DIA DOS PAIS
5 mudanças da paternidade dignas de cinema
O artigo do escritor René Breuel aborda, com humor e sinceridade, como a chegada dos filhos transforma a rotina e a identidade dos pais
Por René Breuel*

O primeiro Dia dos Pais costuma marcar um antes e depois na vida de muitos homens. Para mim, não foi diferente. Quando meu primeiro filho nasceu, comecei a experimentar a vida de maneira transformada: com olheiras mais fundas, sim, mas também com um senso de propósito mais profundo.
Como tantos outros pais que estão vivendo (ou revivendo) essa fase agora, percebi que a presença de um bebê transforma não só a rotina, mas também a nossa identidade. Acordar, sair de casa, almoçar... tudo ganha um novo tom, muitas vezes tragicômico.
É como se um diretor invisível tivesse mudado o gênero do filme da nossa vida, de drama existencial para comédia paterna, com pitadas de musical, terror e, nos dias difíceis, até suspense psicológico.
Aqui vão cinco momentos em que meus filhos mudaram quem eu sou para sempre:
- Acordar – um ato dramático: Um melodrama era encenado em minha cabeça, no qual eu era o Pai Trágico e Sofredor, vítima do próprio destino – até eu encontrar o meu filho. Ele deitava no berço tão gostosinho que a sua presença era suficiente para transformar minha tragédia em um musical da Broadway. Eu contemplava o dia à minha frente com um novo senso de destino. O que traria o dia de hoje?
- Trocar fraldas – uma cena de terror: É isso que o dia trazia. O filme da minha vida, que parecia tão promissor, logo entrava no gênero trash: texturas medonhas, cheiros enjoativos, sustos dramáticos e o lixo.
- Sair de casa – uma aventura nova todo dia: Já não podia mais entrar no carro e dirigir enquanto a mente se distraia com outras coisas. Agora, estava numa operação que exigia precisão militar. Nesses momentos, o dia parecia uma aventura, em que o protagonista descobria um admirável mundo novo, encontrava ameaças à sua sobrevivência e curtia a companhia de seu parceiro adulto.
- Almoçar – uma comédia indigesta: A minha esposa e eu não podíamos mais comer como antes. Muitas vezes, o almoço era interrompido por choros, amamentação e troca de fraldas sujas. No começo, achei difícil voltar a comer depois de tocar e sentir o cheiro de cocô, mas digamos que os seres humanos são notavelmente versáteis.
- Desesperar-se à tarde – um drama existencial: A combinação de um recém-nascido frágil e um pai emocionalmente despreparado transformava minhas tardes em abismos sem esperança. Eu estava exausto. Tudo era sombrio. Em alguns dias, eu me encontrava tão carente de energia física e consolo emocional que comer Nutella com a colher parecia algo que um adulto esclarecido fazia numa boa. O resultado foi uma gravidez masculina pós-parto.

*René Breuel é um escritor brasileiro que mora em Roma, na Itália. Autor da obra Não é fácil ser pai (Mundo Cristão), possui mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em Teologia pelo Regent College, no Canadá. É casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.
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