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“A Menina que Matou os Pais - A Confissão” é um encerramento mediano
Filme que encerra a trilogia sobre o crime de Suzane von Richthofen já está disponível no Prime Video
Por Edvaldo Sales
O fascínio do ser humano por produções que abordam crimes reais não é algo novo, mas é fato que esse interesse tem aumentado nos últimos anos e isso se deve, principalmente, ao grande número de opções disponíveis. São filmes, séries, podcasts, livros e documentários que destrincham - às vezes com licença poética - casos que despertam o interesse imediato do público, o qual tem o desejo de saber mais detalhes ou simplesmente é motivado por uma curiosidade quase mórbida.
Não à toa, todos os anos, um ou dois títulos com essa temática são lançados e ganham muita repercussão. Entre os mais recentes estão “A Menina que Matou os Pais” e “O Menino que Matou Meus Pais”, ambos lançados em 2020 no Prime Video, que levaram para as telas o planejamento e o assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen, que foram mortos a pauladas na noite do dia 31 de outubro de 2002 pelos irmãos Cravinhos, Daniel e Cristian, a mando da filha do casal, Suzane von Richthofen.
Os dois longas são baseados nos autos do processo do assassinato do casal. O primeiro filme aborda a versão de Daniel no tribunal, já o segundo traz o ponto de vista da Suzane. Encerrando a trilogia, “A Menina Que Matou os Pais - A Confissão” acompanha o que aconteceu após o crime que chocou o país, tanto pela participação da jovem, na época com 19 anos, quanto pela forma como foi premeditado.
Raphael Montes e Ilana Casoy, dupla que retorna como roteiristas, usaram como ponto de partida para o texto, além dos autos do processo, o livro “Casos de Família: Arquivos Richthofen e Arquivos Nardoni”, escrito por Casoy, que é criminóloga e escritora. Em A Confissão, o foco está em três coisas: investigação, interrogatórios e nas ações equivocadas do trio que premeditou e cometeu os assassinatos.
A escolha de Montes e Casoy é acertada. É interessante acompanhar os passos da polícia e como os pontos vão se conectando até chegar na conclusão do caso. No entanto, isso é feito com tamanha pressa que impede o espectador de se conectar com a história de maneira genuína.
A sutileza poderia ter sido muito bem-vinda nesse caso, ainda mais por se tratar de um crime que é tão conhecido e teve ampla cobertura jornalística - algo poderia ter sido abordado um pouco mais também. Tentar condensar o máximo de informações em um espaço pequeno de tempo não foi a melhor opção e é provável que o público perceba isso.
O mesmo se aplica às cenas dos interrogatórios. Elas rendem bons momentos e são bem distribuídas ao longo do filme - mérito de um trabalho conjunto: roteiro, direção e montagem. Esses acertos, porém, poderiam ter um impacto ainda maior se as cenas tivessem um pouco mais de tempo para acontecer.
Mauricio Eça assume mais uma vez a cadeira de diretor e demonstra um amadurecimento em relação aos seus trabalhos anteriores, principalmente quando precisa passar sentimentos como desorientação e desespero.
É interessante observar, por exemplo, a cena em que o Astrogildo Cravinho, pai de Daniel Cristian, interpretado por Augusto Madeira, sai da sala da delegada Helena (Bárbara Colen), após saber que os seus filhos podem ser condenados. Nesse momento, Eça usa um movimento de câmera que transmite para o público uma sensação de angústia, a qual é ressaltada pela direção de fotografia, que, dessa vez, ficou por conta de Marcelo Corpani.
Carla Diaz e Leonardo Bittencourt estampam os cartazes e têm mais tempo de tela em todos os filmes. O que é justo, já que eles são os responsáveis por dar vida à Suzane von Richthofen e Daniel Cravinhos, respectivamente. Apesar de bons atores, a dupla tem limitações que não conseguem superar desde o primeiro longa.
Diaz oscila entre uma atuação demasiadamente exagerada e uma performance pouco convincente. Já Bittencourt, apesar de apresentar nuances interessantes, principalmente em "O Menino que Matou Meus Pais" - assim como sua parceira de tela -, não vai muito além disso no capítulo final. O destaque fica para Allan Souza Lima (Cangaço Novo), que vive Cristian Cravinhos, irmão de Daniel. Ele é responsável por dar a carga dramática necessária para uma das cenas mais importantes do filme funcionar.
A Menina Que Matou os Pais - A Confissão é um encerramento mediano e peca por não ter tempo suficiente para desbravar seus pontos fortes com mais intensidade e calma, mas se sobressai como o melhor de uma trilogia ao apostar nas consequências de um dos crimes mais famosos do país.
Assista ao trailer de “A Menina que Matou os Pais - A Confissão”:
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