PECUÁRIA
Pastagens sem os cuidados podem causar doenças nos rebanhos
Com uma pastagem bem definida, a adubação torna-se muito mais eficaz
Por João Vítor Sena*
No inverno baiano, caracterizado por temperaturas amenas e chuvas irregulares, a adubação das pastagens surge como uma prática essencial para manter a produtividade e a qualidade da forragem. Apesar das temperaturas no estado variarem entre 14°C e 25°C, com noites mais frias em algumas regiões, a água das chuvas pode se infiltrar no solo e afetar a disponibilidade de nutrientes para as plantas, prejudicando diretamente a qualidade do alimento ofertado aos bovinos.
De acordo com o médico-veterinário Edward Paim, pastagens que não são bem administradas podem causar doenças e deficiências nutricionais nos rebanhos. “Alguns problemas podem ocorrer nos animais por causa de falta de mineralização da pastagem. Por exemplo, em pastagens degradas, onde o capim não apresenta a quantidade ideal de potássio que os bois precisam, é normal ver eles roendo o próprio pulso. A deficiência de selênio, assim como vários outros problemas, também pode ser causada pela falta de adubação no solo”, explica.
Durante o inverno baiano, a adubação é utilizada para garantir que as pastagens recebam os nutrientes necessários e mantenham boa qualidade durante todo este período, que ocorre entre junho e setembro. As chuvas podem favorecer o desenvolvimento do pasto, mas regimes pluviométricos muito intensos fazem o contrário, inundando o solo e prejudicando a absorção de minerais e outros compostos pelas plantas.
Isto impacta diretamente na produtividade da pecuária, já que, segundo um artigo publicado na Revista Agronomia Brasileira da Universidade Estadual Paulista (Unesp), os minerais estão diretamente relacionados às funções vitais dos bovinos, como a reprodução e a imunidade.
“Para a produção de carne e leite, é preciso que os animais estejam muito bem-nutridos. A produção de leite é uma atividade muito desgastante para as vacas, então nutri-las com forragens (de boa qualidade) acaba diminuindo o custo que o proprietário vai ter com ração. Isso porque, hoje em dia, o que mais pesa no bolso do proprietário de fazenda são as (rações) concentradas, porque geralmente eles não as produzem na própria propriedade, e sim compram em outros locais. Então, o que a gente mais quer numa empresa é diminuir custo, quanto menos você depender de subsídios (rações) que estão fora da sua propriedade, melhor”, destaca Paim.
Segundo Carlos Augusto Gomide, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o pasto precisa estar bem estabelecido para que a adubação seja efetiva. Isso implica em analisar os níveis de macronutrientes e micronutrientes disponíveis no solo, assim como analisar se ele é do tipo arenoso, argiloso ou misto. Os índices de PH também devem ser estudados, já que um solo com muito ácido compromete a absorção de nutrientes pelas plantas e é prejudicial à saúde dos rebanhos.
Espécie forrageira
A espécie forrageira ideal para o pasto é determinada a partir desta análise, em conjunto com as condições climáticas da região, do tipo de atividade da fazenda e da espécie de gado que caminhará sobre os pastos. Por exemplo, fazendas voltadas para a produção de leite podem preferir espécies que forneçam forragens de alta qualidade nutricional.
Com uma pastagem bem definida, a adubação torna-se muito mais eficaz. “O principal objetivo da adubação é aumentar o vigor dessas plantas e da disponibilidade de nutrientes, principalmente fósforo, nitrogênio e potássio. Isso vai aumentar a produção de forragem. Vamos garantindo a perenidade dessa pastagem, porque se o pecuarista tem uma pastagem mais exigente em fertilidade e não faz essa adubação de reposição, a tendência é que essas plantas forrageiras percam o vigor e a capacidade de competir com outras plantas (invasoras)”, aponta Gomide.
Mario Mascarenhas, pecuarista e diretor financeiro da Associação Baiana de Pecuária (Acrioeste), relata que nota o aumento na produção de forragem com a adubação das pastagens, mas também comenta que tem notado maior adesão aos adubos biológicos por parte dos pecuaristas. “Estamos na era do (adubo) biológico. Hoje quem está fazendo a nossa adubação é o próprio animal”, comenta.
Porém, apenas adubar as pastagens não é suficiente para que haja um impacto positivo direto sobre a produção de carne e leite. Gerenciar a lotação dos animais nos pastos e controlar a altura das forragens é fundamental, porque, se os rebanhos se alimentarem excessivamente das plantas, o ciclo de rebrota será prejudicado, dificultando o crescimento de novas folhas e exigindo mais recursos financeiros do produtor para recuperar os pastos.
Por outro lado, uma forragem muito alta significa que a planta já atingiu um grau de maturidade além do ideal, com poucas folhas e muito talo. Isso limita a absorção proteica do animal, impactando negativamente a atividade leiteira e na pecuária de corte.
Mascarenhas comenta que a junção de todas estas práticas aumentou a produtividade das suas fazendas. “Fiz um levantamento em 2011 de três propriedades. Em uma, eu produzia 21.3 arrobas (por hectare), 21 arrobas, em outra, e 4 arrobas, na última. Em 2012 (depois do manejo do pasto), a média das três propriedades chegou a 28 arrobas por hectare”, relata.
* Sob a supervisão da editora Cassandra Barteló
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