INGRESSOS A R$ 10
Mostra de cinema amplia debate sobre a arte palestina em Salvador
Organizadora do evento falou sobre importância de exibição em meio a conflitos entre palestinos e israelenses
Por Bianca Carneiro e Edvaldo Sales
Começa neste sábado, 21, a Primeira Mostra de Cinema Palestino de Salvador. A programação, que vai até a próxima quinta-feira, dia 26 - exceto dia 24 -, no Cinema do Museu, conta com cinco filmes de diretores palestinos, e ingressos a preço único de R$ 10 mais bate-papo após as sessões.
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Organizadora da exibição, a advogada e empresária Nádia Husein atua também como produtora cultural do Circuito Saladearte. Ela conta que a ideia dela e do pesquisador e curador Muntaser Khalil era promover mostras semelhantes às dedicadas ao cinema árabe, que ocorrem em São Paulo pelo Instituto da Cultura Árabe (ICARABE), e que a pauta acabou se tornando ainda mais urgente após o acirramento dos conflitos entre israelenses e palestinos, nas últimas semanas.
“O desejo sempre foi pensar os filmes palestinos de forma ampla, utilizando critérios de classificação precisos, para assim exibi-los ordenadamente em diversas mostras, o que requer bastante tempo e pesquisa. Porém, diante dos acontecimentos que eclodiram neste mês, decidimos que o feito é melhor do que o perfeito e que não podíamos mais adiar a missão de fazer a nossa parte para que a Palestina e seu povo sejam vistos”, disse ela ao Cineinsite A TARDE.
De famílias palestinas, Nádia e Muntaser vivem em Salvador. Em meio à guerra, que já deixou Nádia diz que realizar a mostra na capital baiana é importante para não só valorizar a cultura e arte produzidas pelo seu povo, mas também, ampliar o debate a favor da palestina.
“Todas as vezes que vou visitar minha família na Cisjordânia os palestinos me pedem para que eu fale da Palestina para as pessoas. Eles não pedem isso apenas a mim, mas a todos que os visitam. O sentimento de que a sua dor coletiva é insignificante para o mundo é terrível [...] Eu e Muntaser também achamos importante contribuir para que o debate sobre a situação atual se fortalecesse em Salvador, uma vez que outras capitais têm realizado diversos atos e manifestações a favor da Palestina”, afirma.
Programação
Na programação da Mostra estão os filmes “Paradise Now” (2005) e “Omar” (2013), de Hany Abu-Assad, “Intervenção divina” (2003) e “O paraíso deve ser aqui” (2019), de Elia Suleiman, e “Quando vi você” (2013), de Annemarie Jacir [veja dias e horários aqui]. De acordo com Nádia, a curadoria selecionou apenas obras de diretores de origem palestina, para preservar as narrativas identitárias.
“O principal ponto de partida da seleção dos filmes que serão exibidos foi o fato de que o cinema se tornou uma forma de diálogo entre os palestinos por todo o mundo. É por ele que histórias são contadas, costumes são registrados e modos de viver são compartilhados [...] Além disso, optar por diferentes gêneros permite mostrar variados pontos de vista sobre a Palestina e o que é ser palestino. Assim, pretendemos quebrar estereótipos ocidentais acerca da Palestina e mostrar o quanto os palestinos continuam um povo diverso em busca de autonomia e soberania sobre suas vidas”, explicou.
Para esta primeira edição, Nádia diz que a expectativa está “altíssima”, graças ao bom engajamento nas redes sociais. A produtora cultural adianta que uma segunda parte já está a caminho, em dezembro, e que uma terceira, ainda sem data, está nos planos. “Acreditamos que serão cinco sessões potentes, não só porque os filmes são maravilhosos, mas também pela oportunidade de conversarmos sobre os temas que surgirem, sempre de forma aberta e respeitosa”.
Terror fora das telas
Até a manhã da sexta-feira, 20, o Ministério da Saúde palestino contabilizou mais de 4 mil mortos na Faixa de Gaza. Na Cisjordânia, o número de mortes desde o início da guerra subiu para 81, segundo a pasta. Do outro lado, a quantidade de vítimas israelenses é de mais de 1,4 mil.
Toda a família paterna de Nádia, incluindo os seus cinco irmãos e o seu pai, vivem na Palestina Ocupada, em uma vila chamada Saffa, próxima à cidade de Ramallah. Ela, que está de passagem comprada para visitar a família em novembro, já considera improvável a viagem.
“Seria a primeira vez que levaria minha filha para conhecer a nossa casa, as nossas origens e a nossa família e isso é bem frustrante. Toda vez que me despeço de meus familiares e digo “até ano que vem”, o coração aperta, porque em razão da ocupação não sabemos se a minha entrada no país será possível ou se eles estarão livres ou vivos para me receber. Mesmo na Cisjordânia, onde fica minha casa, distante de Gaza e do Hamas, Israel prende e mata palestinos indiscriminadamente [...] A vida na Palestina Ocupada não é fácil nem simples, mas a coragem e doçura do meu povo sempre me inspiram”, relata.
Para Nádia, produzir a Mostra é garantir que os palestinos tenham voz em meio aos diversos discursos midiáticos e populares em torno dos conflitos.
“Da última vez que estive lá, em janeiro deste ano, deixei roupas e objetos pessoais na minha parte do guarda-roupa, como se isso fosse fincar minhas raízes ou garantir meu retorno...Não deu certo. Estou impedida de vê-los e tudo o que espero é reencontrá-los o mais breve possível, livres e vivos [...] Diante da invisibilização do povo palestino há sete décadas e de sua demonização nos dias atuais, esta Mostra de Cinema Palestino é importante para apresentar narrativas palestinas através da arte, estimular o diálogo e propiciar encontros e debates honestos sobre um povo que precisa resistir para existir”.
Serviços
Primeira Mostra de Cinema Palestino de Salvador
Quando: 21, 22, 23, 25 e 26 de outubro
Onde: Cinema do Museu, localizado no Corredor da Vitória
Quanto: Ingressos a preço único de R$ 10
Onde comprar: Na bilheteria do cinema ou através do WhatsApp (71) 999315-7956 [via PIX].
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