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23/02/2022 às 6:04 - há XX semanas | Autor: João Gabriel Veiga*

CINEMA

Joaquim Phoenix volta às telas em Sempre em Frente

Jornada edificante dos personagens do filme pode ser um breve alívio para a alma nestes tempos sombrios

Johnny (Joaquin Phoenix) e Jesse (Woody Norman): tio e sobrinho em jornada de autoconhecimento
Johnny (Joaquin Phoenix) e Jesse (Woody Norman): tio e sobrinho em jornada de autoconhecimento -

Houve um tempo em que Detroit, a cidade do automobilismo, foi o futuro da civilização. Até hoje, Nova York representa esse futuro para milhões de pessoas – imigrantes e nativos, jovens, artistas, cientistas, crianças e idosos. Nessas cidades e em todas as outras, milhões de vidas vivem umas ao lado ao lado das outras, conciliando passado, presente e sonhos do futuro. Vidas na alvorada e no lusco-fusco. Cada uma dessas vidas carrega sonhos, medos, anseios, esperanças. Em Sempre Em Frente, o diretor Mike Mills traduz esse borbulho na singela jornada de um tio e um sobrinho.

Johnny é um jornalista solitário, mas que anseia por conexão humana. Junto a sua equipe, ele viaja pelos Estados Unidos para entrevistar crianças e adolescentes para um programa de rádio que explora como a juventude se sente em relação aos adultos, à política, ao futuro e ao mundo ao redor deles. Certo dia, Johnny recebe uma ligação de sua irmã Viv, com quem tem uma relação distante: seu ex-marido está passando por uma crise de saúde mental, e ela precisa que alguém tome conta de seu filho de 9 anos, Jesse. Porém, ao contrário das crianças que Johnny encontra em suas viagens, Jesse se recusa a ser entrevistado.

Filmado em preto e branco, Sempre Em Frente é um filme sobre fazer as pazes com o passado, olhar para trás com um olhar melancólico da nostalgia e, então, olhar para frente e encarar a estrada dos tijolos amarelos a seguir. Os altos e baixos da relação de Johnny e Jesse encapsulam esse processo tumultuoso, evitando clichês de dramédias norte-americanas.

Jesse é uma criança complicada, que inicialmente parece gratuita e calculadamente excêntrica como um artifício do diretor e roteirista para cativar a audiência. No entanto, o longa subverte essa imagem inicial para mostrar como o menino possui traumas e medos, e como o que parecem ser caprichos e estranhezas na verdade são uma forma de se proteger. Quanto mais Jesse e seu tio se aproximam, mais vemos a complexidade dos sentimentos infantis.

É raro na ficção tanta atenção e delicadeza às emoções de uma criança. No entanto, Mike Mills parece entender muito bem como explorar esse poço de sentimentos sem ser apelativo ou melodramático. São quando momentos pontuais se encaixam em um contexto maior que o público se dá conta da percepção que o menino consegue ter do quão cansada sua mãe está, e do quão preocupante pode ser o caso de saúde de seu pai. Ele gosta de brincar com a mãe que é um órfão em busca de uma cama para dormir, e com as repetições dessa semana, percebe-se que esse teatro é sua maneira de falar francamente sobre como se sente.

Momentos íntimos

Jesse, uma criança, representa o futuro, as chances de acertar e corrigir o passado – e são muitas as coisas que seu tio gostaria de consertar no passado. Ao longo da semana que passam juntos, Johnny passa a ser o entrevistado da dupla, e é forçado pelas incontáveis perguntas de seu sobrinho a encarar seus arrependimentos em relação a seu afastamento para com sua irmã. Ele não gosta de falar sobre isso, mas seu silêncio e a tristeza de seu olhar contam mais que suas palavras.

Além da fotografia em baixo contraste de tons cinzentos — uma escolha estética que remete ao passado, à nostalgia —, Sempre Em Frente usa outros mecanismos técnicos para ressaltar esse sentimento de anseio pelo que já passou e a dificuldade em seguir adiante. Através da montagem, os flashbacks surgem na narrativa não como cenas com início, meio e fim, mas como vislumbres da memória inseridas no meio da fala de um personagem. Muitas vezes, esses flashes aparecem sem áudio, justapostos à fala de Johnny, salientando seu pesar.

O tema de ansiedades e anseios em relação ao futuro também aparece nos depoimentos dos jovens entrevistados por Johnny – interpretados por atores não-profissionais, em um formato que se assemelha a um docudrama.

Esses fragmentos, respostas reais dadas pelas crianças e adolescentes, adicionam um grau de doçura e fazem o público refletir sobre essas questões para além da relação familiar de Johnny.

Não só isso, mas essa decisão de Mike Mills salienta a principal força de Sempre Em Frente: o quão genuína a película parece. Há uma qualidade espontânea e quase improvisada na narrativa. Os diálogos e a ação não parecem ensaiados, mas sim momentos íntimos capturados pela câmera do cinematografista Robbie Ryan. Essa naturalidade com o qual o filme caminha é sustentada também pela química entre Joaquin Phoenix e o ator-revelação Woody Norman, além de Gaby Hoffmann em aparições mais breves, porém impactantes.

Joaquin Phoenix se despe completamente das figuras tortuosas e coléricas que lhe consagraram em obras como O Mestre (Paul Thomas Anderson, 2012) e Coringa (Todd Phillips, 2019). Seu Johnny é um homem sereno, mesmo com suas tristezas e sua solidão. Sua atuação é infundida com ternura e empatia. Do outro lado, Woody Norman surpreende com sua capacidade de transmitir a hiperatividade e os momentos de estresse de Jesse, mas ainda assim preservar sua aura encantadora.

Sempre Em Frente é uma narrativa extremamente tranquila, que conforta sua audiência em meio ao tumulto dos sentimentos que apresenta. Emocionante e singelo, o longa de Mike Mills não tem vergonha de ser otimista, e é capaz de fazer chorar sem utilizar de sentimentalismos baratos e manipulações. Além de seguir sempre em frente, da alvorada ao lusco-fusco, o filme sugere que é importante estar de mãos dadas com alguém amado ao dar um passo após o outro.


Serviço

O quê: Sempre em Frente (C'mon C'mon) / Dir.: Mike Mills / Com Joaquin Phoenix, Gaby Hoffmann, Woody Norman, Scoot McNairy

Onde assistir: Salas e horários: cinema.atarde.com.br

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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