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Cinebiografia inspirada na vida do palhaço Bozo estreia nos cinemas
Por Rafael Carvalho | Especial para A TARDE

Arlindo Barreto começou sua carreira como ator pornô, mas queria mesmo ser estrela de televisão. Nos loucos anos 1980, acabou abraçando a oportunidade de dar vida ao palhaço Bozo, personagem trazido da TV norte-americana para entreter o público infantil brasileiro. Mas a história de Arlindo não é para crianças.
"Bingo – O Rei das Manhãs" é o retrato delirante da jornada desse homem, da fama à decadência, passando pelos problemas com álcool e drogas. Os produtores do filme não conseguiram os direitos autorais para citar diretamente o personagem oficial (criado nos EUA em 1946). Daí a mudança do nome dos personagens. Bozo torna-se Bingo e Arlindo agora é Augusto Mendes, vivido pelo ator Vladimir Brichta.
"A gente tinha uma história maravilhosa, mas era muito claro que íamos ficcionalizar muita coisa. Não queríamos ter nenhum tipo de barreira criativa e ter que ficar atrelado a situações que aconteceram fielmente na vida real", contou o diretor Daniel Rezende em conversa com A TARDE.
O filme é a estreia na direção de um longa-metragem para cinema de Rezende. Ele é dono de uma carreira muito bem-sucedida como montador. Editou filmes como Cidade de Deus, os dois Tropa de Elite, e mesmo produções estrangeiras, como o RoboCop dirigido por José Padilha e colaborou com a equipe de Árvore da Vida, de Terrence Malick.
Transição
Daniel contou que há muito tempo nutria a vontade de sair da salinha escura da ilha de edição para lidar com mais gente e com um set de filmagens. "Quando eu era moleque, adorava televisão e sempre tive uma curiosidade muito grande em saber o que tinha atrás da câmera", revelou Rezende.
O projeto sobre a história do palhaço serviu prontamente aos planos de Rezende. O filme recria com muita propriedade os bastidores de uma produção televisiva, desde a composição dos cenários, com direito a direção de arte caprichadíssima, até a briga pela audiência e a tentativa de fazer o programa sobre aquele palhaço dar certo no Brasil.
Para isso, Augusto teve de mostrar que podia ser bem-sucedido interpretando Bingo ao injetar mais irreverência e uma pitada de insanidade em sua composição. Isso faz de "Bingo – O Rei das Manhãs" um filme irônico, atrevido e bonachão, via personagem impagável.
"Eu queria que meu primeiro projeto no longa-metragem fosse uma história de personagem, com profundidade e dramaturgia, que pudesse emocionar e fazer rir. E que pudesse olhar para nossa cultura pop", revelou o cineasta.
Nesse sentido, a construção dessa figura central peculiar é fundamental para o sucesso do filme. Vladimir Brichta certamente encontrou em Bingo/Augusto seu meu melhor papel no cinema, podendo explorar muitas de suas facetas como ator.
Delírio e ambição
Brichta também conversou com A TARDE sobre o processo de entrega para o papel e de como ele se preparou: "Eu parti do roteiro mesmo em que o personagem já vinha desenhado com muitas camadas. Eu não me preocupei em imitar os trejeitos do Arlindo, mas eu vi entrevistas dele e tentei preservar uma energia que eu via nele", contou o ator.
Bichta lembra que quando estudava na escola de teatro da Ufba, teve colegas que estudaram a arte do clown, mas ele não. Voltou-se para isso agora. "Eu tive que assumir a minha identidade de palhaço. Eu sempre achei que fosse internamente palhaço, mas nunca tive coragem de expor isso", revela.
Além da pressão para fazer dar certo o personagem na TV, Augusto precisa lidar com a durona Lúcia (Leandra Leal, firmíssima no papel), produtora do programa. A relação com o filho pequeno, fruto de um relacionamento que não deu certo, e com a mãe, outrora uma estrela da televisão, encabeçam a dimensão familiar que Augusto precisa conciliar com o sucesso.
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