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Com quase três horas de duração, IT 2 é filme sobre superar traumas
Por Bianca Carneiro* | Fotos: Divulgação
A regra é clara: se ao passar por uma rua deserta, você ouvir uma voz dentro do esgoto (ou bueiro) te chamando “para flutuar”, saia correndo. Ou então, você correrá o risco de se tornar mais uma vítima do terrível palhaço dançarino Pennywise, personagem central do aclamado best-seller de terror “IT: A Coisa”.
Depois de ganhar sua primeira adaptação nos anos 90 (IT: Uma obra-prima do medo) e em 2017, a primeira parte de uma nova e consagrada versão, IT: Capítulo Dois chega, nesta quinta-feira, 5, com a missão de repetir o sucesso de bilheteria do seu antecessor. A relação com o medo é novamente explorado na sequência, assim como, a importância da memória para construção da personalidade.
Na história, apesar de conseguirem ferir gravemente a “Coisa” quando crianças, os sete membros do "Clube dos Otários" formado por Bill (Jaeden Martell/James McAvoy), Beverly (Sophia Lillis/Jessica Chastain), Ben (Jeremy Ray Taylor/Jay Ryan), Richie (Finn Wolfhard/Bill Hader), Eddie (Jack Dylan Grazer/James Ransone), Stanley (Wyatt Oleff/Andy Bea) e Mike (Chosen Jacobs/Isaiah Mustafa) precisam voltar à cidade de Derry 27 anos depois para honrar o pacto de finalmente derrotá-la. Porém, a tarefa não será nada fácil visto que Pennywise está mais perigoso e vingativo do que nunca.
Um dos pontos mais interessantes do Capítulo Dois é a fidelidade ao Um. Embora com alguns pequenos desencontros no roteiro, o filme dá a real sensação de continuidade, seja pelos flashbacks dos bastidores da primeira batalha contra Pennywise, mas, principalmente pela escolha dos atores para interpretar a versão crescida do elenco infantil. As características físicas são tão parecidas que dão a sensação de que estamos vendo os mesmos intérpretes, só que crescidos.
Como já era de esperar, os nomes mais conhecidos James McAvoy e a indicada ao Oscar, Jessica Chastain entregam uma ótima performance como Bill Dembrough e Beverly Marsh, respectivamente, porém, é Bill Hader (série de TV “Barry”, “Irmãos Desastre”) que brilha na pele de Richie Tozier. O ator se conecta totalmente a proposta de Finn Wolfhard no primeiro filme e mais do que mero alívio cômico, agrega ainda, uma grande profundidade ao personagem. Quem esperava ver mais da ótima atuação de Bill Skarsgård pode se desapontar um pouco. Diferente da primeira parte, onde Pennywise rouba a cena, o capítulo dois foca mais na relação entre o grupo e menos no palhaço.
Os leitores que encararam as mais de mil páginas de IT: A Coisa irão constatar que algumas importantes cenas foram fielmente adaptadas, enquanto outras passaram bem longe. Com um pouco mais de atenção, é possível observar alguns easter-eggs bem interessantes sobre o universo de Stephen King espalhados pelo filme, além de uma participação mais do que especial. E quanto ao final? Sem dúvida, uma das maiores preocupações deixadas pela primeira versão dos anos 90, a produção não decepciona e entrega um desfecho plausível que agrada tanto os fãs mais ferrenhos do livro, quanto os que só conhecem os filmes.
No entanto, mesmo se aproximando o máximo possível, IT: Capítulo Dois não consegue superar o primeiro capítulo. A grande quantidade de flashbacks e de batalhas individuais contra Pennywise acaba deixando o enredo menos redondo e o público mais cansado.
Falando em cansaço, para os menos pacientes, o tempo pode ser um problema. Com quase três horas de duração, o filme começa bem ao reintroduzir os protagonistas e contextualizar o público, porém, a partir do segundo ato, o ritmo fica meio arrastado, sendo quase que uma repetição de sequências já vistas na primeira parte.
Talvez por conta da mitologia do universo fictício onde se passa, apesar de citar - e subentender - informações importantes, IT: Capítulo Dois acaba deixando algumas pontas soltas sobre o passado de Pennywise, algo que também foi pouco explorado no Capítulo Um. Porém, como novamente a direção de Andy Muschietti entrega um trabalho divertido e envolvente, talvez fique a sensação de não ver o tempo passar.
Um alerta: o espectador que busca encontrar terror - ao menos aquele físico, convencional, que investe pouco na história e muito no susto - pode sair decepcionado do cinema. Embora realmente esteja mais assustador do que o primeiro, muito além de trazer a matança do palhaço assassino, IT: Capítulo Dois é sobre dificuldades da vida real, amizade, e superação de traumas emocionais profundos como bullying, homofobia e assédio sexual, problemas que podem ser ainda mais assustadores do que qualquer entidade ou força sobrenatural.
IT: Capítulo Dois já está em cartaz nos cinemas de Salvador. Clique aqui para conferir os horários e salas disponíveis.
* Sob a supervisão da jornalista Ashley Malia
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