas de políticas públicas. Nós precisamos construir políticas públicas para as emergências climáticas”, afirmou Edvalda.

Ela ainda destacou a importância do evento para a pauta ambiental. “Nós temos uma crise climática e precisamos tratar de emergências climáticas. Então, um evento como esse possibilita essa reunião de pessoas de diversos saberes, de diversos povos aqui reunidos, e é essa junção de saberes e povos que pode construir uma proposta mais efetiva que o governo [...] todas essas instâncias, tanto governamentais quanto de controles sociais, se unem nessa emergência, isso é uma emergência e precisamos tratá-la com muita propriedade técnica, científica, mas também popular”.

Hoje, as discussões a respeito dos efeitos das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos, a gestão da água, a agricultura, o saneamento básico e os usos não construtivos, como turismo, lazer, pesca, navegação e geração de energia, continuam em pauta. Ainda na Biblioteca Central dos Barris, o evento apresentará mesas sobre esses temas, encerrando amanhã com uma roda de discussão, que promete aprofundar ainda mais o debate sobre a importância de soluções integradas e urgentes para a crise hídrica e seus impactos em diversas esferas da sociedade.

O ECOBA mostrou que a água não pode ser vista apenas como um recurso técnico. É um elemento essencial para o equilíbrio ambiental, a cultura e a espiritualidade. “A gestão da água precisa ser participativa e inclusiva. Não podemos ignorar as vozes das comunidades que mais dependem desses recursos e que já enfrentam os impactos da crise climática”, afirmou Cláudio.

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