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A TARDE ESG

Árvores: armas contra as ilhas de calor nas cidades

Apenas nos Estados Unidos, calor extremo já custa à economia US$ 100 bilhões por ano

Por Eduardo Athayde*

11/12/2023 - 11:38 h
Uma copa saudável de árvore está entre as defesas mais eficazes e igualitárias contra o efeito da ilha de calor urbana
Uma copa saudável de árvore está entre as defesas mais eficazes e igualitárias contra o efeito da ilha de calor urbana -

As cidades hoje concentram mais de metade da população mundial e irão adicionar mais 2,5 bilhões de pessoas até 2050, ficando expostas a um ainda maior stress térmico na comparação com o ambiente rural. A exposição a altas temperaturas é amplificada pelo efeito ilha de calor, no qual edifícios, asfalto, veículos e outras infraestruturas retêm o calor, aquecendo ainda mais o ambiente. A densidade demográfica, a poluição atmosférica e a pobreza aumentam ainda mais a vulnerabilidade das pessoas no ambiente urbano.

Como 2023 parece ser o ano mais quente já registrado desde os tempos pré-industriais, alguns países já estão adotando sistemas de nomenclatura para ondas de calor, semelhante ao utilizado para furacões e tufões. A Sociedade Meteorológica Italiana, por exemplo, chamou uma onda de calor recente de “Cerberus”, lembrando o cão de três cabeças que guardava os portões no “Inferno de Dante!.

Julho de 2023 foi declarado o mês mais quente já registrado no mundo. Num discurso recente, o secretário-geral da ONU, António Guterres, focado no ESG, descreveu este ano como o início da “era da ebulição global”. Na Europa, mais de 60 mil pessoas morreram no ano passado por doenças relacionadas ao calor. Os problemas são especialmente graves em áreas urbanas densamente povoadas, onde o “efeito ilha de calor urbano” pode resultar em microclimas de cerca de 10 graus mais quentes do que as áreas circundantes.

O Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) afirma que o calor extremo nas zonas urbanas aumentará os níveis de mortalidade e de doenças a ele relacionadas, especialmente entre os idosos e as crianças pequenas. Ele prejudica a concentração e a cognição, afetando a aprendizagem e os resultados educativos das crianças, além de reduzir a capacidade de trabalho durante os períodos quentes em 20% ou mais. Só nos Estados Unidos, o calor extremo já custa à economia US$ 100 bilhões anualmente e a previsão é que o prejuízo aumente para US$ 500 bilhões até 2050.

No Brasil, a onda de calor extremo fez os termômetros dispararem. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), com dados que consideram as medições realizadas, 24 cidades brasileiras registraram temperaturas recordes em 2023, sendo que 21 delas alcançaram suas máximas em outubro. A maior, até o momento, foi em São Romão, município de 10.315 habitantes no norte de Minas Gerais, que registrou 43,5°C.

Soluções para mitigar o calor urbano estão em curso em todo o mundo. Enquanto as startups, operando em ESG, correm para inventar melhores aparelhos de ar-condicionado - produto lançado no mercado em 1926 por Willis Carrier e que hoje é responsável por cerca de 10% do consumo de eletricidade do planeta -, outras soluções estão sendo experimentadas baseadas em ativos naturais.

Em parceria com o governo da Índia, o Rocky Mountain Institute (RMI), dos EUA, lançou o ‘Global Cooling Prize’, um concurso de US$ 1 milhão para conceber a próxima geração de sistemas de refrigeração de ar. Os 1,2 bilhões de aparelhos de ar condicionado instalados hoje devem aumentar para 4,5 bilhões até 2050, de acordo com um relatório da RMI, um mercado em franca ascensão.

Uma copa saudável de árvore está entre as defesas mais eficazes e igualitárias contra o efeito da ilha de calor urbana. O refúgio embaixo de uma árvore pode diminuir a temperatura em cerca de 11 graus, na comparação com a luz solar direta, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos EUA. Além do alívio instantâneo da sombra, um processo chamado “evapotranspiração”, onde a água é transferida das plantas e do solo para a atmosfera, também ajuda a resfriar as áreas circundantes.

A cidade de Barcelona, por exemplo, tornou-se uma espécie de laboratório para intervenções urbanas progressistas. Seu ‘Plano Diretor de Árvores’ pretende cobrir 30% de suas áreas com uma variedade de espécies resistentes ao clima até 2037.

Na virada do milênio, o WWI, em parceria com a prefeitura de Nova York, maior cidade americana, aplicando o ESG, iniciava o levantamento de cada uma das suas 683.113 árvores. Hoje, os cidadãos nova-iorquinos conhecem o valor econômico individual das suas árvores, sabem que cada uma reduz a temperatura sob sua copa jogando no ar 150 mil litros de água por ano e produzem serviços anuais avaliados em cerca US$ 100 bilhões. É um padrão que está sendo seguido por várias cidades do mundo que plantam florestas urbanas visando a melhoria do ar, do clima local e da qualidade de vida dos seus cidadãos.

*Eduardo Athayde é diretor da Rede WWI no Brasil. [email protected]

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