COLUNA
Repensando a execução da pena à luz do Método APAC
Confira coluna Amab em Foco desta sexta
Por Antonio Carlos Maldonado Bertacco, Juiz da Vara de Execuções Penais de Itabuna (BA)

Diante do aumento da criminalidade no Estado da Bahia, torna-se imperativo que o poder público e a sociedade civil organizada busquem alternativas viáveis e eficazes para enfrentar esse grave problema social.
A mera expansão do sistema penitenciário tradicional, caracterizado por altos índices de reincidência, superlotação e condições degradantes, revela-se, ano após ano, uma resposta insuficiente.
Nesse cenário, o método da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC), fundamentado no art. 4º da Lei de Execução Penal, desponta como uma alternativa promissora.
A APAC adota um modelo de gestão prisional diferenciado, alicerçado na valorização da pessoa humana, na corresponsabilidade e na participação ativa da comunidade no processo de reintegração social do recuperando. Trata-se de um método que rompe com a lógica atual e adota uma abordagem restaurativa e humanizada, sem prescindir da disciplina, da ordem e da segurança.
Os resultados obtidos com a metodologia apaqueana são expressivos e merecem atenção. Enquanto o sistema penitenciário convencional registra reincidência próxima a 70%, as unidades APAC apresentam média de apenas 13%. Além disso, o custo por recuperando nessas unidades equivale a cerca de um terço do valor gasto nas penitenciárias tradicionais, representando não apenas um ganho social, mas também uma solução economicamente mais viável para os cofres públicos.
A APAC parte do princípio de que “ninguém é irrecuperável” e oferece instrumentos concretos para a reabilitação do condenado, como trabalho, estudo, assistência espiritual e envolvimento familiar e comunitário. Tais ações contribuem decisivamente para a reinserção social e a redução da criminalidade.
A implementação de unidades APAC na Bahia pode representar um divisor de águas na política criminal local. Com o apoio do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria Pública, da OAB, do Executivo e da sociedade civil, é possível consolidar um modelo de execução penal que promove justiça, reduz a criminalidade e assegura a dignidade humana.
Registre-se que foram realizadas três audiências públicas para debater a viabilidade da adoção do método APAC na Bahia. Os encontros ocorreram em Salvador, Ilhéus e Itabuna, por iniciativa do Ministério Público estadual, em parceria com o Tribunal de Justiça, a Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC), o Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (GMF/TJBA) e a Defensoria Pública. Essas discussões evidenciam o compromisso institucional com soluções efetivas para o sistema prisional baiano.
Atualmente, existem 69 unidades APAC em funcionamento no Brasil, espalhadas por diversos estados, além de 7 no exterior — o que atesta sua viabilidade e reconhecimento internacional.
Diante do atual cenário, é urgente enfrentar a violência com inteligência, responsabilidade e coragem para adotar soluções inovadoras. O método APAC já demonstrou sua efetividade em diferentes regiões do Brasil e do exterior. Chegou a hora do Estado da Bahia também repensar, a execução da pena.
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