ARTIGOS
A força da memória é a mais atual das nossas armas políticas
Confira o artigo de Felipe Freitas
Por Felipe Freitas*
Em meio às tensões globais sobre a democracia, o Brasil segue diante do desafio de revisitar sua história e pavimentar um caminho de respeito à memória; verdade e justiça. O filme ‘Ainda estou aqui’, lançado este mês, nos cinemas, é mais uma contribuição para revermos nossa tradição autoritária, renovarmos a esperança na força do nosso povo e, ainda, sentirmos muito orgulho da excelência do cinema nacional.
Ao contar a linda história de Eunice Paiva, viúva do ex-deputado Rubens Paiva, morto pela ditadura, o filme nos traz um duro retrato do impacto negativo da ditadura sobre a dinâmica das famílias brasileiras; sobre os sonhos de liberdade de uma geração e sobre as possibilidades de nos afirmarmos efetivamente como uma nação livre e soberana. É um filme sobre família; sobre mulheres. É um filme sobre o cotidiano.
A ditadura militar representou uma grave cisão no interesse nacional. A perseguição política massiva fraturou famílias; interrompeu trajetórias e impediu que o país se encontrasse com suas efetivas possibilidades de desenvolvimento, gerando barreiras políticas imensas à prosperidade e à consolidação de um vigoroso projeto nacional. Daí a importância de iniciativas como a Comissão de Mortos e Desaparecidos - que retomou o seu trabalho recentemente sob a liderança da ministra Macaé Evaristo - e da Comissão Nacional da Verdade, corajosamente criada na gestão da presidenta Dilma.
Construir uma política sólida de preservação da memória das lutas e da resistência política em nosso país é um imperativo ético para gestores públicos, ativistas políticos e para a sociedade brasileira em geral. Seja para prevenir novos arroubos autoritários, seja para celebrar a identidade e as bases históricas do nosso povo, uma política de memória e verdade é uma urgência na agenda democrática do mundo globalizado.
Resgatar histórias de resistência, como as da advogada Eunice Paiva, das lutas libertárias da Revolta dos Búzios ou do revolucionário nacional Carlos Marighella, cujo assassinato completou 55 anos no último dia 04, são formas de refazer nosso projeto de país e apostar coletivamente na força criadora da memória como instrumento para aprimorar nossa experiência social.
Num tempo em que terroristas explodem-se para pôr em risco as instituições democráticas, e que autoritários esmeram-se para defender anistia para golpistas, a força da memória é a mais atual das nossas armas políticas. Um antídoto poderoso contra o esquecimento e um renovador alimento para nossas lutas por um futuro melhor.
*Secretário de Justiça e Direitos Humanos do Estado da Bahia
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