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25/10/2023 às 16:12 - há XX semanas | Autor: Rafael Carvalho | Crítico de cinema*

BAHIA PROFUNDA

Filmes baianos são exibidos na Mostra de São Paulo

Obras como "Dois Sertões" e "Saudade Fez Morada Aqui Dentro" estão na programação

Cena do filme "Dois Sertões"
Cena do filme "Dois Sertões"

Quando o grande cineasta baiano Geraldo Sarno (nascido na cidade de Poções) morreu em 2022, os realizadores Caio Resende e Fabiana Leite já levavam adiante há muito tempo a produção do documentário Dois Sertões, que tem como ponto central a figura de Sarno e seu pensamento de cinema. Este ano o filme ganhou forma e começa a ser exibido a partir do próximo final de semana na 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

O projeto começa na interlocução de Resende com Sarno que data do início da década passada, quando o jovem estudava Cinema e Audiovisual na UESB - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, onde o cineasta foi convidado para conversar com os alunos. Isso gerou uma entrevista posterior que Resende iria fazer com ele – depois de alguns anos, Sarno iria morar em Vitória da Conquista, onde fica sediada a universidade.

Esse encontro, que acabou se tornando uma amizade e também parceria profissional no futuro próximo, é também uma chave de entendimento para o próprio filme. Longe de propor uma cinebiografia, Dois Sertões encontra o cineasta em processo de criação e reflexões várias, seja nas conversas com Resende, seja nos sets de filmagens – tanto da série Sertão de Dentro quanto do longa Sertânia, últimas produções realizadas por Sarno.

“Nos momentos em que eu estava filmando nossas conversas, embora estivesse ali como interlocutor, eu sempre buscava deixar o Geraldo aparecer mais. Estou quase habitando uma zona intersticial entre o campo e o extra campo”, afirmou Resende em conversa com A TARDE.

Antes de estar nas filmagens de Sertânia e já pensando em fazer o filme, Resende convidou Fabiana Leite para codirigir junto com ele. “Eu entrei no processo quando Caio pensou em estruturar melhor o projeto. Então eu fui assistir a todo o material que ele já tinha filmado e escrevemos juntos o roteiro”, contou Leite também em entrevista ao A TARDE.

“A gente já tinha uma narrativa pensada, que passava por essa relação do Caio com o Geraldo. Queríamos trazer uma dimensão de duas gerações pensando e fazendo o cinema”, complementou. Leite conta também que a morte de Geraldo gerou uma grande mudança no resultado final do filme.

“Foi um momento de corte fundamental para a estrutura de montagem. Resolvemos trazer Geraldo enquanto personagem central do filme, falando por si só. Sempre pensamos neste filme como um documentário sobre cinema e sobre o cinema dele especialmente.

Os realizadores chegaram a filmar diversas entrevistas com personalidades importantes para a vida e a obra de Sarno, mas acabaram deixando de lado esse material a fim de destaca-lo na tela. Isso faz de Dois Sertões um registro rico e intimista de um gênio, capaz de revelar, em poucos registros, o modo de pensar e de fazer de um dos maiores mestres do cinema brasileiro.

Resende finaliza trazendo a discussão sobre o imaginário sertanejo que está no cerne da obra de Sarno: “O que são esses dois sertões no final das contas? Eu posso ser um sertão e o Geraldo seria o outro? Podemos afirmar que é o sertão do velho e o do menino? Ou é só um sertão que se faz de vários devires? Independente da resposta, podemos dizer que nossos sertões são múltiplos, assim como estão nos filmes”.

Afetos interiores

Outro destaque da programação da Mostra de São Paulo é Saudade Fez Morada Aqui Dentro, dirigido por Haroldo Borges, filme que também pode ser lido como uma história sertaneja, já que se passa no interior baiano, próximo a Juazeiro. Há dificuldades, mas também muita vivacidade nesse sertão, além de transbordar afeto.

Na trama, Bruno (Bruno Jefferson) tem quinze anos e vive sua juventude ao lado do irmão mais novo (Ronnaldy Gomes) e da mãe solteira (Wilma Macedo), em uma pequena cidade ribeirinha, na região do Vale do São Francisco. O drama logo se impõe ao protagonista que descobre estar perdendo a visão paulatinamente, de forma irreversível.

O filme funciona como uma espécie de contagem regressiva incerta em que a energia e a disposição do garoto se confrontam com as limitações com as quais ele deve aprender a conviver.

Saudade Fez Morada Aqui Dentro constitui-se, portanto, como um filme de formação, retrato do amadurecimento e dos aprendizados morais que aquele jovem vai colecionando nas suas relações, típico arco narrativo comum na literatura e no cinema. Mas no caso de Bruno, esse crescimento vem junto com a presunção de uma perda, o que torna essa jornada de aprendizado mais difícil ainda.

Sangue baiano

Ainda que não sejam produções da Bahia, dois filmes da veterana atriz e diretora baiana Helena Ignez também compõem a programação do evento. A Alegria é a Prova dos Nove é dirigido e protagonizado pela própria Ignez, em que ela vive uma sexóloga e roqueira octogenária que ensina mulheres a chegarem ao orgasmo. Esse tipo de disposição libertária é bem o tipo de cinema a que ela vem se dedicando ultimamente.

Proposta parecida está em O Mel é Mais Doce que o Sangue, de André Lopes Guerreiro, com Ignez interpretado uma andarilha que perambula pelos labirintos de São Paulo, intercalada pelas intervenções poéticas do espanhol Federico Garcia Lorca, coluna dorsal do longa. Este filme tem exibição online através da plataforma do Spcine Play.

Outra atriz baiana que dá as caras no festival é Luciana Souza, protagonista do longa cearense Quando Eu Me Encontrar, das diretoras Amanda Pontes e Michelline Helena. O filme conta a história de uma mãe que precisa lidar com a partida repentina da filha.

A celebração da cultura baiana também está presente no documentário Nas Ondas de Dorival Caymmi, dirigido por Locca Faria. O filme conta com entrevistas diversas de estudiosos e personalidades da cultura e da música a fim de revelar o processo criativo do grande cantor e compositor baiano.

*O jornalista viajou à São Paulo a convite da organização do evento.

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