SAÚDE
Cigarro é o principal fator de risco para o câncer de bexiga
Comumente associado ao câncer de pulmão, o cigarro também é o vilão nos tumores de bexiga
Por Ana Cristina Pereira
Comumente associado ao câncer de pulmão, o cigarro também é o vilão nos tumores de bexiga. Fumantes têm até três vezes mais chances de desenvolver a doença, que atualmente é o sétimo tipo mais comum de tumor no Brasil, com cerca de 20 mil mortes por ano.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), de 50% a 70% dos casos estão diretamente ligados ao tabagismo que, juntamente com a idade e fatores hereditários, forma a tríade principal de fatores desse tipo de câncer, que atinge muito mais homens, numa proporção de três casos para um. Só em Salvador, são cerca de 160 casos diagnosticados por ano.
O urologista Juarez Andrade explica que o cigarro possui vários agentes químicos cancerígenos que acabam eliminados pela urina. “Apesar da fumaça ser absorvida pelo pulmão, quando cai na corrente sanguínea, os agentes vão para o rim, que filtra e joga na urina, então esse processo irritativo contínuo muda a característica da célula, transformando-a em célula cancerígena”.
Segundo o especialista, além da incidência, o tabagismo também é determinante no tipo de agressividade do tumor, e ainda um complicador na eficiência do tratamento. E a agressividade está diretamente relacionada ao tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento, já que nas fases iniciais o tumor de bexiga é assintomático, atrapalhando bastante o diagnóstico.
“As vezes a gente faz um achado incidental através do ultrassom, e é maravilhoso quando isso acontece, porque se trata de exame bem simples, não invasivo”, afirma o médico, que é coordenador de Urologia do Hospital da Bahia e professor da Faculdade de Medicina da UFBA. Por isso, reforça, é preciso manter as consultas de rotina em dia e sem espre tar atento a alguns sintomas, a exemplo do sangramento da urina.
Tratamento
A confirmação do diagnóstico é feita através do exame de cistoscopia, que consiste na introdução de uma câmara no canal da ureta, para visualizar o interior da bexiga e localizar possíveis lesões suspeitas, que vão passar por biópsia para se chegar ao diagnóstico definitivo. O tratamento vai ser definido pelo grau do tumor, ou seja, se ele atinge apenas a mucosa da bexiga, ou se já está em camadas musculares mais profundas.
“Quando esses tumores invadem a camada muscular, não raro precisamos tirar a bexiga, parcial ou totalmente, substituindo-a por uma uma uma bexiga reconstruída com intestino, uma cirurgia de porte muito maior, com implicações mais sérias do que uma simples raspagem, como é feita nos casos mais simples”, detalha o urologista.
Dependendo do tipo do tumor, pode ser preciso tratamentos complementares, como imunoterapia, quimioterapia ou radioterapia, como a que será aplicada ao médium baiano Divaldo Franco, de 97 anos, diagnosticado com a doença no último mês de novembro.
O médico também chama atenção para alguns avanços no tratamento, como o desenvolvido por sua equipe para tumores mais agressivos, que utiliza um pretzel dentro da bexiga – uma espécie de tubo com a medicação, que vai sendo liberada de forma contínua e prolongada, sem ser eliminada junto com a urina.
“O tratamento acaba sendo mais eficiente e menos invasivo, que é o que sempre queremos alcançar”, reforça o urologista.
Formas de prevenção
Além de abandonar o cigarro, a oncologista Stella Dourado chama atenção para algumas rotinas que podem prevenir o câncer de bexiga ou aumentar a chance de cura. A especialista, que atua na clínica AMO, afirma que alterações urinárias não devem ser negligenciadas. “A gente vê infecções de repetição e cistites crônicas sem tratamento adequado. Alguns pacientes, principalmente homens, ficam com estes problemas durante meses e esses processos inflamatórios podem causar alguma alteração celular, resultando em um câncer”, pontua a especialista, acrescentando que esses cuidados são determinantes para o diagnóstico precoce.
Ela também destaca a importância dos trabalhadores da indústria química utilizarem os EPIs adequados, pois a exposição prolongada a tintas, corantes, alguns remédios e agrotóxicos também favorecem o surgimento da doença. Segundo Stella, não há muitos estudos relacionando a alimentação a este tipo de tumor, mas a obesidade é considerada um fator de risco devido ao processo de inflamação celular que causa no organismo. Vale ressaltar, que a ingestão de muito líquido é a principal maneira de evitar as infecções urinárias.
Em relação ao cigarro, a médica ainda faz mais um alerta: o eletrônico é tão nocivo quanto o tradicional. Ela vê com preocupação o crescimento do uso, sobretudo entre o público mais jovem, seduzido pela moda e pelos aromatizadores usados para disfarçar o gosto e o cheiro da nicotina.
“Muitos adolescentes fumam escondido e os pais precisam ficar atentos. Infelizmente, os efeitos do tabagismo levam anos para se manifestar e nós só vamos ver os prejuízos em gerações futuras”, resume.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes