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CINEMA

Novo Pânico surpreende os fãs puristas

Filme funciona como reboot e sequência ao mesmo tempo

Por João Gabriel Veiga*

16/01/2022 - 8:30 h

Uma garota está sozinha em casa à noite, despreocupada e se divertindo, até que o telefone toca. “Qual é o seu filme de terror favorito?”, pergunta uma voz macabra do outro lado da ligação. Essa cena abriu o Pânico original (dirigido pelo lendário Wes Craven em 1996), e se tornou um dos momentos mais marcantes não apenas da franquia, mas do terror como um gênero.

Entre gritos e facadas, o jogo de gato-e-rato entre o assassino Ghostface e a jovem Sidney Prescott usou a linguagem e os clichês do subgênero slasher para tecer comentários sobre a cultura pop, a indústria do entretenimento e seus efeitos na sociedade com um humor inesperado e irreverente — misturando o susto genuíno com o cinismo das sátiras.

Nos últimos 25 anos, a série de filmes teve seus altos e baixos, mas em seu quinto filme — também intitulado apenas Pânico —, a trama retorna para a famosa cena de abertura do original para continuar brincando com a metalinguagem e as “regras” do gênero do terror que as instalações passadas discutem. Sob nova direção, da dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (responsáveis pelo revigorante Casamento Sangrento, de 2019), Pânico reafirma duas regras de ouro: não confie em ninguém e não estrague o final do filme.

Trazendo a heroína Sidney às suas origens e a unindo com um elenco novo da Geração Z, o enredo nos leva de volta para a cidade fictícia de Woodsboro, quando alguém resolve vestir o capuz do Ghostface, iniciar uma nova onda de mortes e cutucar feridas do passado. Velhos hábitos nunca morrem — e nem Sidney.

Carta de ódio aos fãs

Um comentário cada vez mais comum sobre filmes é como eles são “uma carta de amor aos fãs”. Após uma década sustentada por reboots, remakes, continuações e universos compartilhados, todo longa que coloca um ponto final (ou apenas uma vírgula) nas franquias, reunindo rostos antigos do elenco em momentos emotivos repletos de autorreferências ganha esse selo de declaração aos entusiastas.

Eles variam de qualidade e do quão genuínas suas emoções são, mas essa descrição por si só já se tornou um grande clichê. Já Pânico é uma grande carta de ódio aos fãs – e por isso mesmo é maravilhoso.

À primeira vista, o filme parece repetir essa fórmula em adição ao próprio modus operandi da franquia. É emocionante ver personagens já conhecidos enrugados e mais velhos, assumindo posturas paternais em relação à nova geração de jovens em apuros.

No entanto, Pânico é um trabalho determinado em usar a nostalgia como isca. Se alguém entra na sala de cinema esperando o infame fan service e reciclagem de atos passados, será surpreendido com ironias sobre o estado de pouca originalidade do entretenimento moderno.

Sem entrar em pontos específicos da trama — o que pode diminuir o impacto de surpresas que fazem parte da experiência da produção —, Pânico demonstra muita auto-consciência sobre o que parece para um olhar distante: mais uma continuação enlatada e preguiçosa. No entanto, o filme usa essa expectativa para investigar não apenas o que torna essa série tão marcante, mas também por que fãs em geral se apegam e exigem tanta nostalgia (pela própria nostalgia e gratuita) em detrimento da criatividade.

É oportuno e sagaz que esse seja o ângulo do longa, já que nunca antes os fãs se rebelaram tanto contra os criadores de suas obras amadas. De Star Wars a Caça-Fantasmas, as comunidades on-line de fãs mostraram na década de 2010 o quanto os admiradores são opostos a qualquer mudança que tire suas franquias da zona de conforto.

Mesmo com uma variedade cada vez maior de filmes e seriados, parte do público tem rejeitado passionalmente ser desafiada ou apresentada a algo ligeiramente diferente.

Pânico, no entanto, não fica apenas reclamando de braços cruzados. Um dos melhores capítulos da franquia, o filme realiza um feito impressionante. Ao mesmo tempo que revisita seu legado e faz jus ao longa homônimo de 1996, está a todo momento debochando desse comportamento dos fãs e tomando decisões que facilmente frustrariam um purista. É um filme leal ao espírito anarquista de Wes Craven, prestando homenagem ao original enquanto não tem medo de ousar, arriscar e mudar.

Novos começos?

No entanto, Pânico também abre — ou melhor, arromba — portas para novos rumos. Por focar mais em uma nova geração de personagens, funciona como uma apresentação para um público novo que não é versado no universo da série. Soando como um novo começo, é uma entrada revigorante e extremamente divertida para além de seus insights metalinguísticos.

Pânico mescla com destreza o humor com o terror. As cenas de perseguição e matança têm doses grandes de adrenalina, se desenrolando de maneiras e em momentos inesperados. Essas sequências são construídas com pistas falsas que levam o público a acreditar que algo irá acontecer, apenas para virar o jogo e pegar todos desprevenidos. Elas podem não ser tão inventivas e elaboradas quanto outras anteriores, mas compensam na visceralidade. A tensão é constante quando se percebe que todos correm perigo.

Além disso, o elenco novo é carismático e entende o ritmo sangrento desse misto de terror com comédia de humor negro, salvo a exceção da insípida Melissa Barrera, que infelizmente é um dos focos do filme apesar de sua falta de presença de tela. Com destaque a Jenna Ortega, uma das novas protagonistas, Mikey Madison e Jack Quaid, cada membro do elenco incorpora e brinca com os estereótipos de seus personagens, vendo graça e três dimensões em seus papéis.

Pânico pode ser um ponto final ou uma vírgula, mas definitivamente é um grande texto. A artificialidade de sua roupagem é uma camuflagem para uma discussão pertinente sobre o estado vegetativo da cultura pop, e o faz sem abrir mão do entretenimento e dos sustos.

Sem se levar mais a sério do que deve, o longa tem muito a dizer e faz com que o público se interesse mais pelas vítimas do que pelo vilão mascarado. Igualmente bobo e inteligente, Pânico é uma diversão despretensiosa porém sagaz.


Serviço

O quê: Pânico (Scream) / Dir.: Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett / Com Neve Campbell, Jenna Ortega, David Arquette, Courteney Cox

Salas e horários: cinema.atarde.uol.com.br

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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