José Ronaldo, o fenômeno de Feira
Desempenho do político nas eleições não tem precedente nas outras grandes cidades brasileiras
O resultado da eleição pra prefeito de Feira de Santana foi o mesmo em 2000, 2004, 2012 e 2016: José Ronaldo venceu em primeiro turno com mais de 60% dos votos. Nenhum outro brasileiro tem um histórico semelhante numa das 50 maiores cidades do Brasil. Outros venceram 4 eleições municipais nessas grandes cidades, mas nenhum venceu tantas com tanta folga num período tão curto. É um fenômeno sem precedente.
Outros detalhes tornam a história de José Ronaldo ainda mais única: ele nunca perdeu uma eleição majoritária em Feira. Até na eleição pra governador em 2018, quando Rui Costa goleou José Ronaldo por 76% a 22%, o ex-prefeito recebeu a maioria dos votos de Feira e seria eleito em primeiro turno se só os feirenses votassem.
Como se não bastasse, José Ronaldo será candidato a prefeito em 2024 e lidera numericamente a primeira pesquisa Atlas / A Tarde, apesar de estar tecnicamente empatado com Zé Neto, candidato do PT. Tudo indica que a eleição desse ano será o desafio mais difícil que o ex-prefeito de Feira já enfrentou.
José Ronaldo renunciou à Prefeitura pouco mais de um ano após o início do seu quarto mandato, iniciado em 2017. Na eleição de 2018, o grupo político dele era popular entre os feirenses. Em 2020, o então prefeito Colbert Martins venceu por 55% a 45% no segundo turno, uma vantagem pequena, inferior a 30 mil votos.
Depois de se engajar na campanha do seu ex-vice em 2020, José Ronaldo tem um problemão em 024: a pesquisa Atlasintel/A Tarde indica que 72% dos eleitores feirenses reprovam o desempenho de Colbert. Apenas 15% aprovam. O feirense está inflexível: a Atlas / A Tarde perguntou sobre o desempenho do prefeito em várias áreas e a reprovação se mantém em todas.
Em 2012, José Ronaldo superou a impopularidade de Tarcízio Pimenta, prefeito eleito com seu apoio em 2008. A diferença é que ele brigou com Tarcízio e venceu a eleição de 2012 como candidato de oposição. Em 2024, o jeito tem sido esconder Colbert Martins e apostar na histórica relação de José Ronaldo com o eleitor feirense.
O petista Zé Neto, candidato derrotado no segundo turno de 2020, vai tentar aquilo que ninguém conseguiu: vencer um dos maiores fenômenos da história eleitoral brasileira.
O recorde de José Ronaldo não é uma mera curiosidade, nem é uma informação relevante apenas para entender as eleições desse ano. É importante ter um olhar crítico sobre esse fato, seja qual for a conclusão: José Ronaldo é tão bom a ponto de justificar tão pouca alternância de poder?
Não sei. Os feirenses que se decidam. Sendo forasteiro, me limito a apontar que a história de José Ronaldo em Feira não é normal. Literalmente, não é a norma. Sei que é uma velha realidade com a qual os feirenses já se acostumaram, e justamente por isso escrevo este texto. É importante reconhecer esse fenômeno sem precedente na política brasileira.
Normalizar uma história tão excepcional é, além de tudo, um desrespeito à cultura da segunda maior cidade da Bahia, cuja tradição comercial permite que lá se encontre de tudo, especialmente o que é inusitado e peculiar. Honrando a fama, Feira tem seu próprio Ronaldo fenômeno. Ele é político, ainda joga e fará história em 2024, seja qual for o resultado da eleição.
*Pedro Menezes é economista e analista político
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo A TARDE