SAÚDE
Retirar glúten da alimentação exige cuidados e orientação
Por Fabiana Mascarenhas

Sempre que vai ao supermercado, a contadora Maria das Graças Silva, 32 anos, repete o mesmo hábito: olha a informação nutricional de todos os rótulos dos produtos que leva para casa para ver se possuem glúten, proteína encontrada em alimentos como aveia, cevada e trigo.
A prática é repetida desde 1999, ano em que descobriu que tinha doença celíaca. Os celíacos - como são chamadas as pessoas que têm intolerância à proteína - não produzem a peptidase, enzima responsável pela quebra do glúten.
"Nestes casos, ocorre um processo inflamatório crônico que afeta o sistema autoimune do organismo em indivíduos que são geneticamente predispostos", explica a endocrinologista e nutróloga Sandra Gordilho.
Ingerir alimentos que contenham essa substância pode ser o gatilho para reações nada agradáveis, como diarreia, dor abdominal, inchaço, danos ao intestino delgado, problemas na absorção dos nutrientes, anemia e fadiga.
Sintomas bastante conhecidos por Maria das Graças. "O problema é que a maioria dos alimentos contém glúten, daí a nossa dificuldade diária. Conviver com a doença não é nada fácil", afirma.
Emagrecimento
No caso dos celíacos, abrir mão de salgados, doces, pães e da cervejinha é uma necessidade, mas existem aqueles que estão abolindo os alimentos com glúten do cardápio por outra razão: o desejo de emagrecer.
Conforme a nutricionista Raquel de Medeiros, tanto em celíacos como em pessoas sem intolerância, a substância provoca um processo inflamatório no corpo que pode ocasionar desde diarreia até acúmulo de peso.
"Uma dieta sem glúten ajuda no metabolismo, deixando-o mais acelerado e diminui a sensação de inchaço e desconforto abdominal, o que colabora na redução de peso", diz.
Talvez isso explique o fato de a dieta sem essa proteína ser das mais indicadas pelos nutricionistas e uma das preferidas das celebridades. Mas a questão é polêmica.
De um lado estão os que defendem a retirada do glúten do cardápio por celíacos e não celíacos. Entre as razões está o fato de boa parte das pessoas apresentar algum tipo de sensibilidade à substância, embora não existam dados precisos sobre o número de indivíduos nesta condição no Brasil e no mundo.
Outro argumento consiste em tratar-se de uma proteína sem valor nutricional e sem calorias, que serviria apenas para proporcionar o aspecto viscoso e conferir elasticidade a bolos, pães e massas.
Do outro lado, há aqueles que acreditam que a proteína só deve ser abolida da dieta no caso das pessoas que têm restrição alimentar.
Discussão
Diante da recomendação indiscriminada para a limitação de consumo de glúten, o Conselho Regional de Nutricionistas (CRN-3), que inclui São Paulo e Mato Grosso do Sul, emitiu um parecer afirmando que o glúten só deve ser tirado da dieta se houver diagnóstico de doença celíaca, alergia ou sensibilidade à proteína.
Assim também pensa o nutricionista Alessandro Fernandes. "Não podemos esquecer que o glúten está presente em alimentos que oferecem muitos outros nutrientes e são importantes para a saúde, como aveia e centeio, por exemplo. Portanto, ele não deve ser banido da dieta sem que haja a identificação de uma necessidade real".
Na opinião da endocrinologista e nutróloga Sandra Gordilho, é possível retirá-lo da dieta, desde que com orientação de um profissional de saúde.
"Há uma melhora significativa nos pacientes após a retirada do glúten, mesmo no caso daqueles que não possuem intolerância. Ele pode ser substituído com tranquilidade por outros alimentos, mas uma série de fatores devem ser avaliados e o acompanhamento nutricional é fundamental", afirma a médica.
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