A TARDE AGRO
Bahia Farm Show festeja conquistas do oeste do estado
Quatro dos 30 municípios com maior valor de produção agrícola no Brasil estão na região
Por Mário Bittencourt

Após meio século da chegada dos primeiros agricultores no oeste da Bahia, o que se vê hoje é uma agricultura moderna, sustentável, pujante e que tem auxiliado a região a superar grandes desafios socioambientais. Este avanço e suas conquistas serão celebrados durante a 19ª edição da Bahia Farm Show, maior feira de tecnologia agrícola do Norte-Nordeste e uma das principais do País. O evento será realizado de 9 a 14 de junho, no município de Luís Eduardo Magalhães.
Com expectativa de superar os R$ 11 bilhões em negócios gerados em 2024, a edição deste ano tem como tema “Agro Inteligente, Futuro Sustentável” – um chamado à conscientização e engajamento dos produtores rurais ao novo cenário, que exige investimento constante em inovação e boas práticas agrícolas.
De acordo com Moisés Schmidt, presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) – entidade realizadora da Bahia Farm Show –, um dos objetivos da feira é ampliar as parcerias para reunir empresas com avançadas tecnologias do setor agrícola. “Além do tradicional maquinário agrícola, teremos startups com soluções inovadoras em inteligência artificial, energia renovável e agricultura de precisão, que integram a sustentabilidade ao agronegócio”, destaca.
A Bahia Farm Show é realizada pela Aiba, com apoio da Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa)), Fundação de Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento do Oeste Baiano (Fundação Bahia) e Associação dos Revendedores e Representantes de Máquinas, Equipamentos e Implementos Agrícolas do Oeste da Bahia (Assomiba).
Para a edição de 2025, a organização ampliou a estrutura física da feira e criou um dia extra de programação oficial, com abertura na segunda-feira. O evento será realizado em um espaço de 246 mil metros quadrados, com ruas asfaltadas, galpões cobertos, auditórios climatizados, pista de test drive, áreas de lazer e espaço kids.
A expectativa este ano é manter o ritmo de crescimento do evento. A aposta é no fortalecimento das startups e tecnologias ligadas à automação, à inteligência artificial e às práticas sustentáveis ao longo de toda a cadeia produtiva – do plantio à comercialização da safra.
Reflexo do avanço
A Bahia Farm Show é um reflexo dos números do agro na região. De acordo com a pesquisa Produção Agrícola Municipal, divulgada pelo IBGE com dados de 2023, quatro dos 30 municípios com maior valor de produção agrícola no País estão no oeste baiano.
São Desidério, com R$ 7,789 bilhões, figura no 2° lugar do ranking nacional. Em seguida, vêm Formosa do Rio Preto (R$ 5,789 bilhões, 7° lugar), Barreiras (R$ 3,116 bilhões, 24°) e Correntina (R$ 3,027 bilhões, 28°). Juntos, esses municípios movimentam mais de R$ 19,7 bilhões, colocando a Bahia em posição de destaque no cenário do agro nacional.
Segundo o supervisor de Agropecuária do IBGE na Bahia, Rodrigo Anunciação, a região concentra o maior grau de tecnicidade do estado, com uma produção que avança ano após ano. “A produtividade tem crescido com o aprimoramento constante de técnicas como irrigação e melhoramento genético. A estação máxima da capacidade produtiva está no oeste”, afirma.
Anunciação destaca que a região é responsável por cerca de um terço da produção de soja, algodão e milho da Bahia. Em 2023, o estado teve a maior produtividade de soja do País, com 67,38 sacas por hectare, à frente de Mato Grosso e Goiás. O algodão, embora com menor volume que o Mato Grosso, se destaca pela qualidade e rendimento superior.
Novas culturas também vêm ganhando espaço com alta performance. “O cacau, por exemplo, está sendo cultivado no oeste em sistemas mais tecnológicos, a pleno sol, com fertirrigação, o que reflete num rendimento acima da média tradicional da Bahia. A produtividade já chega a 2.000 kg por hectare em Riachão das Neves”, explica.
Essa diversidade produtiva também é percebida nas diferentes realidades dos municípios. Em Formosa do Rio Preto, por exemplo, o agro é dividido entre a produção em larga escala nas serras e o trabalho dos pequenos produtores na região dos Gerais.
“Temos grandes produtores com agricultura altamente técnica, mas também valorizamos as comunidades tradicionais que cultivam milho e mandioca, e mantêm produções de cachaça artesanal”, descreve o secretário municipal de Agricultura, Nivaldo Barreto de Santana Filho.
Já o secretário de Agricultura e Tecnologia de Barreiras, Joaquim Neto, destacou a importância das ações voltadas para os pequenos produtores do Vale do Rio Grande, que enfrentam desafios distintos em relação à agricultura empresarial do cerrado. “Estamos trabalhando para inserir esses produtores na tecnologia disponível, com projetos como irrigação, piscicultura e até a introdução do cacau como alternativa de renda”, disse Neto.
Segundo ele, a prefeitura busca a regularização fundiária e a facilitação do acesso ao crédito. “O maior gargalo hoje é a parte documental. Estamos mobilizando técnicos para ajudar nessas etapas”, completou. Uma ação recente foi a implantação de unidade de beneficiamento de pescado, que deve alavancar a piscicultura local, setor no qual Barreiras já é o 2° maior produtor da Bahia em tanque escavado.
Em São Desidério, os desafios são outros. De acordo com Filipe Gusmão Oliveira, secretário municipal de Agricultura, a produção de soja deste ano foi afetada por pragas como a mosca-branca e a vaquinha. “O clima também foi instável: choveu no início, parou no meio e voltou na época da colheita, quando não era para chover. Apesar disso, com tecnologia, conseguimos amenizar os impactos”, relata.
Ele também ressalta as dificuldades enfrentadas pela agricultura familiar: “Falta tecnologia e mercado. Muitos dependem das compras públicas, como o PNAE [Fundo Nacional de Alimentação Escolar] e o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos]. Fora desses programas, enfrentam atravessadores e preços muito baixos”. De acordo com Oliveira, participam do processo de comercialização do PAA em São Desidério 20 produtores individuais, duas associações e uma cooperativa, que, em 2024, receberam R$ 443.942,46.
O município, segundo ele, tem investido em infraestrutura com apoio de fazendeiros e recursos próprios. “Melhoramos estradas importantes para o escoamento da produção, como as que ligam Roda Velha I, II e III”, acrescenta. A agricultura de precisão também ganha espaço na região, com destaque para o uso de drones em pulverizações noturnas, horário em que as plantas absorvem melhor os insumos. “Isso gera economia e maior eficiência. Na agricultura familiar, usamos produtos biológicos, que são menos agressivos e mais sustentáveis”, diz o secretário.
Apae ganha nova vida com ajuda do agro em Formosa do Rio Preto
O desenvolvimento do agro tem se refletido também em ações sociais. A Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Formosa do Rio Preto, por exemplo, ganhou nova vida com apoio direto da Aiba, por meio do Fundesis (Fundo para o Desenvolvimento Integrado e Sustentável da Bahia).
“Até 2020, a Apae quase não tinha aqui. Com os recursos do Fundesis, conseguimos construir e equipar uma unidade bem estruturada”, afirma Cláudio Barbosa dos Santos, presidente da entidade.
A instituição, que atende a cerca de 200 famílias, já recebeu quatro anos consecutivos de apoio, sendo R$ 80 mil a cada ano. “No primeiro ano, fizemos a primeira parte da sede. Em 2022, concluímos a área de 450 m². Depois construímos uma piscina de hidroterapia com 48 m³. Este ano, estruturamos o forro em PVC, colocamos energia solar, ar-condicionado e pisos novos em todas as salas”, detalha.
O valor mais recente permitiu montar uma sala de costura equipada com máquinas overlock. “Tudo isso só foi possível graças ao agro. O setor tem sido nosso maior parceiro”, reforça Cláudio.
Para o presidente da Apae, essa parceria entre o setor agrícola e instituições mostra que o desenvolvimento rural pode estar atrelado ao fortalecimento social. “Em Formosa do Rio Preto, essa conexão já é uma realidade”, disse.
“Se essas famílias que nós atendemos tivessem que tirar do bolso delas o atendimento que recebem aqui teriam de gastar entre R$ 4 mil a R$ 5 mil por mês. E aqui é tudo de graça”.
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