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A TARDE BAIRROS

O passado e o futuro se encontram no Campo Grande

Região nobre e cultural da cidade vive processo de revitalização

Por Letícia Belém

11/12/2024 - 1:00 h
Praça ganhou mudas de oitis, sombreamento e bancos de granito
Praça ganhou mudas de oitis, sombreamento e bancos de granito -

Emblemático núcleo de manifestações cívicas e culturais de Salvador, o Largo do Campo Grande vive a expectativa de voltar a ser protagonista da capital baiana, como já foi no século XIX e início do século XX, quando a elite da cidade orbitava o seu entorno, famílias tradicionais habitavam os palacetes construídos ao seu redor e os imigrantes ingleses se concentravam nas suas imediações.

As obras de requalificação do Complexo Cultural Teatro Castro Alves (TCA), o mais importante do estado, elevam a relevância do local e, associadas à iminente chegada do metrô e os eventos culturais planejados pelo Wish Hotel da Bahia para o próximo ano, projetam um novo ciclo de crescimento para a histórica região. Em 2025, a Praça do Campo Grande (Dois de Julho), concebida originalmente no século XIX, completará 130 anos de existência.

Ela é maior e mais imponente praça de Salvador e possui as árvores mais antigas da cidade, além de belos jardins associados a um lago, características que lhe conferiram o nome de Parque Duque de Caxias, no início do século XX. Ao seu redor, um conjunto de casarões e prédios históricos de relevância arquitetônica, artística e cultural contribui para conferir um status de bairro ou referência de endereço à região do Campo Grande que, na realidade, está situado no Centro da cidade, limitado pelos bairros da Vitória, Canela e Dois de Julho, e vizinho ao Centro Histórico.

Destacam-se o complexo do Teatro Castro Alves (1958), o principal teatro do estado, a Concha Acústica (1959), o Teatro Vila Velha (1964), o Passeio Público (1810), o Palácio da Aclamação (1912), o Forte de São Pedro (1624), o Wish Hotel Tropical da Bahia (1950) e a Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (1877).

Para dar maior visibilidade à fachada do TCA, que é tombado como patrimônio cultural e arquitetônico de Salvador, o largo foi reconfigurado este ano pela prefeitura municipal. O passeio do teatro foi alargado e o asfalto foi substituído por um novo piso intertravado, a fim de dar mais espaço ao público que se concentra no local em dias de shows e espetáculos.

Os abrigos de ônibus que ficavam na calçada do teatro foram realocados para o largo em frente ao equipamento para garantir mais conforto aos usuários do transporte público, e foi criada uma via exclusiva para ônibus cruzando o canteiro central para diminuir os congestionamentos.

Na praça, foram plantadas mudas de oitis, inseridas mais áreas verdes com sombreadores metálicos, instalados 20 bancos de granito e recuperadas as calçadas portuguesas. Foram criadas ciclovias também na rua Forte de São Pedro e na avenida sete de setembro, em frente ao Hotel Wish.

A histórica Praça da Aclamação também foi requalificada este ano e recebeu novo paisagismo, 48 luminárias em Led em 24 novos postes de fibra e infraestrutura elétrica completa, além de passeios em concreto usinado, piso de alta resistência, piso em pedra portuguesa e um deck de madeira para apresentações artísticas. O Obelisco em homenagem a Dom João VI, em granito português, criado em 1815 em seu centro para registrar a chegada da família real portuguesa a Salvador, foi totalmente restaurado. O Palácio da Aclamação, que foi residência oficial de diversos governadores da Bahia, irá se transformar em breve no Centro Cultural Banco do Brasil, potencializando a dinâmica cultural da região.

O Teatro Vila Velha também está sendo modernizado, com a construção de um novo eixo de circulação para o teatro (passarela, escadas e elevador), qualificação dos ambientes internos, sistema de ar-condicionado e melhorias na qualidade técnica e acústica do teatro, com a adição de novas tecnologias e equipamentos de ponta.

Testemunha da história

Ao longo de mais de um século, o Campo Grande testemunhou significativas mudanças na composição do seu entorno, como o serviço de bondes, o estabelecimento dos palacetes de famílias mais abastadas e o Hotel dos Estrangeiros (1888), de bandeira francesa, cujo anúncio dizia “esse hotel acha-se no quarteirão mais agradável da cidade alta e no centro dos passeios”, que mostra que a sua localização nasceu sendo privilegiada e continua até hoje, como zona nobre da cidade.

Aos poucos, a praça viu seu entorno sendo modificado com a presença de diferentes equipamentos e construções que foram substituindo as antigas residências, a exemplo do Hotel da Bahia, (atual Wish) em 1949, o primeiro hotel de luxo cinco estrelas de Salvador; o principal teatro da cidade, em uma de suas laterais, o Teatro Castro Alves, em 1957, viu a residência oficial dos Cardeais ser incorporada a um prédio de luxo (onde mora a cantora baiana Ivete Sangalo).

Também viu nascer e morrer os desfiles carnavalescos dos clubes de elite do século XIX, como o Clube Cruz Vermelha, cuja sede ficava no prédio ocupado hoje pela Fundação João Fernandes da Cunha, assim como as transformações do Carnaval até os dias atuais, em que o circuito mais tradicional (Osmar), inicia e termina no Campo Grande, dando a volta pela Avenida Sete de Setembro.

A maior praça de Salvador é palco ainda da realização de eventos populares e celebração de festejos, como a mais importante festa cívica do estado: a Independência do Brasil na Bahia, em 02 de Julho e os desfiles das celebrações do 7 de Setembro. Isso sem falar que é historicamente o espaço simbólico que acolhe a população em manifestações e passeatas reivindicatórias marcantes de movimentos políticos e sociais, além de ser um espaço recreativo e de convivência dos soteropolitanos enquanto área de lazer, passeios, contemplação, encontros e atividade física, estas tanto nos equipamentos de ginástica quanto na pista de cooper que rodeia a calçada externa na praça.

Chegada do metrô promete revigorar toda a região

Levar o metrô até a Praça Dois de Julho era uma demanda grande da cidade. Segundo a secretária estadual de Desenvolvimento Urbano, Jusmari Oliveira, o Campo Grande é um lugar especial de Salvador que todo mundo quer chegar, principalmente por conta das atrações do TCA e da Concha, mas também por conta da ampla oferta de serviços do bairro.

“Nós sabemos que as pessoas chegam até a Estação da Lapa, vindas de todos os lugares, com o objetivo principal de chegar ao Campo Grande, e aí têm que pegar outro modal, com toda a dificuldade da integração ser feita com um sistema de ônibus muito deficitário”, justificou. Ela acrescentou que turista nenhum vem a Salvador sem ir ao Campo Grande, onde também acontece a principal festa que é o carnaval.

“O nosso objetivo com o metrô é atender a essa população que quer chegar ao Campo Grande e também para as pessoas que moram ali ou que têm que sair dali, para o dia a dia do bairro, com um modal seguro, eficaz e sustentável que vai melhorar a qualidade de vida das pessoas”, disse a secretária.

Para ela, a chegada do metrô vai impactar a região também com geração de emprego e renda, melhoria dos empreendimentos residenciais e criação de novos estabelecimentos comerciais. O investimento total será de mais de R$ 2,2 bilhões.

Imagem ilustrativa da imagem O passado e o futuro se encontram no Campo Grande
| Foto: Túlio Carapiá

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