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STREAMING

Série baiana com Harildo Déda estreia nos canais digitais

Um dos últimos trabalhos do artista, 'Pequeno Gigante’ traz reflexão sobre política local

Por João Paulo Barreto | Especial para A TARDE

08/05/2024 - 18:01 h | Atualizada em 08/05/2024 - 18:26
Presença de Déda em cena causa impacto em nuances que vão da ideia de um simples olhar de afeto até uma explosão de raiva
Presença de Déda em cena causa impacto em nuances que vão da ideia de um simples olhar de afeto até uma explosão de raiva -

Exibida originalmente na TV aberta, em 2020, pela TVE Bahia, a série em 13 episódios Pequeno Gigante, com direção de Anderson Soares e produção-executiva de Aline Cléa e Wiltonauar Moura, acaba de chegar em diversas plataformas de streaming, como Looke, ClaroTV, Google Play, iTunes e Vivo Play. No Prime Vídeo, a estreia foi confirmada, em data a ser anunciada.

A chegada ao streaming foi possível por meio de uma parceria da produtora Cine Arts com a agregadora Larty Mark Digital, que negociou com os canais a entrada da produção baiana e de outras séries nos acervos das plataformas digitais. Para Moura, responsável pela Larty Mark, a estreia é um motivo de celebração.

“É a primeira série de ficção para o publico adulto desenvolvida e produzida na Bahia e por profissionais baianos. A série Pequeno Gigante conta com 107 atores, a grande maioria de negros. Ela carrega a cultura, o sotaque, os jeitos e a baianidade, mas sem estereótipos. No streaming, isso vai ser amplificado", comemora o produtor.

Pequeno Gigante, apesar de ficcional, aborda muito da realidade de Salvador, cidade que traz diversos embates de influências políticas e interesses de forças da especulação nociva do mercado imobiliário que exclui minorias e prioriza um contínuo domínio dos mesmos clãs familiares. Do coronelismo do período colonial ao populismo eleitoral a mover grana e derramar sangue, pouca coisa mudou, de fato.

De tempos em tempos, porém, surgem os "Davis" a lutar contra Golias. Aqui, o pequeno a lutar contra o gigante é o vereador Davi Passos, vivido por Guilherme Silva, um jovem político negro oriundo da periferia e que luta contra o avanço da citada especulação no fictício bairro de Nova Nigéria, em Salvador. Tendo o cacique político Saul Dias Mendonça (Harildo Déda, em um dos seus últimos papéis) como mentor, essa influência acaba virando atrito, quando o conflito entre ambos tem inicio.

Harildo Déda eterno

A presença de um dos mestres do teatro baiano, o saudoso Harildo Déda, torna essa chegada ao streaming ainda mais importante por permitir que mais pessoas saibam quem foi esse gigante e conheçam um dos seus derradeiros trabalhos. Um dos roteiristas da série, Jarbas Éssi, que também trabalhou como assistente de direção no projeto, foi o responsável por acompanhar o veterano ator em seu processo de leitura do texto.

"Eu tive essa honra ao lado de Harildo Déda e pude ver o quanto ele era gigante no que fazia. Já estava com mais de 80 anos, mas bastava passar a cena com a direção e parecia ter ensaiado aquilo há anos", relembra Éssi, que pontua a experiência de décadas de labuta do ator.

“Muita coisa ele criava dentro dos textos longos, e o diretor, Anderson Soares, só pedia para que eu observasse a fim de que não saísse do nosso plano semântico. Era um show dentro do set de gravação. Harildo deixa um legado também nessa obra, que foi uma das suas últimas aparições em tela, e agora a série chega ao streaming e esse alcance vai poder levar a outras pessoas esse maravilhoso trabalho", confirma o roteirista.

No papel do cacique veterano e expert na arte de manipular novos apadrinhados e de usar com parcimônia e toxicidade seus tentáculos, Harildo Déda parece trazer todas as referências maquiavélicas de outro cacique real, que, agia através de "ações" que eram vendidas como atos de "competência" e "moralidade".

Sua presença em cena causa impacto por trilhar nuances que vão da ideia de um simples olhar de afeto pelo seu pupilo até o desdém e explosão ao percebê-lo escapando de sua influência naquela teia de conchavos dentro da máfia da especulação imobiliária soteropolitana.

Espelho real

Também roteirista da série, Vitor Sousa comenta essa relação da série com os aspectos reais, mas fugindo de um perfil panfletário. "Uma das coisas mais desafiadoras durante o processo de escrita de Pequeno Gigante talvez tenha sido manter a diversidade temática numa história que dialogasse com a realidade sem soar panfletária", confirma o roteirista ao relembrar o processo de escrita junto aos colegas.

“A Sala de Roteiro investiu um tempo considerável na construção dos perfis de cada personagem. A gente fez questão de explorar as múltiplas faces de cada um deles, especialmente suas falhas. Isso trouxe riqueza e tridimensionalidade pra cada trama, algo que, por sua vez, fortaleceu todo o arco da série", comemora Vitor.

Sobre a importância da série chegar ao streaming, bem como o legado de Harildo Déda neste que foi um dos seus últimos trabalhos, Sousa complementa: "A chegada da série aos streamings é de um valor imenso para o audiovisual baiano, primeiro porque tem o potencial de projetar nacionalmente uma história com a força de um protagonismo negro, com a cara e o sotaque baiano. Além disso, é uma boa maneira de homenagear o mestre Harildo Déda, que nos deixou ano passado, e imprimiu na obra toda sua experiência como um dos mais importantes atores da nossa terra", afirma.

Sintonia de ideias

A sintonia na Sala de Roteiro, que contou, também, com a escrita de Gustavo Erick, Lia Vasconcelos e Sylvio Gonçalves, também é atestada por este último, que relembra o período e o convite para o trabalho. “Sou um autor carioca que, em 2016, já havia tido a sorte de atuar como roteirista numa série da Rede Globo e em alguns longas-metragens. Embora meu primeiro roteiro filmado, Sem Controle, de 2007, tenha sido um thriller, a maior parte dos longas que escrevi foram comédias, como Confissões de Adolescente e os dois S.O.S. Mulheres Ao Mar", comenta Sylvio Gonçalves.

"Quando a produtora Aline Cléa me convidou para participar, em Salvador, da sala de roteiristas de uma série de suspense político, eu não hesitei em aceitar. Cheguei à Bahia preparado para me sentir o estranho no ninho, por estar muito distante da realidade que iríamos retratar, mas fui agradavelmente surpreendido por um grupo amistoso e generoso, que fez de tudo para que eu me sentisse em casa", pontua Gonçalves.

Para ele, esse processo também encontrou ecos na relação com o diretor. "Anderson Soares conduzia a sala de roteiro sempre nos instigando a buscar caminhos surpreendentes para a trama. Primeiro elaboramos um plot geral para todos os 13 episódios e escrevemos juntos o episódio piloto. Ele dividiu o grupo em três duplas. Formei parceria com o Vitor Sousa, e a afinação não podia ter sido melhor. Temos referências e formas de pensar estrutura dramática muito parecidas" comemora Sylvio, e finaliza com um resumo do processo coletivo: "As duplas escreveram quatro episódios, para em seguida trocarem de roteiros para os tratamentos seguintes. Dessa forma, todos os roteiristas colaboraram em cada episódio da série, sacramentando uma das criações coletivas mais enriquecedoras de que já participei".

Pequeno Gigante / Dir.: Anderson Soares Caldas / Com Guilherme Silva, Harildo Déda, Bruno Guimarães, Camila Bonifácio, Aline Brune, Amós Hebe / Disponível nas plataformas Looke, ClaroTV, Google Play, iTunes e Vivo Play. Breve no Prime Vídeo

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Tags:

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