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Coordenador do colegiado do curso de medicina da Ufba corre o risco de perder o cargo e é alvo de reações

Por Danilo Fraga e Sílvio Ribas | Sucursal Brasília

01/05/2008 - 9:09 h



“Não é possível que exista alguém com um cargo importante numa instituição de ensino que defenda, no mundo de hoje, posições discriminatórias e reacionárias como essas que o professor Natalino emitiu”, foi a reação de Naomar Almeida Filho, reitor da Universidade Federal da Bahia, às declarações de Antônio Natalino Dantas, chefe do colegiado da Faculdade de Medicina (Famed/Ufba).



Em reportagem ao jornal Folha de S.Paulo e à emissora de rádio Band News, Dantas atribuiu ao “baixo QI dos baianos” a nota 2 obtida pelo curso – do qual é coordenador de colegiado – no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). O professor culpou ainda o sistema de cotas para afrodescendentes pelo mau desempenho. “A prova foi feita com alunos do primeiro semestre e do último semestre. Pode estar havendo uma contaminação das cotas e influência da transformação curricular nesse resultado”, disse à Folha.



Imbecilidade – “A declaração é de uma imbecilidade ímpar. É condenável sob todos os aspectos. Utiliza um conceito ultrapassado [o do QI] e traduz um preconceito profundo contra o povo baiano. Ele teve um surto de imbecilidade”, completa o governador Jaques Wagner, entrevistado ontem, no final da reunião do Fórum de Governadores, em Recife (PE). Ele se solidarizou com o reitor Naomar Almeida, que em reunião com Tavares Neto e impedido de afastar Dantas da coordenação, solicitou à congregação da Famed que o retire do cargo de chefia.



“Não posso demiti-lo porque ele foi eleito pelos professores, mas, nesse momento, eu estou requerendo ao colegiado de medicina seu afastamento do cargo”, diz. O caso será discutido na reunião da congregação do curso na próxima terça-feira. Tavares Neto acha que foi uma “declaração infeliz”, mas que o barulho em relação a ela estaria desviando o foco do problema principal, que seria a situação em que a faculdade se encontra.



As declarações ganham ainda mais peso por conta da sólida formação de seu autor, que tem graduação na Ufba (1962), especialização em cirurgia cardiovascular pela Universidade de São Paulo – USP (1975), onde também fez seu doutorado.



Almiro Sena, promotor de justiça do MPE/BA, responsável pela Promotoria do Combate à Discriminação, afirma que foi instaurado um procedimento investigatório para apurar as manifestações discriminatórias contra a população baiana e a população afrodescendente do Brasil nas declarações de Dantas. Ele informou, também, que solicitou a entrevista dada pelo professor à Rádio Band New, ontem pela manhã, para ser incorporada ao procedimento investigatório.



Racismo – O procurador da República, Vladimir Aras, entende que as afirmações sugerem conteúdo discriminatório. O procurador acredita que as afirmações do professor sugerem conteúdo discriminatório (racial e de procedência), ao vincular o relativo insucesso do curso no Enade a uma “contaminação” pelo sistema de cotas. “Cabe à promotoria avaliar se é racismo, um crime inafiançável. Além disso, é possível que ele responda por um processo administrativo na Ufba”, completa Naomar.



Em nota oficial, o diretório acadêmico da Famed afirma que as declarações “embasam-se nas idéias de contaminação racial, determinismo genético e inferioridade dos povos, as quais legitimaram a escravidão e os campos de concentração nazistas. Além de racista, o professor se mostrou tecnicamente incapaz de exercer seu cargo”.



Os estudantes ainda pretendem fazer um ato público às 8h da próxima segunda-feira, em repudio às declarações do professor e pedindo seu afastamento do cargo. “Não concordamos, em absoluto, com as declarações preconceituosas, que culpam os estudantes, ou pior, o baixo QI dos baianos pelo mau desempenho da faculdade”, explica Gabriel Schnitman, 20, estudante do 5º semestre.



Gente de cor – “Não sou racista; se eu fosse, diria. Sou médico e boa parte das pessoas que atendo são ‘gente de cor’ (sic). Minha secretária também é [de cor]; se fosse racista não a escolheria”, tenta explicar Dantas, mais conhecido com Natalino. O professor acha que as reações às suas declaração são exageradas. “Parece até que eu cometi um crime. Até de Hittler me chamaram”, lamentou. Ele afirmou que não classificou o QI do baiano de necessariamente baixo, “mas que houve uma inferioridade em quem fez a prova do Enade. O problema não é do exame e, pelo que eu sei, não teve boicote”.



Sobre as declarações a respeito da música baiana e do Grupo Cultural Olodum – “uma escola de barulho, quase” – ele justificou de outra forma. “Não sou obrigado a gostar de berimbau. O que eu disse é que é um instrumento primitivo, que só toca uma nota só. Gosto de piano e violino”, disse ele, que está tomando aulas de música, mas, ao que parece, ainda não chegou na lição sobre instrumentos percussivos (leia matéria sobre a complexidade do berimbau).



Senado – As declarações do professor Antonio Dantas despertou ontem, em Brasília, a ira dos senadores baianos, que receberam a solidariedade dos colegas de outros Estados. Falando na tribuna em nome da bancada baiana, o senador César Borges (PR) apresentou requerimento de voto de censura às “declarações ofensivas a todo o povo da Bahia”. Antonio Carlos Júnior (DEM-BA) considerou as afirmações de Dantas “revoltantes”, exigindo do reitor da Ufba, Naomar Almeida, que “demita imediatamente” o coordenador.



O senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) introduziu o tema ao plenário, chamando declaração de Dantas de “preconceituosa e desrespeitosa com os brasileiros”. Ele e Paulo Paim (PT-RS), que preside a Comissão de Direitos Humanos do Senado, apresentaram voto de repúdio. “Racismo é crime, não prescreve e ele precisa ser processado”, lembrou Paim. Os senadores Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Mão Santa (PMDB-PI) e Serys Slhessarenko (PT-MT) também se associaram às manifestações.

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