ARTIGOS
Bênção e apelo pelo Centro Histórico
Confira o artigo de Clarindo Silva

Por Clarindo Silva

Gostaria de começar este escrito agradecendo a Deus, a todos os Santos da minha Bahia de Todos-os-Santos, às forças da natureza e a todos os espíritos de luz pelo grande sucesso da retomada da Festa da Bênção, no último dia 7 de outubro. Naquela noite, nosso Pelourinho voltou a brilhar com a grandeza e o encanto das terças-feiras das décadas de 1980 e 1990, quando a sociedade baiana ocupava as ruas do Centro Histórico e celebrava a vida entre o cravinho e a Gabriela do dia.
Recordo com saudade a antiga Praça do Reggae, hoje destruída e transformada em pasto, quando antes era um espaço de encontro, música e reflexão. Ali, além do reggae e da boa comida, havia palestras, debates e exibição de filmes como A Resistência da Lua, do cineasta Otávio Bezerra. À frente da praça, estava o amigo Albino, ladeado por boxes diversos, como o de Wilson, que animavam o coração cultural do Centro. Não tenho dúvida, meu amigo Gegê Magalhães e meu amigo Érico Brás, de que o Pelourinho voltará a ter seu brilho, com museus visitados, galerias de arte abertas, lojas vibrantes e prédios restaurados, cheios de vida e de gente morando dentro. Afinal, como repito sempre: como pode tanta gente sem casa e tanta casa sem gente?
A emoção que me toma ao falar do Centro Histórico mistura-se agora a uma tristeza profunda diante de mais uma notícia dolorosa: a venda da Casa D’Itália, um dos marcos culturais mais importantes de nossa cidade. Localizada na Avenida Sete de Setembro, a edificação em estilo eclético, com influências da arquitetura europeia, representa parte viva da memória afetiva de Salvador. E é impossível não lembrar também do restaurante Casa D’Itália, espaço de eterna lembrança, que marcou época e atravessou gerações como símbolo da autêntica cozinha italiana.
Em conversa com Luisa Talento, filha de Giuseppe Talento, ouvi dela palavras cheias de emoção sobre aquele lugar. O restaurante era mais do que um ponto gastronômico: era um símbolo de tradição, cultura e sabor, onde cada refeição era um ritual de afeto e encontro. Luisa falou com ternura do tempo vivido ao lado dos pais, num espaço que, mais do que alimentar, unia pessoas e fortalecia vínculos.
Por isso, faço aqui um apelo: que não deixemos a Casa D’Itália ser vendida sem protesto, sem mobilização e sem luta pela preservação de sua memória cultural. É urgente que o poder público, as instituições culturais, artistas e moradores unam esforços para garantir que esse patrimônio não desapareça. Um povo que não preserva o passado não vive plenamente o presente – e jamais será capaz de construir um grande futuro.
Clarindo Silva é empreendedor, jornalista, poeta, compositor, membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, escritor, doutor honoris causa, comendador das artes e da cultura da Bahia
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