CENÁRIO LOCAL
Salvador vive fase positiva no mercado imobiliário
Empresários ressaltam que os fundamentos do setor permanecem sólidos, sustentando boas perspectivas para Salvador

Por Divo Araújo

Em Salvador, os canteiros de obras seguem em ritmo acelerado. A movimentação, visível em diferentes bairros da cidade, reflete o crescimento consistente do mercado imobiliário nos últimos anos, impulsionado por fatores como investimentos em mobilidade urbana, infraestrutura e expansão do turismo. As perspectivas para o futuro são otimistas, em um cenário em que investimento em tecnologia e sustentabilidade são cada vez mais essenciais.
No ano em que a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA) festeja cinco décadas de atuação, o setor acumula resultados robustos. De 2016 a 2024, os lançamentos em Salvador saltaram de 1.624 para 10.691 unidades, alta de 558% no período. O ano de 2024 registrou o maior volume da série histórica, com avanço de 57% em relação a 2023, quando foram lançadas 6.792 unidades.
O mercado iniciou 2025, entretanto, com sinais de desaceleração: no primeiro semestre foram lançadas 3.851 unidades, o equivalente a 36% do total registrado em 2024. Ainda assim, empresários ressaltam que os fundamentos do setor permanecem sólidos, sustentando boas perspectivas para Salvador.
O dinamismo do mercado imobiliário também fica evidente no Valor Geral de Vendas (VGV) na capital baiana. Entre 2021 e 2024, o volume comercializado saltou de R$ 2,55 bilhões para R$ 4,61 bilhões, expansão de 80,7% em apenas quatro anos.
O avanço foi constante: 16,5% em 2022; 17,6% em 2023; e um salto ainda maior em 2024, de 31,8% sobre o ano anterior. Em 2025, mesmo com sinais de acomodação, o setor já movimentou R$ 2,96 bilhões no primeiro semestre, o que corresponde a 64,3% de todo o resultado do ano passado – sinal de que, apesar do ajuste no ritmo de lançamentos, a cidade mantém fôlego no volume de vendas. “Desde 2022, temos observado um crescimento de lançamentos entre 10% e 20% ao ano, números bastante relevantes”, reforça o presidente da Ademi-BA, Cláudio Cunha (Leia a entrevista completa na página 5).
Na avaliação de Alexandre Landim, presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA), Salvador mantém posição de destaque entre os destinos mais atrativos para investidores.
“O nosso mercado é muito resiliente. Quando se fala em Bahia, e em especial em Salvador, sempre há referência a um destino seguro para bons investimentos imobiliários. Mesmo com os juros nos patamares atuais e os desafios do cenário econômico, a procura por imóveis na cidade segue alta”, destacou.
Segundo ele, esse movimento tem sustentado a valorização dos preços diante do número de lançamentos. “O Brasil está redescobrindo a cidade — como destino de investimento, alternativa de moradia e oportunidade de qualidade de vida”, afirmou.
Landim lembra que, após a pandemia, houve uma mudança na percepção da população sobre a moradia. “Passamos a ressignificar o imóvel, pensando em qual seria o ideal para morar. Em seguida, veio o segundo movimento: decidir onde morar. Houve até um processo de interiorização do mercado, mas Salvador voltou a ser atrativa pelas características da cidade, pelo valor, pela oferta e pela qualidade dos imóveis”, completou.
Cláudio Cunha também avalia que o período da pandemia foi favorável ao mercado imobiliário da cidade. “Tivemos um movimento muito grande de pessoas de outros estados que escolheram morar aqui”, afirmou, destacando fatores como o clima, a infraestrutura, a ampla rede hospitalar, a culinária e “as praias maravilhosas e a temperatura da água”.
Preços atrativos
Um dos grandes atrativos para se comprar imóvel em Salvador ainda é o preço, mesmo quando comparado a outras capitais do Nordeste.
Francisco Helder Sampaio, vice-presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Bahia (Creci-BA), destaca essa vantagem competitiva. “Nós temos aqui em Salvador, estúdios ainda na faixa de R$ 11 mil a R$ 12 mil o metro quadrado, enquanto em São Paulo não se encontra por menos de R$ 20 mil”, explicou.
Para ele, esse cenário mantém o mercado local aquecido e garante boas oportunidades para profissionais e investidores. “A Bahia está muito confortável nesse sentido. Temos muito mercado, muito espaço para crescer e, graças a Deus, bastante oportunidade de negócio, com corretor ganhando dinheiro e ajudando a realizar investimentos”, completou.
Landim concorda com o vice-presidente do Creci. “Em algumas cidades litorâneas de Alagoas, Pernambuco e até da Paraíba, o valor médio do metro quadrado chega a ser superior ao nosso. É verdade que, em locais com pouca oferta, esse preço médio pode ficar distorcido, mas, ainda assim, Salvador se mantém competitiva”, explicou.
Ele acrescentou que o mercado baiano se diferencia de outras capitais nordestinas pelo volume de negócios realizados. “Hoje, a Bahia concentra o maior volume de vendas do Nordeste. Essa dinâmica explica, inclusive, o crescimento dos imóveis voltados para investimento, seja para estadia, locação por temporada ou segunda moradia. Salvador continua sendo um destino muito cobiçado”, afirmou.
Mudanças na cidade
Para o economista Armando Avena, o dinamismo do mercado imobiliário em Salvador também está ligado às mudanças estruturais recentes na cidade. “As modificações urbanas estão gerando um novo fôlego para a construção civil. Áreas como Jaguaribe, Patamares, Armação e o Horto Florestal vêm recebendo mais empreendimentos, assim como a Graça e regiões no entorno do Caminho das Árvores”, explicou.
Avena lembra ainda que a mobilidade urbana impulsionou a valorização de certas regiões. “O metrô transformou a Paralela em um eixo atrativo para moradia. Ali surgiram novos bairros planejados, como o Loteamento Aquarius, consolidando a região como polo residencial de alto valor”, completou.
No campo econômico, ele reforça que 2024 foi um ano excepcional para a construção civil. “Tivemos crescimento expressivo, geração de emprego e uma confiança maior do setor produtivo. Foi um dos melhores anos da última década para a construção civil em Salvador”, avaliou.
O cenário de 2025, entretanto, já mostra sinais de desaquecimento, principalmente por conta da política monetária. “Desde o segundo semestre de 2024, a elevação dos juros passou a inibir os lançamentos. Hoje, a taxa real da economia brasileira gira em torno de 12%, enquanto a chamada taxa neutra — que estimula a compra de imóveis residenciais — estaria próxima de 7% a 8%. Com juros tão altos, o mercado naturalmente perde fôlego.”
Ainda assim, Avena acredita que a tendência de longo prazo segue positiva. “As condições estruturais continuam favoráveis: Salvador tem demanda reprimida, preços competitivos e melhorias urbanas que fortalecem sua atratividade. O cenário é de cautela em 2025, mas de otimismo no horizonte”, concluiu.
Visão do mercado
Para Viviane Fonseca, diretora da JVF Empreendimentos Imobiliários, a força do setor está diretamente ligada à relevância que o imóvel ocupa na vida das pessoas. “A valorização e o crescimento do mercado imobiliário se sustentam porque o imóvel tem um papel central, seja como primeira moradia, alternativa de aluguel ou símbolo de ascensão econômica e social. Além disso, ele é também uma excelente opção de investimento”, afirmou.
Segundo ela, essa característica explica a resiliência do setor mesmo diante de crises. “O imóvel é eternamente importante na vida das pessoas. É isso que torna o mercado sólido e capaz de reagir rapidamente a momentos de instabilidade. Existe uma demanda permanente, e é isso que garante ao mercado imobiliário a capacidade de se ajustar e continuar crescendo mesmo em cenários macroeconômicos desafiadores”, completou.
Na avaliação de Lúcio Campos, gerente de vendas da JVX Empreendimentos, o dinamismo é visível em diferentes pontos da cidade. “O aumento no número de lançamentos é evidente. Se você olhar por zona, vai perceber que em toda área de investimento imobiliário há pujança de crescimento. A região do Horto, por exemplo, está em forte expansão; na Barra também há muitos lançamentos; e Jaguaribe se consolidou como a bola da vez da cidade”, afirmou.
Campos destaca que, apesar do ritmo intenso de lançamentos, a velocidade de vendas ainda depende da faixa de preço do imóvel. “Até R$ 400 mil, o giro é bem mais rápido porque esses imóveis se enquadram no Minha Casa Minha Vida, com juros menores e condições mais acessíveis. Acima desse valor, a alta dos juros se torna um grande desafio, comprometendo a renda do comprador”, observou.
Na avaliação do executivo, isso afeta diretamente a decisão de compra. “Um financiamento de longo prazo, de 30 anos, com juros acima de 1% ao mês, pesa demais no orçamento. Muitas vezes o cliente até se aperta para manter o pagamento, mas a inadimplência acaba surgindo. Por isso, o segmento de imóveis até R$ 400 mil tem dinâmica muito mais acelerada do que os demais”, concluiu.
Impacto da taxa de juros
Landim exemplifica como as taxas de juros no país afetam a venda de imóveis: “Quem quer pegar um financiamento de R$ 200 mil terá uma prestação de R$ 2 mil a R$ 2,5 mil, precisando de uma renda mensal entre R$ 8 mil e R$ 10 mil. Considerando a taxa de juros de 12%, atualmente apenas cerca de 5 milhões de famílias conseguem arcar com esse compromisso”.
Se a taxa de juros cair para 10%, o mercado cresce cerca de 50%, diz ele. “E se reduzir para um dígito, próximo de 8%, praticamente dobramos o mercado. Por isso, o setor imobiliário depende muito da estabilidade e das condições de financiamento”, afirmou.
Apesar das turbulências externas, Landim mantém perspectiva otimista: “Os sinais que temos são bons. As pessoas continuam formando famílias, então existe uma demanda recorrente que não pode ser negligenciada. E Salvador ainda tem margem, se comparada a outras capitais, para valorização dos preços. Portanto, neste momento, continua sendo uma boa hora para comprar imóvel”, finalizou.
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