SAÚDE
Vacinação infantil despenca e epidemias graves ameaçam voltar
Em 2021, a vacinação de diversas doenças contou com baixa adesão no Brasil
Por Ricardo Westin | Agência Senado
Embora as vacinas sejam aplicadas gratuitamente nos postos de saúde da rede pública, a imunização infantil vem caindo de forma vertiginosa no Brasil e hoje se encontra nos níveis mais baixos dos últimos 30 anos.
Em 2021, em torno de 60% das crianças foram vacinadas contra a hepatite B, o tétano, a difteria e a coqueluche. Contra a tuberculose e a paralisia infantil, perto de 70%. Contra o sarampo, a caxumba e a rubéola, o índice não chegou a 75%. A baixa adesão se repetiu em diversas outras vacinas.
Para que exista a proteção coletiva e o Brasil fique blindado contra as doenças, o recomendável é que entre 90% e 95% das crianças, no mínimo, estejam imunizadas.
A queda generalizada começou em 2015 e atingiu a pior marca em 2021. Até 2014, não havia resistência. Os pais prontamente atendiam às chamadas do Ministério da Saúde e levavam seus filhos aos postos. A cobertura vacinal costumava ficar acima dos 90%, por vezes alcançando os 100%.
Médicos das áreas de pediatria, infectologia, epidemiologia e saúde coletiva temem que, se esse quadro de baixa vacinação for mantido, o país poderá assistir a novas catástrofes sanitárias, com o ressurgimento de epidemias que eram comuns no passado.
Os primeiros sinais dessa tragédia são concretos. Em 2016, o Brasil ganhou da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) o certificado de território livre do sarampo. Naquele momento, o país vinha registrando um ou outro caso importado da doença. Logo em seguida, no entanto, o sarampo voltou com força total. Entre 2018 e 2021, o Brasil contabilizou mais de 40 mil doentes, dos quais 40 morreram. A Opas acabou retirando o certificado em 2019.
A Agência Senado solicitou ao Ministério da Saúde informações e esclarecimentos a respeito da baixa cobertura vacinal no país, mas a pasta não respondeu.
Entre 2017 e 2021, o valor investido pelo governo federal na publicidade da vacinação sofreu um corte de 66%, passando de R$ 97 milhões para R$ 33 milhões, segundo dados do Ministério da Saúde obtidos pela agência Repórter Brasil por força da Lei de Acesso à Informação.
Os médicos dizem que a pandemia da covid-19 também prejudicou a vacinação infantil. Em primeiro lugar, porque boa parte da população praticou o distanciamento social e evitou sair de casa nos primeiros momentos da emergência sanitária. Diversos pais, assim, acharam mais prudente não levar os filhos aos postos de saúde, onde as famílias poderiam estar expostas ao coronavírus.
Em segundo lugar, porque os postos e hospitais direcionaram suas energias ao diagnóstico e tratamento das pessoas infectadas com a covid-19, deixando a vacinação de rotina em segundo plano.
Em terceiro lugar, porque a pandemia trouxe consigo uma avalanche de notícias falsas e informações distorcidas a respeito das recém-criadas vacinas contra o vírus da covid-19, o que acabou por minar a credibilidade de todas as demais vacinas.
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