A TARDE BAIRROS
Principal praça de Salvador vai completar 130 anos em 2025
Região foi sendo urbanizada por influência de colônia inglesa
Por Letícia Belém
Ela possui 33 mil metros quadrados, um projeto arquitetônico e paisagístico do século XIX, um conjunto de estátuas em pedra de estilo neoclássico, o imponente Monumento ao 2 de Julho com esculturas esculpidas na Itália e 129 anos de existência. A Praça 2 de Julho, mais conhecida como Praça do Campo Grande, ou apenas Campo Grande, se destaca na capital baiana não só pela sua beleza estética, paisagismo, amplidão e história, mas também por ser palco da maior manifestação cívica do estado: os festejos da Independência do Brasil na Bahia.
Na primeira metade do século XIX, o local era apenas um grande terreno pantanoso, irregular e acidentado, que servia de pasto para os animais e de campo de treinamento das tropas do Exército do Forte de São Pedro. Naquela época, a área era conhecida como Campo Grande de São Pedro, devido à existência de uma pequena capela com esse nome nas proximidades.
A região foi sendo urbanizada por influência da colônia inglesa que se instalara nas suas imediações desde 1810. Casarões e palacetes foram surgindo ao seu redor. Após a construção da Igreja Anglicana do Brasil no Campo Grande, a pedido do capelão Edward Parker, a área em frente ao templo foi aterrada até o nivelamento total, dotada de passeios e ajardinada com inspiração britânica, o que lhe concedeu ares de parque.
O reverendo plantou as primeiras árvores, que existem até hoje e se tornaram as mais antigas de Salvador. Os britânicos passaram a utilizá-las para os jogos de críquete. Foi assim que teve início a construção da praça por ordem do presidente da Província da Bahia, Francisco Martins, em um processo que levou cinco anos. O espaço foi inaugurado em 1855, com o nome de Praça Duque de Caxias, valorizando aquela área da Cidade Alta que já era a moradia da elite de Salvador, com palacetes das famílias mais abastadas. Passou a ser também um espaço de encontro, entretenimento e manifestações culturais.
Monumento ao 2 de Julho
Foi somente em 1895, nas comemorações da data decisiva para a Independência do Brasil na Bahia, que o largo passou a se chamar Praça 2 de Julho, com a inauguração do imponente Monumento ao 2 de Julho, conhecido popularmente como Monumento ao Caboclo. Os estudos para a sua concepção foram iniciados 23 anos antes, pelo governo da Província, para homenagear os heróis da Independência e representar a vitória brasileira sobre os colonizadores portugueses. A sua implantação ocorreu 72 anos após a entrada do Exército Pacificador no Centro de Salvador, em 2 de Julho de 1823.
De estética neoclássica, o conjunto do monumento foi esculpido em Carrara, na Itália, pelo artista italiano Carlo Nicoliy Manfredi, que era vice-cônsul do Brasil, à época. Sua figura central é a de um caboclo esmagando uma serpente com garras e asas. Tem 25,86 metros de altura e, à época, era o monumento mais alto da América do Sul. Sua coluna é de bronze, em estilo coríntio, sobre um pedestal de mármore de Carrara.
No topo, a escultura do caboclo em bronze, que veio de Roma, com 4,1 metros, armado de lança e arco e flecha, simboliza a identidade do povo brasileiro que lutou pela Independência. Ele mata um dragão, que está firme aos seus pés, simbolizando a tirania portuguesa. Na parte alta do pedestal, figuram, de um lado, a estátua de uma mulher, representando a Bahia e, do outro, a escultura em alto relevo da indígena tupinambá Catarina Paraguaçu, símbolo de resistência, com o lema ‘Independência ou Morte’ em seu escudo.
No patamar médio do pedestal, esculturas representam os rios São Francisco e Paraguaçu e a Cachoeira de Paulo Afonso. Águias e leões compõem alegorias que representam liberdade e república e as batalhas decisivas. Abaixo, oito candelabros de ferro, de sete metros, sustentados por pequenas tartarugas, adaptados para iluminação a gás, são do artista italiano Giuseppe Michelucci, e foram fundidos, em 1891, em Pistoia, na Toscana, assim como o gradil que cerca o pedestal de mármore.
Os mosaicos e ornamentos do pedestal, com referências a eventos da História do Brasil, foram feitos em Pietrasanta, na Itália. As esculturas das águias, cobras e jacarés foram fundidas em Roma. Todo o mármore veio de Carrarra, pedra única e requintada italiana utilizada em obras marcantes da Roma Antiga.
Ao redor da grande coluna de bronze, estão esculpidos os nomes de todos os heróis da Independência, de Maria Quitéria ao General Pedro Labatut. Há também inscrições dos locais e datas das batalhas campais da Guerra da Independência na Bahia: do Cabrito, de Cachoeira, do Funil, de Itaparica e de Pirajá. As partes em separado foram levadas da Itália ao Brasil e montadas no centro do Campo Grande pelo engenheiro Antônio Augusto Machado.
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