MOSTRA DE SÃO PAULO
“Maestro” é aposta da Netflix para o próximo Oscar
O filme dirigido e protagonizado por Bradley Cooper foi exibido na Mostra de São Paulo
Por Rafael Carvalho | Crítico de cinema*
A Netflix tem se mostrado cada vez mais reticente com a exibição dos filmes do seu catálogo nos cinemas, antes de estrearem na própria plataforma de streaming. Alguns poucos são exibidos em festivais de cinema, como é o caso de “Maestro”, filme dirigido e protagonizado por Bradley Cooper – depois do sucesso da sua adaptação de “Nasce uma Estrela”, com Lady Gaga – que teve sessão especial durante a Mostra Internacional de Cinema São Paulo.
É o único filme da Netflix presente na seleção da Mostra e é também uma das maiores apostas da gigante do streaming para essa temporada de premiações que culmina com o Oscar. O projeto conta a história pessoal e profissional do músico e compositor clássico Leonard Bernstein, o primeiro norte-americano a alcançar fama e reconhecimento internacionais no campo da música clássica – sempre dominada pelos europeus, em especial os russos e alemães.
Uma das maiores qualidades do filme – que, infelizmente, não são muitas – é que “Maestro” não é uma cinebiografia convencional, dessas narradas em cronologia e dedicada a demarcar os principais acontecimentos da vida de uma personalidade. É claro que estão ali os momentos marcantes de sua vida e obra, mas o filme está mais interessado em apresentar, sem didatismo, ocasiões-chave de sua trajetória, algumas delas com certa liberdade poética.
Na primeira metade do filme, belissimamente fotografado em preto-e-branco, Cooper, como diretor, cria algumas sequências cheias de vigor e vivacidade, em planos-sequência que saem de um lugar e entra em outro completamente distinto – como aquele em que os personagens abandonam um jantar e entram numa sala de concerto –, especialmente para falar do encontro de Bernstein com aquela que seria sua esposa, Felicia (vivida por Carrey Mulligan).
E aqui está um foco especial que marcará a tônica do filme: a relação amável e também conflituosa entre os dois. O filme começa com uma entrevista do velho Bernstein que diz se lembrar dela como a pessoa que mais amou – Felicia morreria bem antes dele no final dos anos 1970. No entanto, o filme toca de forma muito livre e aberta nos casos que ele teve com outros homens no decorrer da vida – inclusive enquanto era casado com ela.
Aliás, as duas grandes coisas que o filme consegue afirmar sobre Bernstein é o quanto ele era genial e o quanto ele era bissexual. E isso está posto nos dez minutos iniciais de “Maestro”. O restante da trama é apenas a reiteração dessas duas marcas que o filme martela para o espectador, sem muita nuance ou interesse genuíno em dissecá-las ou problematizá-las. Nunca saberemos, de fato, o que tornou a música dele importante, quais elementos ele inovou ou reconfigurou no seu campo artístico.
Já suas escolhas sexuais ganham destaque apenas como curiosidade sobre os muitos casos que ele colecionou e, em certa medida, tornaram-se públicos, gerando brigas mais leves e outras mais sérias com a esposa, embora nunca saibamos qual era de fato o acordo que eles possuíam em relação a isso.
“Maestro” até pode oferecer um tratamento incomum para uma cinebiografia, mas todo o seu vigor criativo e certo tom operístico que toma conta dos minutos iniciais do filme se aquietam logo, sem se esforçar para sair desse lugar raso e repetitivo. Além de alguns momentos inspirados, ficam marcadas também as ótimas atuações da dupla de atores, em especial Cooper, que se entrega de corpo e alma para viver alguém que tão bem viveu a vida, íntima e profissionalmente.
*O jornalista viajou à São Paulo com apoio da organização do evento.
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