ESTRUTURA
Obras de requalificação e modernização do novo TCA serão referência na América Latina
Teatro icônico será repaginado
Por Letícia Belém
Ícone da arquitetura modernista no Brasil e principal complexo cultural do estado, o Teatro Castro Alves (TCA) passa pela maior e mais importante reforma da sua história, que o projetará como referência de requalificação na América Latina. As obras visam garantir a longevidade e modernização do espaço, sem interromper as atividades do complexo, que seguem a todo vapor na Concha Acústica e na Sala do Coro.
A terceira etapa das obras de requalificação, restauração e ampliação, que começaram em março deste ano, incluem a atualização tecnológica, normativa, técnica e acústica da Sala Principal. A introdução de tecnologia de ponta e equipamentos modernos, novos sistemas de mecânica cênica e soluções de engenharia do espetáculo pretendem resolver problemas antigos e dotar o espaço da melhor estrutura do País.
Esta última etapa abrange também a renovação das salas de ensaio do Balé Teatro Castro Alves e da Orquestra Sinfônica da Bahia. Contempla ainda o restauro do Foyer, a marcante área de entrada para a sala principal, com mais de 600 m2, que receberá aclimatização e passarela iluminotécnica especializada no teto para abrigar exposições, lançamentos de livros e coquetéis. A reforma inclui as bilheterias, a requalificação do Jardim Suspenso, do Restaurante Café Teatro, de todo o prédio central e salas administrativas.
Além disso, o Centro Técnico de Produção está sendo requalificado. É lá que são confeccionados os cenários, adereços e figurinos de toda a cadeia produtiva do teatro baiano. Com mais de 2 mil m2, ele abriga as instalações para as atividades de cenografia, maquiagem e caracterização, iluminação, concepção e execução de figurino. É também o espaço responsável pelo armazenamento e preservação do acervo de mais de 7 mil figurinos e dos cenários de espetáculos do TCA e da classe artística.
A previsão da Secretaria de Cultura da Bahia (Secult) é que as obras sejam concluídas até o fm de 2025 ou início de 2026. A intervenção tem o objetivo de deixar o TCA em pleno funcionamento por mais quatro décadas. O complexo é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2013 e tem o projeto arquitetônico de José Bina Bonyat Filho - premiado na IV Bienal Internacional de Artes de São Paulo - protegido.
De acordo com o diretor do TCA, Moacyr Gramacho, o projeto é totalmente diferente dos elaborados para equipamentos similares na década de 1960 e foi considerado radical pela sociedade à época por suas linhas e conceitos modernistas e minimalistas. A fachada é definida como uma linha, onde está o Foyer.
“Acima daquela lâmina, você tem o bico do triângulo, que tem apenas 20 centímetros, o que cria um conjunto todo harmônico sem janelas na frente. A altura maior fica para o fundo, que dá para o vale onde está implantada a Concha Acústica, mas que da praça ninguém consegue ver. O desenho da arquitetura é dominado pela geometria”, explicou Gramacho, que é arquiteto. Para ele, se o TCA tivesse sido construído em Nova Iorque, ainda seria um equipamento contemporâneo, porque é um ‘prisma fechado’ que transmite leveza.
Histórico de reformas
Esta não é a primeira reforma do TCA. Logo após a construção, entre 1957 e 1958, no terreno de 35 mil m2 em frente ao Campo Grande, a cinco dias da inauguração, um curto-circuito provocou um incêndio de grandes proporções que derrubou o teto do palco principal, destruindo-o totalmente. Depois de anos, deu-se início à reforma, e a sua efetiva inauguração ocorreu nove anos depois, em 4 de março de 1967, em plena ditadura militar.
Apesar disso, Gramacho conta que, das cinzas do espaço, nasceu a vanguarda do teatro brasileiro, já que os artistas ocuparam os seus escombros durante a reconstrução. “Em 1961, as ruínas do teatro foram palco para a emblemática montagem de Martim Gonçalves para a Ópera dos Três Vinténs, de Bertold Brecht, com cenários de Lina Bo Bardi, e para a peça de teatro de Albert Camus, Calígula. O Museu de Arte Moderna da Bahia também nasceu ali no Foyer da Sala Principal, em 1960, e tudo isso aumenta a força deste símbolo para a cultura baiana”, registrou.
A Concha Acústica, que não foi atingida, foi inaugurada em abril de 1959, e somente em 1978 foi oficialmente aberta a Sala do Coro. A segunda reforma aconteceu na década de 1980, quando a Concha foi fechada e reaberta apenas em janeiro de 1988. Já a Sala Principal passou por um processo de reconstrução que durou nove anos, entre 1898 a 1993.
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