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PRODUÇÃO DIVERSIFICADA

Pesquisa viabiliza ampliação de culturas no campo

Agricultores têm mais chances de enfrentar situações inesperadas do mercado

Por Miriam Hermes

07/05/2025 - 9:00 h
Área de pesquisa da Ufob na cidade de Barra
Área de pesquisa da Ufob na cidade de Barra -

A pesquisa agropecuária é uma das bases para ampliar o número de culturas no campo, bem como melhorar as práticas na agricultura e na pecuária visando a sustentabilidade ambiental e econômica nas propriedades e na região produtora.

A Bahia se destaca na produção rural brasileira não apenas pelos volumes e qualidade, mas também pela diversificação. Com duas realidades distintas, inclusive no regime de chuvas, o oeste do estado se caracteriza pela caatinga na planície do São Francisco e o cerrado no planalto, na divisa com Goiás e Tocantins, com faixas de transição.

A região, que ainda no Brasil Colônia foi destinada principalmente para a criação de gado e cultivo de cana nos territórios próximos aos rios, começou a despontar no cenário nacional com a produção de commodities, como soja, a partir da década de 1980, e algodão na década seguinte, além de cereais em menor escala, como milho, trigo e sorgo.

Gerente de Agronegócios da Associação de Agricultores Irrigantes da Bahia (Aiba), Aloísio Júnior pontuou que dentro das propriedades já consolidadas com as culturas anuais – como leguminosas, cereais e fibras em grande escala –, já é prática comum a adoção de medidas focadas na agricultura regenerativa, onde a rotação das culturas é recomendação agronômica.

Ele citou que, além da rotação, o plantio direto na palha e a integração entre lavoura e pecuária, dentre outras ações, visam a fitossanidades das plantas e conservação de recursos naturais como solo e água. Entretanto, a rotação e a diversificação das culturas não é saudável apenas para o meio ambiente. Tem reflexo positivo também na economia das propriedades e da região.

A estratégia leva em consideração que na monocultura a região depende apenas de um produto, que pode ser perdido por uma doença ou praga, seca, chuva ou queda exagerada na cotação das bolsas. Nestes casos, produtores com atividades diversas têm mais chances de enfrentar as situações inesperadas do mercado e problemas com as lavouras.

No oeste do estado, cerca de 90% das lavouras são de sequeiro. Nas áreas irrigadas, conforme Aloísio Júnior, tem proprietários que cultivam até três safras por ano, rotacionando as culturas. Sem esconder o orgulho, afirmou ainda que na região existem áreas com mais de 30 anos de plantio direto.

Para a diversificação ocorrer em grande escala, são imprescindíveis as áreas experimentais com pesquisas para seleção de novas variedades e introdução de culturas adaptadas às condições edafoclimáticas regionais.

“Trabalhar com a diversificação na exploração das culturas agrícolas é a forma de reduzir riscos (por fatores bióticos, abióticos, econômicos), promover a sustentabilidade dos agroecossistemas, melhorar a qualidade do solo, conservar a água e aumentar a produtividade”, resumiu a pesquisadora Mirian Nogueira.

Ela coordena o curso de Agronomia no campus de Barra da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), onde a equipe trabalha com diversos experimentos. Mirian acrescentou que com a diversificação “é possível a exploração de diferentes culturas em outros cenários agrícolas”.

Doutora em fitotecnia produção vegetal e pós-doutora em Ecofisiologia Vegetal com ênfase em Cafeicultura, Mirian mencionou ainda a possibilidade de utilizar diferentes práticas agrícolas “que visem a melhoria da fertilidade do solo, o uso eficiente da nutrição das plantas, o controle eficaz de doenças, pragas e plantas daninhas”.

Novas culturas

A pesquisadora ressaltou que o trabalho visa aumentar a eficiência da produção agrícola e a promoção da sustentabilidade do meio produtivo. “Com a pesquisa, é possível o desenvolvimento de novas tecnologias, bem como a adaptação de tecnologias já existentes, a adoção e adaptação de cultivares em cenários diversos, além do uso de práticas que possam ser aplicadas na produção”, afirmou.

“Realizamos pesquisas com mamona, soja, milho, algodão, algodão colorido, sorgo, girassol”, destacou a pesquisadora, pontuando que também já testaram tomate, pimentas e batata-doce. “É possível afirmar que as culturas estudadas têm capacidade de serem exploradas. Mostraram-se produtivas”, enfatizou.

Entre as dificuldades, ela citou a necessidade de fomento para a realização de pesquisas e, entre as facilidades, a localização na fronteira agrícola, com poucos estudos realizados, disponibilidade hídrica, condições climáticas que favorecem a exploração de várias culturas.

Citou as graníferas (soja, sorgo, milho, feijão, girassol, amendoim, mamona, grão de bico, café conilon), fibrosas (algodão, sisal), energéticas (cana-de-açúcar, mamona), frutíferas e hortaliças. Contam com apoio para algumas culturas específicas da Aiba, Embrapa, Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) e Associação Brasileira dos Produtores e Algodão (Abrapa).

De acordo com a pesquisadora, outros trabalhos têm abordado o uso de tecnologias para superar estresses das altas temperaturas e déficit hídrico nas culturas de milho, soja e algodão, e a adoção de bioestimulantes à base de aminoácidos, extratos de algas e manejo dos indutores de resistência.

Para Mirian, a região de Barra tem grande potencial agrícola, mas ela faz uma ressalva: “Para essa expansão aconteça, é imprescindível que a pesquisa esteja presente como peça primordial e sirva de referencial para qualquer tomada de decisão quanto à inserção e exploração de culturas diversas no contexto local”.

O pesquisador César Aquino chegou ao campus da Ufob/Barra em 2017 e começou as primeiras experiências no ano seguinte, com pesquisas com banana e manga. Focado na fruticultura, ele disse que tem áreas de teste com bons resultados, principalmente com duas variedades de uva.

Este trabalho tem financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), testando a resposta na produtividade com irrigação utilizando água residuária dos tanques de criação de peixes. “Essa água iria poluir o ambiente, se jogada direto nos mananciais. Usada como adubo na irrigação, favorece o desenvolvimento das plantas na produção de alimentos”, asseverou.

Professor de Fruticultura, Silvicultura e Agroecologia, e vice-coordenador do Curso de Agronomia Ufob/Barra, ele está animado com o trabalho. Falou sobre o potencial regional para a diversificação das culturas, destacando a importância da Ufob na formação de técnicos. “Importante a formação de mão-de-obra técnica entre os moradores desta região, ativando todo potencial existente”, concluiu.

Chefe-geral da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Francisco Laranjeira afirmou que, além do melhoramento genético para resiliência a mudanças climáticas e maior resistência a pragas, as pesquisas na caatinga e cerrado atuam em diferentes linhas, subsidiando movimentos de expansão de cultivos para os dois biomas.

Entre os destaques na caatinga/Vale do São Francisco, ele citou a fruticultura irrigada com tecnologias de eficiência hídrica, “que seguem a tendência de crescimento de áreas citrícolas para polos de irrigação do semiárido”. Para o cerrado, as novidades são pesquisas com abacaxi e caju, e experimentos com pitaya e frutas outras exóticas para exportação.

Sobre novas culturas com potencial de diversificação para o oeste baiano, Laranjeira disse que, além das já citadas, tem ótimos resultados com as superfrutas como umbu e licuri. Outra aposta para o nicho sustentável é o sistema agroflorestal com espécies nativas, a exemplo de cajá e seriguela para produtos orgânicos e agroecológicos.

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