CINEMA
'Além de Nós' segue tradição do filme de estrada à brasileira
Roadie movie brasileiro sai do Rio Grande do Sul e chega até Valença, no sul da Bahia
Por Tiago Freire*
Uma jornada sobre descoberta e limites, dois gaúchos percorrem o Brasil no novo filme brasileiro Além de Nós, escrito e dirigido por Rogério Rodrigues. O longa, que estreou no dia 23, conta com Miguel Coelho, Thiago Lacerda e Ingra Lyberato no elenco.
Na trama, Leo é um peão de 24 anos que nunca saiu de seu pequeno vilarejo no sul do Brasil, mas de repente, sofre duas grandes perdas no mesmo dia. O jovem acaba de presenciar a morte de seu pai e perder seu emprego. Quando ele descobre uma foto e uma carta antiga que lhe dá um novo horizonte, ele sai de sua pequena cidade do sul e parte com seu tio Artur para o Rio de Janeiro. No caminho desconhecido, Leo vai em busca de recuperar sua identidade, também resgatando a relação com o tio.
Inspirando na tradição cinematográfica dos road movies, o diretor Rogério Rodrigues escreve em Além de Nós uma carta de amor ao gênero, referenciando algumas de suas inspirações, como Paris, Texas, Thelma & Louise e Diários da Motocicleta.
Além de prestar essas homenagens, em referências estéticas e de enquadramento, também trouxe uma jornada com seu próprio estilo e de forma autêntica.
"Eu sou uma pessoa apaixonada pelos road movies. Acho que além das paisagens que esses filmes trazem, a estrada traz uma série de transformações que são muito interessantes de se assistir. Como espectador, me sinto tocado por essas histórias e pelas mudanças”, conta Rogério.
“A ideia veio de uma conversa com meu irmão, que sugeriu a gente fazer um curta sobre dois gaúchos percorrendo o Brasil inteiro. Essa proposta de tirar a figura do gaúcho de seu lugar de origem e levar sua cultura em outros lugares me interessou muito. Também acho legal trazer essa diversidade cultural do filme, mesmo que um pouco” diz.
Uma jornada interestadual
Assim como seus protagonistas, a produção de Além de Nós precisou percorrer o Brasil, primeiro numa busca por entender aquele trajeto e encontrar locações, fazer um planejamento. “O filme de estrada submete o roteiro a uma grande imprevisibilidade sobre o que será encontrado no caminho. Nesse cenário, precisamos estar preparados para o improviso. Para isso, fizemos muita pesquisa e planejamento. Para filmar, precisamos percorrer sete estados, nos quais filmamos em cinco, e em mais de 14 cidades”, detalha.
“Durante a pré-produção, eu e parte da equipe percorremos o caminho do filme com muito cuidado e analisando tudo, pensando nas locações e nas bases de apoio, pensar nos problemas daquela locação e pensar em soluções. Gravar um road movie exige esse preparo que dá uma vida à ele muito grande desde o começo”, pontua.
Gravar na estrada e em tantos locais diferentes também trouxe diversos desafios para a produção, tanto do ponto de vista técnico quanto de escolha de elenco. Porém, essas dificuldades também trouxeram algumas surpresas para o diretor. “O principal desafio é a questão orçamentária, algo comum de muitas produções brasileiras independentes. No um caso de um road movie isso se torna algo a mais. Uma boa base de apoio que atenda as necessidades da produção foi o grande desafio. Por isso usamos esse ônibus de dois andares, que serviu como nossa ‘base de operações’, mas também de camarim e que conseguiu ajudar bastante a gente”, relatou.
“Durante as gravações, havia uma parte do filme em que havia uma prova de laço e tinha essa personagem que laçava. Precisávamos de uma atriz e uma dublê que soubessem fazer isso. Minha estratégia foi primeiro buscar uma campeã de laço e depois uma atriz parecida com essa personagem. Foi conversando com essa moça daquela região que eu vi como ela sabia entregar bem suas falas e convidei para atuar, o que foi uma excelente escolha”, relata.
Explorando os personagens
Outra característica marcante nos road movies é seu elenco, que precisa ter uma forte química entre si. Em Além de Nós, com um constante trabalho entre o elenco e o departamento de arte para que essa química fosse transmitida na tela.
“A gente combinou entre a gente que essa intimidade fosse passada entre as cenas para que cada um tivesse sua leitura, para que isso fosse um motivo de reflexão. Existem muitas formas de expressar afeto e mostrar que há uma relação mais forte do que a amizade”, pontua a atriz baiana Ingra Lyberato.
Rogério Rodrigues também ressalta essa importância da construção de imersão e da direção de elenco e reforça como o processo teve imensa importância, em especial tratando-se a dupla principal, os personagens Leo e seu tio Arthur. “Nosso processo foi muito trabalho de mesa, conversa e imersão. Trabalhamos junto com a direção de arte e o elenco, que trabalharam muito juntos. Construímos um passado para cada um, tudo isso para que o ator pudesse acionar essas memórias da personagem para trabalhar as emoções em cena, isso deixa mais vivo. No caso do Leo e do Arthur, fizemos uma imersão na Pampa Profunda, no campo. Levamos eles para poder ver e entender a realidade daqueles personagens e essa imersão reforçou a cumplicidade deles”, afirma o diretor.
“Os personagens foram nascendo nessas sessões. Meu estilo foi mais conversa e a movimentação da cena. Eu acredito que o ator, quando bem alimentado de informações sobre o personagem, entrega uma performance excelente”, conclui Rogério.
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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