Jorge Bodanzky traz novo filme a Mostra Ecofalante em Salvador

Um dos nomes mais importantes do cinema nacional, o diretor Jorge Bodanzky apresentou seu novo filme 'Amazônia, A Nova Minamata?', na noite desta quinta-feira, 13, no Cine Metha - Glauber Rocha, em Salvador. A exibição faz parte da Mostra Ecofalante de Cinema - Bahia, que acontece até 23 de abril no cinema da praça Castro Alves, na Sala Walter da Silveira e em mais 17 espaços culturais e educacionais da capital baiana.

Com a presença do diretor de 'Iracema - Uma Transa Amazônica', a sessão, aberta ao público, contou com um debate acerca do documentário, dos efeitos nefastos do garimpo ilegal e da saúde dos povos indígenas. Em conversa com o Portal A TARDE, Bodanzky falou sobre seu filme, que acompanha a saga do povo Munduruku para conter o impacto destrutivo do garimpo em seu território, enquanto revela como a doença de Minamata, decorrente da contaminação por mercúrio, ameaça os habitantes de toda a Amazônia.

"Minamata é uma cidade no Japão onde, nos anos 1950, uma indústria química derramou mercúrio na baía da cidade, uma baía de pescadores. Naquela época, não se conhecia os males que o mercúrio provocava no sistema neurológico das pessoas, que passaram a viver situações horríveis. Durante 30 anos, os japoneses se mobilizaram em uma grande luta e conseguiram fechar a fábrica, conseguindo despoluir a baía de Minamata e serem indenizados, apesar dos sintomas irreversíveis. A gente achou que isso seria um bom exemplo para comparar com o que está começando a acontecer no Brasil", destacou o diretor.

No filme, o neurologista Erik Jennings tenta alertar o povo Munduruku quanto aos riscos relacionados ao mercúrio no garimpo, atendendo a pacientes indígenas, cujos filhos passam por sérios problemas de saúde oriundos da toxicidade existente nas águas e peixes da região.

"Durante um outro trabalho que estava fazendo na Transamazônica, houve um encontro de lideranças indígenas e percebi que havia um médico presente ali. Eu achei estranho um médico lá e, em uma conversa ele me contou que estava ali porque havia uma demanda acima do normal de cadeira de rodas para crianças, e que eles desconfiavam que os sintomas apresentados já seriam um efeito da contaminação por mercúrio. As pessoas estão absorvendo o material através dos peixes, e de fato se constatou. Ele quem me chamou a atenção para a situação semelhante ocorrida em Minamata", revelou.

'Amazônia, A Nova Minamata?' traz uma denúncia e um alerta à sociedade quanto à utilização do mercúrio no garimpo ilegal e como esse material químico vem contaminando o solo e as águas, colocando em risco a vida dos povos indígenas.

"A questão do Mercúrio é apenas a ponta do iceberg de todas as questões da Amazônia. Então, não é que seja mais um problema, é o grande problema de saúde dos povos indígenas. Veja o que está acontecendo com os Yanomamis, isso já está generalizado na Amazônia. Não importa se é uma área que tem mais garimpo ou menos garimpo, o problema é que os peixes se espalham. E a questão do envenenamento por mercúrio é geral na Amazônia e não só em território brasileiro", alertou.

Até o mês de maio, as exibições da Mostra Ecofalante - Bahia alcançam a Região Metropolitana de Salvador, nas cidades de Camaçari (24 a 29 de abril) e Dias D’Ávila (24 de abril a 06 de maio). Já o Recôncavo da Bahia receberá o evento no segundo semestre, com sessões em Cachoeira (31 de julho a 9 de agosto) e Cruz das Almas (31 de julho a 10 de agosto).