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23/07/2023 às 6:00 - há XX semanas | Autor: João Paulo Barreto | Crítico de cinema

CINEINSITE

Oppenheimer constrói documento definitivo sobre a estupidez da guerra

Novo longa Christopher Nolan mergulha na mente de um dos físicos por trás da bomba atômica

Imagem ilustrativa da imagem Oppenheimer constrói documento definitivo sobre a estupidez da guerra
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A noção da capacidade do poder da destruição pelo homem através da genialidade é o ponto central da narrativa de Oppenheimer (2023), novo filme do cineasta britânico Christopher Nolan. Tal poder, comparável ao de um deus, tem essa característica salientada logo no letreiro inicial, quando o mito grego de Prometeu é citado. Punido por Zeus, Prometeu é a divindade que entregou o fogo aos humanos, concedendo-lhes, assim, a sapiência.

Nolan, diretor e roteirista responsável por revitalizar a franquia Batman e a ousar desafiar narrativas cinematográficas com A Origem (2010), Interestelar (2014) e Tenet (2020), entendeu o ponto de equilíbrio no mais recente trabalho, ao focar a lente no ambicioso projeto biográfico do homem responsável por liderar o grupo de físicos que construiu, sob o suporte financeiro do governo dos Estados Unidos, as bombas atômicas que dizimaram as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945.

O resultado foi a quase total obliteração de ambas localidades, matando instantaneamente mais de cem mil pessoas (e condenando outras centenas de milhares a morrer de modo excruciante nas semanas e meses seguintes) no evento conhecido por encerrar a Segunda Guerra Mundial.

Tal noção de poder é apresentada à audiência durante as três horas de projeção com o peso que o mesmo impõe sobre seu protagonista-título, Julius Robert Oppenheimer, vivido por um inspirado Cillian Murphy, e no embate consciente que o mesmo trava com a percepção de que aquele poder precisa ser conquistado antes que o inimigo, os nazistas, o conquistem. Mas além desse embate particular do personagem central, antes de inserir o necessário julgamento moral que a obra precisa pesar sobre aquela figura histórica, o que o roteiro de Nolan traz, baseado no livro publicado em 2005 e escrito por Kai Bird e Martin J. Sherwin, é um vislumbre do que motivou a genial mente de Oppenheimer a seguir por aquele caminho. E isso é feito a partir de uma consciente escolha em desenvolver as motivações daquele homem dentro de uma ótica científica.

Ciente, obviamente, dos riscos que suas descobertas trariam para a humanidade, mas calcadas em um desejo de desvendar os desafios práticos que o campo teórico da Física, dentro do estudo da fissão do átomo, lhe apresentava, o cientista de origem judaica, financiador de revolucionários que o Partido Comunista mantinha na Guerra Civil espanhola, seguiu em frente na sua pesquisa, alegando a convicção de que era preciso dominar aquele conhecimento antes que os alemães, os russos ou os japoneses o fizessem. Não por acaso e diante da consequência de tamanho poder desenvolvido por homens capazes de emular o poder de destruição dos deuses, o livro de Bird e Sherwin foi batizado como American Prometheus. Nada mais adequado.

Narrativa documental

Nolan opta por desenvolver sua narrativa trazendo de modo cronológico toda a trajetória do personagem na pesquisa que o levou ao fatídico agosto de 1945. Mas para além do formato, traz para a trama acontecimentos futuros que desencadeiam as consequências políticas do pós guerra para a vida de Oppenheimer. Acusado de não manter-se fiel aos EUA por demonstrar publicamente arrependimento e culpa nas mortes que as bombas causaram a partir de sua participação como chefe do Projeto Manhattan, ele passa a sofrer com o escrutínio investigativo tanto do Senado estadunidense quanto da cúpula das Forças Armadas durante os anos 1950, época em que a Guerra Fria e a caça às bruxas do comunismo se tornaram as principais sombras do genérico medo da população daquele país.

A montagem da britânica Jennifer Lame (também responsável pela trabalhosa e matemática estrutura de Tenet), constrói aquele emaranhado de acontecimentos de maneira a criar uma narrativa deveras informativa em que Nolan, acertadamente, busca não basear suas resoluções em banais momentos de climax para a audiência. Ciente da importância dos fatos apresentados em seu roteiro, o diretor opta por manter seu filme quase como um aspecto documental, sem a obrigatoriedade de ceder a qualquer espetáculo visual banal que o tema abordado aqui poderia sugerir como uma armadilha a um cineasta vaidoso. Sim, Oppenheimer possui sua cota de espetáculo visual para uma obra que aborda a história por trás da criação da bomba atômica, mas o modo como tais momentos surgem em tela é um resultado da preparação de um complexo terreno.

Além disso e sem se render aos comuns maneirismos narrativos da construção de um personagem cuja genialidade pode flertar com o excentricidade, o roteiro de Nolan dá a Cillian Murphy uma oportunidade de construir a figura de Oppenheimer de maneira humana, repleta de inseguranças e falhas de caráter que acabam por refletir em seu trabalho.

Mulherengo e bígamo, Oppie, como é chamado por quem lhe é íntimo, surge, em determinado momento, nu em tela. A cena, que acontece de modo alegórico durante uma audiência perante autoridades, fica no limiar de parecer gratuita, uma vez que serve, também, para expor à sua esposa Kitty (Emily Blunt) o caso que o marido teve com Jean Tatlock, fisicista filiada ao Partido Comunista que, aqui, é vivida por uma Florence Pugh despida de pudores ou vaidade. Porém, mesmo com tal risco, o momento consegue desenhar para o espectador uma eficiente metáfora para o que estava sendo feito de modo proposital e manipulador com a reputação do cientista naquele momento.

Silêncios ensurdecedores

Trabalhando pela segunda vez com o compositor sueco Ludwig Göransson, e parecendo, assim, iniciar uma parceria que, antes, tinha Hans Zimmer como detentor de uma cadeira cativa ao seu lado, Christopher Nolan demonstra em Oppenheimer o mesmo maneirismo de guiar emoções através da tensão sonora aplicada nos diálogo que escreve para seus personagens. Incomoda em determinados momentos? Sim. Mas é compreensível que o diretor não queira trabalhar com o silêncio a pontuar as falas de seus atores.

Mas esse silêncio, no entanto, surge em pontos cujo simbolismo de sua presença se fazem valer de maneira mais impactante, como quando o protagonista se encontra com Albert Einstein (vivido por Tom Conti) e um diálogo que denota de modo pungente a reflexão assustadora e apavorante para a humanidade que está por trás de Oppenheimer como uma obra cinematográfica e literária.

Naquele momento, o encontro de dois gênios, um ciente dos riscos que a ousadia de querer bancar deuses pode trazer ao mundo, e outro, mesmo ciente, se colocando disposto a corrê-los, descreve de maneira precisa o que Nolan quis trazer ao público com a sua referência ao Prometeu e sua chama de conhecimento.

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