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MOSTRA INTERNACIONAL

Cineasta vencedor do Oscar apresenta filme premiado na Mostra SP

“O Mal Não Existe” investiga a perversidade humana com sutileza

Por Rafael Carvalho | Crítico de cinema*

25/10/2023 - 10:22 h
Cena de “O Mal Não Existe”
Cena de “O Mal Não Existe” -

Ryusuke Hamaguchi venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro ano passado com o incrível “Drive My Car” e neste ano já apresentou filme novo no Festival de Veneza, de onde saiu com o Grande Prêmio de Júri (espécie de segundo lugar na disputa). “O Mal Não Existe” trata de um caso de especulação de uma grande empresa sobre uma área rural e pacata no interior do Japão, mas o filme é muito mais do que aparenta ser.

O cineasta não é necessariamente um novato no cinema, mas ganhou notoriedade no meio cinéfilo há pouco tempo, especialmente depois da sua vitória no Oscar. Seu novo filme certamente não tem a mesma força narrativa de um “Roda do Destino” ou o longa oscarizado, mas carrega complexidades que têm se mostrado comuns nos seus últimos trabalhos.

Acontece que essas complexidades demoram a aparecer, a tal ponto que se estranha o lugar um tanto comum por onde o filme trafega até pouco mais da metade da projeção. Somos apresentados àquele ambiente tranquilo da vida interiorana onde um pai solteiro mora com a filha pequena, convivendo com outros “locais” que usam especialmente o rio da região para sobrevivência.

Pois o empreendimento de acampamentos de luxo que querem instalar ali ameaça justamente poluir o rio, algo que causa a indignação dos moradores, convocados a se encontrarem com os representantes engravatados. O filme dedica boa parte do tempo a construir essas relações de embates e desavenças, apostando mesmo em tipos caricatos, como o empresário intransigente e capitalista ou a dona de um restaurante local que teme pelo seu negócio. Há até um toque de humor com o qual o filme trabalha nesses momentos.

Mas é nos vinte minutos finais que “O Mal Não Existe” revela de fato suas garras. Ou melhor, os indivíduos demonstram suas contradições, e os toques de perversidade e intransigência humanas emergem com muita força na trama, ainda que sem a pretensão de ser taxativo ou trazer respostas definitivas sobre isso, até mesmo com certa sutileza. Fazendo jus ao título do filme, Hamaguchi desnorteia os personagens, desnorteando o próprio espectador junto, a partir da ideia de que a maldade pode habitar qualquer um de nós.

Pais e filhos

Outro mestre do cinema, dessa vez um grande veterano, também apresentou seu mais novo trabalho no evento, e com um gosto de despedida: “Bom Dia à Linguagem” é o filme póstumo do francês Paul Vecchiali, morto em janeiro deste ano. O cineasta é um habitué da Mostra de São Paulo e pode-se dizer que boa parte do público cinéfilo tomou conhecimento de sua obra através da Mostra.

Em 2017, Vecchiali esteve presente no evento onde apresentou uma retrospectiva de sua obra. Da mesma geração de Jean-Luc Godard, embora nunca tivesse feito parte do grupo dos chamados “jovens turcos” (críticos ferrenhos que escreviam nas “Cahiers du Cinèma” e que mais tarde fariam a Nouvelle Vague, a exemplo de Godard, François Truffaut e cia.), a carreira de ambos seguiu por caminhos diversos e Vecchiali nunca teve o mesmo reconhecimento, apesar do conjunto de obra monumental.

Cena de “Bom Dia à Linguagem”
Cena de “Bom Dia à Linguagem” | Foto: Divulgação

“Bom dia à Linguagem”, inclusive, é dedicado a Godard, direta e indiretamente, mas o tom do filme não poderia ser mais diferente da narrativa fragmentada e revolucionária godardiana. No longa, Vecchiali interpreta um senhor de idade que recebe, inesperadamente, a visita do filho (vivido por Pascal Cervo) que saiu de casa há mais de seis anos e nunca mais tinha voltado. Nem mesmo quando a mãe e a irmã morreram num acidente de carro, ou pelo menos é assim que o pai imagina.

Há muitos segredos e omissões nessa relação, e o reencontro dos dois vai reavivar amores e ódios, agora transformados pela passagem do tempo. Nota-se que a relação dos dois nunca foi das melhores, e o filme se estabelece como um grande acerto de contas familiar em que se misturam pequenas e grandes mágoas, além de novas descobertas do que um nem sabia do outro.

Apesar dos desgostos, o embate verbal que se segue entre eles é muito mais maduro e civilizado, ainda que doído de ambos os lados. O filme nunca assume um tom de exagero gritado, tão comum nesse tipo de discussão, nem mesmo quando os ânimos inflamam. Vecchiali sabe que os caprichos humanos são implacáveis, mutáveis e traiçoeiros, e nessa montanha russa de emoções o que prevalece é a sinceridade.

*O jornalista viajou à São Paulo com apoio da organização do evento.

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Tags:

Bom Dia à Linguagem Drive My Car Mostra Internacional de São Paulo O Mal Não Existe

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