ARTIGOS
A Câmara contra a sociedade
Confira o artigo de Cláudio André de Souza

Por *Claudio André de Souza

A semana passada terminou com dois movimentos que ajudam a explicar por que a confiança no Parlamento anda sistematicamente em baixa. A Câmara dos Deputados aprovou, em primeiro turno, a chamada PEC da Blindagem, que amplia a imunidade de deputados e senadores e cria novos obstáculos para que sejam investigados. No mesmo ritmo, a maioria dos parlamentares avançou a PEC da Anistia, desenhada para aliviar ou até perdoar os condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, incluindo o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro.
A PEC da Blindagem foi patrocinada pela direita, que mandou sinais claros de preocupação com a possibilidade de responder a crimes. O PL bolsonarista votou em bloco a favor e partidos como Avante, Novo, PP, PRD, Podemos, Republicanos, Solidariedade e União Brasil garantiram 93% dos votos. Já PSD, MDB, PSDB e Cidadania entregaram 70% de apoio à medida.
O que os deputados não contavam foi a reação da sociedade, que se deu em tempo recorde, em movimento semelhante ao gerado pelo tarifaço. Na ocasião, Lula conseguiu reaproximar-se do eleitorado de centro com a defesa da soberania. Agora, a blindagem recoloca a oposição contra as cordas, pois, reforça a percepção de que deputados buscam privilégios e se colocam acima da lei. Isso ocorre justamente quando pesquisas recentes apontam que a maioria da população está contra o orçamento secreto, a farra das emendas pix e escândalos de corrupção associados à direita.
O mesmo viés aparece na PEC da Anistia, que nasceu como bandeira do bolsonarismo mais radical, mas foi acolhida por parte expressiva da oposição, que prefere surfar na narrativa da perseguição a enfrentar os custos de defender o golpe. Agora se tenta suavizar penas, como se fosse possível relativizar a gravidade de um atentado contra as instituições. Em paralelo, lideranças da direita vendem a ideia de que o perdão seria necessário para “pacificar” o país, quando, na verdade, buscam salvar Bolsonaro para seduzir eleitoralmente o bolsonarismo e tentar emplacar um novo líder para a presidência em 2026.
Os atos com milhares de pessoas contra a blindagem e a anistia aos golpistas marcaram o domingo (21) em diversas cidades, numa estratégia da esquerda de reocupar as ruas e medir diretamente forças com a direita. O impacto vai além da militância: mais uma vez impõe a Lula liderar posições em sintonia com o eleitorado pragmático de centro, que já não confia no Parlamento, independentemente de quem ocupe a Presidência. Se não bastasse o tarifaço, a direita reafirma que tem políticos virando as costas para o povo, um perigo quando se tem do outro lado um líder popular e seu partido, que ganharam ou ficaram em segundo lugar em todas as eleições presidenciais desde 1989.
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