CCXP 2022
Nerds, geeks e cosplayers: baianos marcam presença na CCXP22
Feira em São Paulo reúne admiradores da cultura pop que viajaram da Bahia só para prestigiar evento
Por Bianca Carneiro
Mais de 1.900 quilômetros separam Salvador de São Paulo. A distância, no entanto, foi um pequeno detalhe para um grupo de baianos que veio participar da CCXP22, que acontece até o domingo, 4, no São Paulo Expo. Da capital baiana para a paulista, não faltaram baianos apaixonados pela cultura pop no evento, que é considerado o maior do segmento no Brasil, e um dos maiores do mundo.
Cosplayer há 11 anos, o bancário Miguel Figueiredo, 38, frequenta a CCXP desde a primeira edição, em 2014. Neste ano, a feira, que retomou o formato presencial após dois anos de pandemia, está bem maior, segundo o baiano. “Achei ela com mais lojas, com temáticas geeks mais estandes com atrações geeks, coisa que eu senti falta em 2019”, explica ele, cujo nome artístico é Miguel Mário.
Caracterizado como o personagem Hank da animação Caverna do Dragão (1983), Miguel diz que começou a fazer cosplay por acaso, após ser comparado com o encanador Super Mario da série histórica de videogames da Nintendo. Ele explica que a arte do cosplay vai além de apenas usar uma fantasia.
“Eu acho que é o fato de trazer o personagem à vida e levar alegria. Tem que interpretar, interagir com as pessoas que gostam do personagem, é muito bom espalhar alegria onde chega”, aponta ele.
Neste ano, Miguel apostou em personagens mais nostálgicos para interpretar, entre eles, Wheeler da série Capitão Planet, Aldebaran de Touro, de Cavaleiros do Zodíaco e Lion dos ThunderCats. A caracterização é levada a sério pelo bancário, que chegou a pintar as sobrancelhas de amarelo para ficar mais fiel a Hank. Já a flecha utilizada pelo arqueiro foi confeccionada pelo próprio cosplayer em EVA e tecido.
“São personagens que marcaram a minha infância, a grande maioria deles. Pouquíssimas pessoas fazem cosplays mais nostálgicos. Então eu penso sempre naquele desenho animado que pouca gente faz, versão de um jogo mais antigo (..) Minha mãe é costureira, eu faço encomenda com ela mesmo, mas tem pessoas que aprendem a costurar ou então consegue algum cosmaker (quem produz as fantasias) de confiança. Agora eu aconselho todo mundo aprender é bom demais. Você dá vida àquela roupa. Essa flecha aqui mesmo eu fiz ela toda manualmente”, conta.
Uma das atrações que acontecem em todas as edições da feira é o desfile de cosplayers, que acontece em todos os dias do evento. Na sexta-feira, 2, o vencedor foi um baiano: o administrador e segurança Frederico Dias, o Fred Stan, de 38 anos. Caracterizado como o feiticeiro Doutor Facilier, do filme A Princesa e o Sapo, ele voltará no próximo ano a CCXP com as despesas todas pagas, prêmio do concurso.
“Eu faço cosplay há mais de 15 anos, praticamente da época que tudo era mato (brincou). Começou mais como hobby, né? Mas hoje, sou chamado para fazer serviços de divulgação. Recentemente, a Warner me chamou para uma ação como Raiden de Mortal Kombat”, diz.
Com Frederico, que também está na CCXP desde a primeira edição, o gosto pelo cosplay começou através dos games. “Uma vez foi num evento pra um campeonato, quando eu vi o pessoal todo fantasiado de personagem que eu gostava, aquilo me encheu os olhos”. Esta não é a primeira vez que Frederico ganha o desfile de cosplay da CCXP. Recordista, ele venceu em 2015, em 2017 e em 2019. “Quando você ‘bota’ o personagem, tem que abandonar você. Você pode ser estudante, advogado, administrador, nada do personagem, mas você tem que ser como ele, andar como ele, fazer os gestos como ele, principalmente porque as pessoas querem tirar foto, e não vai ser aquela foto formal, sabe? Você tira foto como o seu personagem”, afirma.
Em meio a conversa com o Portal A TARDE, o ‘Doutor Facilier’ da Bahia foi abordado por diversas pessoas, que pediram fotos. Frederico, que já chegou a sentir vergonha do passado, hoje conta que adora ser prestigiado pelo público.
“A coisa que eu mais quero fazer é botar o cosplay, andar pelo evento e tirar foto com as pessoas que reconheceram meu cosplay (...) Eu me esforço pra ficar 100% do personagem, todos os itens de roupa, costura, cabelo, lente de contato roxa…Esse é meu momento de destravar, porque você tem uma ano tenso de trabalho, de estudo. Então quando você tá num evento de cosplay você realmente vira um novo ser, uma nova pessoa, esquece que tem problemas, né? É muito bom”.
Já o técnico em informática Francisco Moraes, 39, não é adepto ao cosplay. Presente na CCXP desde a terceira edição, ele reclama que faltam eventos voltados à cultura pop em Salvador. “São raros os eventos geeks por lá, até junho, julho, e daí em diante, você tem um atrás do outro e a maioria acaba colidindo”, lamenta.
Ele diz que feiras como esta ajudam a quebrar preconceitos sobre o mundo geek/nerd. “Até alguns anos atrás, diria cinco, dez anos, o nerd tinha aquele estereótipo, aquele cara idiota que faz informática, e não sei o quê, e que não sabe fazer mais nada da vida, só curtir. Agora a gente tem um público imenso e tem agregado a galera que vem acompanhando os nerds, então é uma outra visibilidade pra gente”, pontua.
Na pista
Para além do público em geral, também não faltou baiano na line-up da CCXP22. No domingo, 4, último dia do evento, Lázaro Ramos participa, pela Prime Video, do painel sobre a nova franquia de filmes Um Ano Inesquecível.
No Artists' Valley, seção considerada o coração da feira, dedicada ao trabalho de quadrinistas, ilustradores, coloristas, roteiristas e artistas, um dos destaques é Hugo Canuto, um dos finalistas do Jabuti 2020, o mais tradicional prêmio literário do país, por "Contos dos Orixás", HQ que transforma divindades africanas em super-heróis.
O artista, que participa da CCXP desde 2015, celebra a volta ao presencial. Para ele, o evento é de suma importância para divulgar o trabalho. “Aqui a gente tem a oportunidade de apresentar pro público artes, esboços, histórias de quadrinhos, livros em quadrinhos, artbooks que são livros só com imagens, com iconografias, né? É um momento muito gostoso de poder mostrar o que a gente vem produzindo ao longo dos últimos anos”, explicou ele ao Portal A TARDE.
“A CCXP transformou a cena de quadrinhos, diferente de qualquer outra convenção do mundo. Ela coloca no Artists' Valley os criadores de quadrinhos. Então, todo o público passa e com isso, cria contato, cria relação, descobre histórias, principalmente para um evento que muitos autores como eu, que são autores independentes que têm histórias próprias, né? Que não estão trabalhando pelas grandes editoras e têm a oportunidade de mostrar para o público imenso o seu trabalho", afirma.
Embaixadora da CCXP22, a baiana Andreza Delgado é também uma das fundadoras da Perifacon, primeira convenção de cultura nerd da favela, que vem conquistando espaço no mercado e dando voz a grandes talentos das periferias de São Paulo. Ela explicou que o objetivo da ‘Perifa’, que já existe há quatro anos, é democratizar a cultura média e pop.
“Esse espaço, essa coisa da gente estar ocupando hoje, às vezes, a gente vem mostrando a potência da periferia, é incrível, né? Mostra que nós enquanto população negra, pobre e periférica oferecemos muito mais do que só essa lógica racista e classista que na periferia só tem violência, né? A gente é potência, a gente é muita coisa para além dos esteriótipos e a gente tá atravessando essa ponte, né? A gente está atravessando a ponte dos artistas com a gente", comenta.
Sobre as dificuldades ao acesso da culpa pop, ela reforça a importância dos artistas saírem da bolha. "Eu acho que falta um pouco o público também se mover para encontrar sair da bolha, né? E procurar mais cursos de periferia dos artistas negros. E acho que a perifa quando ela vem também nesse sentido querendo democratizar a cultura na cultura pop e viabilizar quem tá produzindo do fato", finaliza.
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