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MOSTRA DE SÃO PAULO

Filme vencedor do Leopardo de Ouro discute sexualidade e feminismo

“Regra 34”, de Júlia Murat, rompe barreiras do moralismo para retratar a história de uma mulher de vida dupla

Rafael Carvalho | Crítico de cinema

Por Rafael Carvalho | Crítico de cinema

02/11/2022 - 20:45 h
Longa toca em tema espinhoso e pouco discutido no cinema nacional, inclusive de modo muito explícito e direto
Longa toca em tema espinhoso e pouco discutido no cinema nacional, inclusive de modo muito explícito e direto -

Durante o dia, Simone (Sol Miranda) é uma estudante de Direito prestes a se formar e entrar para a Defensoria Pública, especializando-se em casos de violência contra a mulher; à noite, ela encarna uma versão erótica de si em sites de exibicionismo ao vivo, além de buscar cada vez mais se enveredar em práticas de sadomasoquismo.

Esse é o dilema da protagonista de “Regra 34”, filme da carioca Júlia Murat exibido na Mostra de Cinema de São Paulo e que venceu o Leopardo de Ouro, prêmio máximo do Festival de Locarno, na Suíça – um dos cinco maiores festivais de cinema do mundo. É um feito e tanto para o cinema nacional que só havia ganhado esse mesmo prêmio há mais de 50 anos com “Terra em Transe” (1967), do baiano Glauber Rocha.

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“Regra 34” toca, portanto, em tema espinhoso e muito pouco discutido no cinema nacional, inclusive de modo muito explícito e direto. Se no seu trabalho Simone precisa lidar com casos de abuso, misoginia e feminicídio, na sua sanha fetichista ela passa a enfrentar dilemas morais quando ela própria busca intensificar o seu prazer com práticas cada vez mais violentas e que infligem dor.

É uma linha moral (e social também) muito difícil de cruzar essa que separa a dor e o prazer – e que ganha nuances ainda mais complexa quando se exige dor mais intensa, por vezes infringida por outra pessoa (um homem dominador, em muitos casos), uma vez que o prazer está muito associado a uma pulsão de morte. É como nas práticas de sufocamento pelas quais Simone começa a se interessar cada vez mais, o que começa a colocá-lo em conflito moral com o seu trabalho na defensoria pública.

Em certa medida e justamente por Simone manter uma espécie de vida dupla, “Regra 34” se divide entre a discussão sobre o peso da violência sobre a mulher na sociedade, mas aborda também a validade da busca pelo prazer através de formas pouco convencionais. O que Simone experimenta é uma maneira de conhecer melhor seu corpo e seus desejos, e aquilo que o filme pergunta ao fim é sintomático de uma sociedade cada vez mais conservadora e controladora sobre os desejos alheios: qual o limite do prazer?

Desejos masculinos

Ainda no plano da discussão sobre sexualidades e transgressões da moralidade, outros filmes exibidos na Mostra de São Paulo buscam amplificar o tema. Um dos mais curiosos é o longa paquistanês “Joyland”, do diretor Saim Sadiq. Na cidade de Lahore, cosmopolita e populosa, mas de costumes conservadores, um jovem em busca de emprego encontra um trabalho como dançarino em uma boate de shows eróticos.

E mais que isso: ele acaba se apaixonando pela performer Biba (Alina Kahn), uma mulher trans que tenta se sustentar através do seu lado artístico numa sociedade transfóbica. Haider (Ali Junejo) é um rapaz casado, mas ainda sem filhos. Convive especialmente com a pressão do pai para que ele tenha um filho homem e arranje um emprego decente, uma vez que é sustentado pelo trabalho de maquiadora da esposa.

É muito interessante notar que, além de retratar uma história sobre sexualidade dentro de um país árabe, “Joyland” revela outras facetas do país – como a existência dessas casas de shows eróticos, muito frequentadas por sinal, e também o cotidiano de uma pessoa trans em meio a uma sociedade arcaica e extremamente preconceituosa.

Biba é uma personagem interessante, certamente, mas a alma do filme está nos dilemas morais de Haider e na sua própria investigação sexual. Ao rever e questionar os seus desejos, ele repensa sua trajetória de vida, ainda que não queira magoar ninguém, nem mesmo a sua esposa, apesar da inevitabilidade da tragédia que significa aquele relacionamento. O filme pode até tentar encontrar um desfecho mais ameno para o drama dos personagens, mas a maneira como “Joyland” discute tais temas em meio a um contexto social tão castrador é válido por si só.

*O jornalista viajou com apoio da organização do evento.

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