ARTIGOS
Bahia, um estado chamado África
"A Conferência da Diáspora foi um marco de renovação e fortalecimento dos nossos compromissos"
Por Ângela Guimarães*
A Conferência da Diáspora Africana nas Américas chegou ao fim ontem em Salvador. Foi um encontro histórico. Durante três dias, acolhemos lideranças, intelectuais, ativistas e representantes dos países africanos e da diáspora africana de diversas partes do mundo, unidos pelo compromisso de fortalecer laços históricos e culturais, preservar nossa memória coletiva e avançar na agenda de reparações históricas.
O Pan-africanismo, tema central do evento, expressa nossa unidade enquanto povo, independentemente das fronteiras geográficas. Compartilhamos uma história comum de resistência, lutas e conquistas ao processo de imposição do colonialismo e escravismo, e juntos, somos mais fortes na busca por um mundo mais justo e equitativo.
Hoje, enfrentamos novas formas de colonialismo, não mais pela força, mas sobretudo por meio da imposição de modelos econômicos liberalizantes, culturais e comunicacionais que marginalizam o continente africano e suas diásporas. Precisamos resistir a essas novas formas de dominação, por meio da conformação de blocos políticos que atuem em espaços ampliados de governança global que definem o futuro do planeta.
Diplomacia, cooperação técnica, educacional, científica e tecnológica, relações econômicas e comerciais, além de intercâmbios culturais, são ferramentas poderosas para construir pontes e desenvolver parcerias que beneficiem os povos em ambos os lados do Atlântico. O racismo estrutura as desigualdades intra e entre os países, afetando africanos e afrodescendentes, especialmente as mulheres. Assim, uma agenda de desenvolvimento econômico e sustentável, mitigação das mudanças climáticas, distribuição de renda e direitos humanos deve necessariamente incluir o compromisso com a justiça racial.
O tema das reparações é um dos mais desafiadores e urgentes em nossa agenda. Trata-se de reconhecer e corrigir os danos profundos e duradouros causados pela escravidão, colonialismo e exploração que ainda impactam nossos povos. As reparações envolvem medidas políticas, econômicas, sociais e culturais para corrigir desigualdades estruturais e promover justiça.
A Conferência da Diáspora Africana nas Américas foi um marco de renovação e fortalecimento dos nossos compromissos. Um encontro que resultou em propostas concretas, parcerias sólidas e energia renovada para continuar a luta por justiça, igualdade e dignidade para todos os povos africanos e afrodescendentes.
Levaremos suas resoluções para o grande e esperado 9º Congresso da União Africana, que acontecerá em Lomé, no Togo, próximos dias 29 de outubro e 2 de novembro, com a certeza de que estaremos descortinando uma nova fase na implantação de uma agenda de fortalecimento do pan-africanismo e reparações em planos local e global.
*Ângela Guimarães é Secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais da Bahia
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