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PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE CÂNCER

Pesquisa: 7 em cada 10 moradores de favelas não têm acesso a médicos

Estudo aborda os desafios da falta de acesso à infraestrutura que o SUS possui para essa população

Por Isabela Cardoso, de Brasília*

10/05/2023 - 1:03 h | Atualizada em 12/05/2023 - 18:26

Sete em cada dez moradores das favelas brasileiras não têm acesso a exames e médicos para câncer, segundo uma pesquisa do Instituto Oncoguia, realizada pelo DataFavela e o Instituto Locomotiva. O estudo escutou 2963 pessoas, sendo a população preta em maioria, das classes D e E, de todas as regiões do país.

A pesquisa, apresentada no 13º Fórum Nacional Oncoguia, em Brasília, nesta terça-feira, 9, abordou os desafios da falta de acesso à infraestrutura que o Sistema Único de Saúde (SUS) possui para essa população. O público escutado depende exclusivamente do SUS (82%).

O estudo aponta que 41% dessa população não costuma realizar exames ou só realiza quando está doente, sendo 55% entre 18 a 29 anos e 34% entre 46 anos ou mais. Desse público, 45% considera difícil chegar na UBS/UPA, com relatos de falta de acesso a equipamentos e instituições de saúde (69%), e demora para agendar e realizar exames (73%).

Para Luciana Holtz, fundadora e presidente do instituto Oncoguia, há necessidade de melhorar o acesso e também a disponibilidade de profissionais e serviços. “Paralelamente, temos que pensar em ações que minimizem as barreiras econômicas, sociais e culturais que aparecem de forma prioritária na pesquisa: 85% concordam que se tivessem mais dinheiro e 44% que se tivessem com quem deixar os filhos, que poderiam fazer exames de rotina com mais frequência. Mais da metade ainda tem medo do diagnóstico do câncer”, afirma.

Estudo realizado pelo DataFavela foi apresentado no 13º Fórum Nacional Oncoguia, em Brasília
Estudo realizado pelo DataFavela foi apresentado no 13º Fórum Nacional Oncoguia, em Brasília | Foto: Isabela Cardoso | Ag. A TARDE

Segundo Renato Meirelles, fundador do Data Favela, o estudo mostra os reflexos do abandono do Estado nestas comunidades. “São pessoas que demonstram preocupação com a doença e gostariam de se cuidar mais, mas infelizmente enfrentam uma série de desafios que não atingem outros segmentos da população. Esperamos que os dados ajudem a sensibilizar as autoridades públicas na busca de soluções”, diz.

De acordo com a pesquisa, 85% dos moradores concordam que se tivessem melhores condições financeiras poderiam cuidar melhor da saúde, fazendo exames de rotina com maior frequência. Além disso, 77% concordam que se tivessem mais acesso à informação sobre cuidados e exames de rotina, também poderiam cuidar melhor da saúde.

Entre os moradores com filhos entrevistados, 44% deles concordam que se tivessem com quem deixar os filhos, poderiam cuidar mais da saúde. Desse número, 58% são mães com filhos de até dois anos.

“Precisamos olhar com muito mais atenção e sensibilidade para essas pessoas que estão nos dizendo que, se tivessem mais acesso à serviços e médicos, se cuidariam melhor. Elas não têm condições de ter uma vida mais saudável: são mães nos dizendo que não têm com quem deixar os filhos, como vão conseguir se cuidar? Não vão e o câncer pode chegar”, questiona Luciana Holtz.

*Repórter viajou a convite da Roche Farma Brasil para o 13º Fórum Nacional Oncoguia

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