A TARDE AGRO
Microcrédito estimula e amplia protagonismo feminino no campo
Medida busca fortalecer a produção agroecológica e garantir segurança alimentar
Por Venicius Rodrigues*

Com a entrada em vigor do Plano Safra 2025/2026, mulheres rurais da Bahia passam a contar com novas condições de microcrédito voltadas à implantação e ampliação de quintais produtivos — pequenos espaços ao redor das casas que integram hortas, pomares, criação de animais e cultivo de plantas medicinais. A iniciativa, por meio do Novo Pronaf B Quintais Produtivos, oferece até R$ 20 mil em crédito com juros de apenas 0,5% ao ano e bônus de adimplência de até 40%, configurando uma das políticas públicas mais vantajosas para a agricultura familiar nos últimos anos.
Voltada a produtoras de baixa renda, a medida busca fortalecer a produção agroecológica, garantir segurança alimentar e ampliar o protagonismo feminino no campo. Na Bahia, iniciativas como essa ganham força principalmente em regiões do semiárido, onde os quintais já desempenham papel essencial na geração de renda, diversificação da alimentação e preservação de saberes tradicionais. A expectativa é que o acesso facilitado ao crédito e à assistência técnica contribua para ampliar a escala produtiva e consolidar os quintais como estratégia central de desenvolvimento rural sustentável.
A nova linha de crédito voltada aos quintais produtivos deve ampliar a produção, o consumo próprio e a geração de renda nas áreas rurais da Bahia, especialmente entre as mulheres. “Ela vai produzir, vai consumir e vai ter muito mais excedente agora porque acessou o crédito — e esse excedente ela vai levar para as feiras livres, vai levar para os mercados convencionais, vai vender na própria casa”, afirma Jeandro Ribeiro, diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR).
A atuação do Banco do Nordeste, por meio do programa Agroamigo, tem sido essencial para garantir que o crédito chegue às mulheres do campo com acompanhamento técnico e proximidade. “As famílias com DAP ou CAF, enquadradas no Pronaf B, podem acessar até R$ 20 mil, com juros de apenas 0,5% ao ano e bônus de adimplência de até 40% no semiárido”, afirma Pedro Lima Neto, superintendente da instituição na Bahia. Segundo ele, o banco contratou cerca de R$ 2,2 bilhões em operações com agricultores familiares baianos no ciclo 2024/2025, alcançando quase 150 mil famílias — mais da metade compostas por mulheres. Para o novo Plano Safra, a previsão é ampliar esse volume para R$ 2,3 bilhões, com a abertura de um novo escritório regional em Irecê e expansão da equipe de assessores.
Semiárido baiano
O fortalecimento dos quintais produtivos no semiárido baiano passa também pelo reconhecimento do papel estratégico das mulheres nesse modelo de produção. Para Márcia Muniz, coordenadora Programa Semiárido do Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (Sasop), esses espaços contribuem de forma decisiva para a segurança alimentar das famílias e, em alguns casos, geram excedentes que são comercializados ou compartilhados nas comunidades. “É um espaço onde as mulheres conseguem produzir hortaliças, plantas medicinais e criar pequenos animais, como galinhas e cabras”, afirma.
A experiência de Jucilene Soares, agricultora que decidiu iniciar uma horta no sítio do pai após concluir os estudos e não conseguir emprego, ilustra a importância dos quintais produtivos para a autonomia econômica de mulheres rurais. “Hoje o quintal produtivo representa a nossa única fonte de renda. Com essa renda, mantemos a horta, todas as despesas da casa e temos o privilégio de ter em nossa mesa alimento saudável produzido na nossa terra”, conta. Integrante de uma associação de lavradores, ela recebe assistência técnica no cultivo das hortaliças e ressalta os principais desafios enfrentados: “As mudanças climáticas, a dificuldade com a água, as pragas e o custo elevado dos adubos”.
Com a nova linha de crédito do Pronaf B e o fortalecimento das políticas públicas voltadas à agricultura familiar, os quintais produtivos ganham novo impulso na Bahia. Unindo geração de renda, segurança alimentar e protagonismo feminino, esses espaços seguem transformando realidades em diferentes territórios do estado. Ainda que desafios como o acesso à água e a ampliação da assistência técnica persistam, a articulação entre instituições, governo e organizações sociais, segundo os especialistas, aponta para um cenário promissor de inclusão produtiva no campo.
* Sob a supervisão da editora Cassandra Barteló
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