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26/11/2023 às 6:00 - há XX semanas | Autor: João Paulo Barreto - Crítico de cinema

CRÍTICA

"Napoleão" tem foco maior em batalhas e menos em fidelidade histórica

Confira as sessões do filme em Salvador no Cineinsite A TARDE

Como disse o próprio Napoleão: "A glória é fugaz, mas a obscuridade é para sempre"
Como disse o próprio Napoleão: "A glória é fugaz, mas a obscuridade é para sempre" -

Há uma notória passagem histórica sobre a trajetória do general francês Napoleão Bonaparte (posteriormente alçado, a partir de um golpe de Estado, à posição de imperador), quando este levou sua ofensiva militar ao Egito para ocupar a região e cooptar seu exército como parte de uma estratégia para chegar à India, país dominado pelos britânicos.

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Em tal passagem, que muitos historiadores chamam de lenda, aborda-se a Batalha das Pirâmides e o momento no qual, supostamente, o exército francês destruiu parte da Esfinge de Gizé, tornando o rosto da estátua desfigurado e sem nariz. Reza tal lenda que Napoleão, enfurecido diante da destruição, teria conclamado seu exército diante daquele milenar monumento como modo de refletir sobre o ato impensado de desrespeito à História ao mirar seus canhões para a onipotente, mas inofensiva, esfinge. "Contemplem milênios de História", teria dito um raivoso Bonaparte às tropas.

Tal momento de fúria contra suas próprias tropas não está em Napoleão, gigantesco épico dirigido por Ridley Scott e protagonizado por Joaquin Phoenix. Vemos, no entanto, a batalha em frente às pirâmides, quando o francês subjugou o exército otomano e dominou o território. Vemos, também, o general, na austera figura do ator de Coringa, diante da esfinge e de um faraó mumificado, a quem tenta se igualar, em cena repleta de simbolismo. A fala, porém, mesmo ausente aqui, ecoa na mente dos que conhecem um pouco da trajetória ascendente de Napoleão após a Revolução Francesa, e é ilustrada pelo roteiro de David Scarpa e pela direção de Scott de modo, se não fiel ao que a História traz (como muito se tem dito), ao menos eficiente dramática e cinematograficamente.

Isso porque o diretor de Gladiador (2000) optou por escalonar sua biografia de Napoleão Bonaparte através de suas várias batalhas travadas no caminho de sua dominação do território europeu, ampliando a intensidade de seus momentos a cada representação dos embates. Em seu primeiro ato, vemos o estrategista militar ainda galgando posições e tendo reconhecida sua inteligência bélica ao recuperar o porto de Toulon da posse britânica, em uma sequência de guerra que permite a Ridley Scott apontar direcionamento e tom do filme.

À medida que sua ascensão se dá e sua relação com o modo como visa não somente a dominação territorial e econômica, mas, também, a sua eternidade como mito histórico, a frase diante da Esfinge de Gizé, mesmo que não comprovada, se torna um definição de como Napoleão passa a enxergar sua existência.

Contextualização histórica

Em paralelo ao foco direto na trajetória do general e futuro imperador, vemos os ecos da Revolução Francesa sendo apresentados por Scott e Scarpa através de um resumo dos aspectos históricos e políticos de sua narrativa.

Ao abrir o filme com a famosa guilhotina em ação, vê-se situado o período imediatamente posterior à Queda da Bastilha, fortaleza onde o então Rei Luís XVI aprisionava seu inimigos políticos e que foi tomada pela revolta popular dos sans-culottes, massa camponesa sufocada pelos altos impostos pagos para manter o luxo do clero, dos nobres e de parte da burguesia. Tal evolução levou à proclamação da República e à consequente prisão e decapitação do rei, acusado de conspiração contra-revolucionária junto a outros absolutistas da Europa.

Um dos líderes da Convenção, movimento político radical que chegou ao poder, Robespierre assumiu o governo na França buscando conter os atos de retorno da alta burguesia ao domínio político. Tal fato não tardou muito a acontecer por conta de um desequilíbrio entre a necessária criação de leis protetoras das massas e a taxação dos ricos.

Calculista e carente

Após isso, a onda contra-revolucionária atinge o governo de Robespierre, que é deposto. Em uma frustrada tentativa de suicídio, acaba não escapando da guilhotina. Ridley Scott e David Scarpa encontram um equilíbrio eficiente entre essa necessidade narrativa de se contextualizar os bastidores políticos e históricos de sua trama para além do espetáculo visual, e o fazem mantendo um modo frenético de abordar essas sequências. A citada tentativa de suicídio, bem como a maneira monstruosa como Napoleão opta por conter uma revolta popular através de balas de canhão, desenha de maneira precisa essa balança.

De modo a humanizar a figura do general, porém, temos o arco romântico entre Napoleão e sua amada, Josephine (Vanessa Kirby). Aqui é quando Scarpa e Scott optam por criar uma forma de mesclar o citado perfil metódico e calculista do militar com seu comportamento vulgar, obsceno e quase infantil diante de uma carência afetiva perceptivelmente incômoda para si próprio. Essa opção é algo marcante em cenas nas quais o vemos ter relações sexuais com a dominadora Josephine, em momentos que beiram ao cômico e patético diante da forma como um general que demonstra tamanha austeridade se desconstrói e fragiliza-se em sua intimidade. E, claro, percebe-se como a força da personagem de Josephine é explicita perante o modo consciente como consegue dominar e manipular aquela figura de tamanho poder.

Ao trazer para destaque, também, o domínio diplomático da figura de Napoleão dentro da necessidade de criar conluios entre os países aliados da França, o roteiro de David Scarpa, mesmo que de maneira rápida e um tanto superficial, ainda consegue trazer para sua audiência mais essa face de seu protagonista. Em um filme de 2h38min, é louvável notar essa maneira como o roteiro, mesmo focado nas várias sequências de guerra, ainda encontra tempo para um mínimo aprofundamento.

Mas ainda é em suas cenas de batalhas que Napoleão destaca o ainda firme pulso de Ridley Scott. Subestimado cineasta e operário do cinema, capaz de arriscar-se em projetos cuja constância denota seu perfil workaholic (o que, claro, leva a certa irregularidade em muitos dos seus filmes), o diretor de Alien (1979), Blade Runner (1982) e Falcão Negro em Perigo (2001), consegue, aos 85 anos, criar momentos únicos visualmente. São cenas como aquela em que vemos a formação bélica em movimentos de auto-proteção do exército francês durante a Batalha de Waterloo (algo que remete aos espartanos), ou quando a sequência do conflito contra os russos, em uma congelante e inóspita região, destaca mais uma vez o domínio estratégico do aqui protagonista e a sua visão matemática e calculista da guerra.

E tal visão acaba encontrando rimas com o próprio domínio de Ridley Scott dessa labuta cinematográfica que o veterano persegue há quase seis décadas.

Como dito, sua dedicação constante e frequência de trabalhos nem sempre encontra a glória. Mas ainda é louvável vê-lo, após décadas, ainda se dedicando ao cinema.

Como disse o próprio Napoleão: "A glória é fugaz, mas a obscuridade é para sempre."

Napoleão (Napoleon) / Dir.: Ridley Scott / Com Joaquin Phoenix, Vanessa Kirby, Edouard Philipponnat, Youssef Kerkour, Matthew Needham, Cormac Hyde-Corrin, Anna Mawn, Tahar Rahim Rupert Everett, Mark Bonnar, Ludivine Sagnier / Salas e horários no Cineinsite A TARDE.

Trailer:

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