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Dupla de Cine Holliúdy estreia Shaolin do Sertão
Apesar de ser uma força do cinema brasileiro em temos de bilheterias, as comédias nacionais não têm se notabilizado pela qualidade, limitando-se às franquias sem graça de atores globais, como SOS Mulheres ao Mar ou Até Que a Sorte nos Separe. Neste cenário, O Shaolin do Sertão, de Halder Gomes, surge como um ponto fora da curva.
O diretor cearense, que já tinha chamado a atenção em 2013 com Cine Holliúdy, retorna agora às telas acompanhado do mesmo ator de Cine (e seu amigo de infância), Edmilson Filho. Este último, que além de ator é mestre 5º grau de Taekwondo, encarna desta vez um alucinado amante de filmes de kung fu, Aluízio Li (de Liduíno).
Motivo de risos em sua cidade, Quixadá, Aluízio terá a chance de se redimir - e, de quebra, ganhar o coração da mocinha Anésia Shirley (a estreante Bruna Hamú) - se derrotar no ringue o temido Tonho Tora Pleura (Fábio Goulart), um lutador de telecatch (o vale-tudo das antigas) que faz uma turnê pelas cidades do sertão cearense, desafiando os valentões locais.
No caminho de Aluízio e seu assistente-mirim Piolho (Igor Jansen) estão sua própria mãe (Fafy Siqueira), um mestre chinês de araque (Falcão, sensacional), o namorado de Anésia (Marcos Veras), o pai de Anésia (o eterno Trapalhão Dedé Santana) e o prefeito de Quixadá (o baiano Frank Menezes, excelente) - mais uma fauna inacreditável de figuras insanas.
Um acerto artístico sob qualquer ângulo que se analise, O Shaolin do Sertão tem tudo para arrebentar biheterias. Nas telas do Ceará desde o feriado do dia 12, o filme levou às vinte salas onde está sendo exibido 57 mil pessoas (segundo o jornal fortalezense O Povo). Um golpe na pleura do Tom Hanks (Inferno). Hoje, O Shaolin chega aos cinemas de todo o Brasil.
Cearensidade e fuleiragem
Em seu segundo longa, o Gran Master Halder Gomes conta que quis prestar uma homenagem às referências de sua infância: "O filme retrata um universo muito particular, meu e do Edmilson", conta o diretor por telefone.
"Somado a isso, tem a nostalgia desses eventos de vale-tudo que aconteciam na época. Então o filme passa muita verdade, porque (apesar de toda a comédia) é real, é histórico, porque vivenciamos isso", diz.
Como se pode imaginar, Halder nem pestanejou em ter Edmilson como Aluízio, dadas suas habilidades combinadas de artista marcial e comediante. "Edmilson é Aluízio. Ninguém na Terra poderia fazer esse personagem, porque implica a habilidade na arte marcial com a cearensidade com altas doses de fuleiragem que está no jeito de ser e de encarar a vida dos dois", afirma.
"É um papel difícil, que exige habilidade fisica e domínio de comédia. É como Jackie Chan, um tipo de personagem que, no Brasil, só ele é capaz de fazer", garante Halder. Um outro ponto interessante sobre Shaolin é que ele resgata um tipo de comédia familiar brasileira ingênua, há muito deixado pelo caminho, de filmes como os d'Os Trapalhões e Mazzaroppi.
"Aconteceu isso já em Cine Holliúdy, de ter três gerações dentro do cinema (avô, pai, filho). Em Shaolin, a mesma coisa: as crianças vão pelo lance meio Power Rangers e se deparam com um herói nosso, brasileiro. Já os mais velhos se reencontram com esse velho estilo de comédia popular", diz.
Não à toa, ele fez questão de trabalhar com Dedé Santana, "um presente da vida". "Meu sonho de criança era conhecer Os Trapalhões. Então, quando ele retornou minha ligação, foi uma alegria enorme. E ele foi extremamente profissional, carinhoso, era o pai de todos no set, de uma simplicidade".
"Fora que ele representa uma ponte entre gerações, é a liga entre os filmes d'Os Trapalhões e a geração atual. No filme, isso é quase metaliguagem", conclui.
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